Dizem que Deus põe a mão por debaixo do rabinho… mas uma portuguesa morreu no apagão — e de pedidos de desculpa, nem sinal.”

Quatro dias de silêncio, desinformação e incompetência após um apagão que paralisou a Península Ibérica. Só então o Ministério da Saúde descobriu o caso e anunciou uma auditoria à morte possivelmente provocada pelo corte de energia. (Entretanto, até o termo ‘apagão’ foi estrategicamente esquecido…)

O Ministério da Saúde anunciou, finalmente, a abertura de uma averiguação às circunstâncias da morte de uma mulher de 77 anos, que se encontrava ventilada em casa e terá falecido, alegadamente, na sequência do apagão de segunda-feira. A decisão surgiu apenas após a RTP noticiar o caso.

Segundo a família, a septuagenária morreu precisamente no dia do colapso energético, alegando que a causa foi a interrupção prolongada do fornecimento de eletricidade, essencial para o funcionamento do equipamento de ventilação.

Em pleno labirinto burocrático à portuguesa, só na quinta-feira, 1 de maio — quatro dias após o incidente — o Ministério da Saúde terá tido conhecimento da ocorrência. Numa nota sucinta enviada às redações, o ministério informou que a ministra da Saúde ordenou à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) uma auditoria para o apuramento cabal dos factos.

E assim, mesmo que “Deus ponha a mão por debaixo do rabinho”, como reza o ditado popular, nada impediu que esta mulher partisse — talvez para nos recordar que somos apenas humanos, muito longe da santidade... e ainda mais longe da responsabilidade.

Curioso é que, apesar da dimensão ibérica do apagão — com uma população espanhola cerca de cinco vezes superior à portuguesa — foi em Portugal que se registou, até agora, a única morte alegadamente ligada ao corte de energia. Estatística cruel? Coincidência? Ou reflexo da nossa fragilidade estrutural?

E o mais gritante: passados dias sem respostas claras, nem um pedido de desculpas. Nem do governo, nem da EDP, nem das operadoras de energia, nem das comunicações, nem da CP ou do Metropolitano, onde milhares ficaram retidos.

Silêncio absoluto.

Porque em Portugal, parece que nem os CEOs, nem os ministros, nem os responsáveis pelas infraestruturas se sentem obrigados a prevenir crises — muito menos a responder por elas.

Um pouco mais de vergonha na cara, educação de berço e, sobretudo, verdadeira Responsabilidade Social por parte das organizações. Eis o que, de facto, nos faz falta.