Morrer com o ferro que matou e arriscar o generalizar a guerra

Não existem inocentes no caso da guerra semita, dada a mais que milenar conflitualidade entre estes povos de origem comum, os árabes e os judeus.

Na realidade, e citando o linguista brasileiro Rosário Farâni Mansur Guérios, professor emérito da Universidade Federal do Paraná nas décadas de 1970 e 1980, o termo semita existe para designar os povos do Médio Oriente que vieram para a Mesopotâmia foi promovido pelo historiador alemão moderno August Ludwig von Schloezer, em 1871.

Schloezer investigou a partir de referências bíblicas e definiu a ascendência comum de tais povos que, apesar das diferenças religiosas e tradicionais, compartilhavam uma unidade, que, segundo o Antigo Testamento, era o fato de serem todos descendentes de Sem, filho de Noé.

Hoje, os semitas são judeus e árabes, mas na Antiguidade, esses povos eram fenícios, hebreus (judeus), babilônicos, arameus, assírios e outros que, no terceiro milênio antes de Cristo, viajaram da Península Arábica para a Mesopotâmia.

A origem da palavra semita vem de uma expressão no Gênesis e referia-se como ja se disse da linhagem de descendentes de Sem, filho de Noé.

Modernamente, as línguas semíticas estão incluídas na família camito-semítica sendo que esses povos tiveram grande influência cultural, pois que as três grandes religiões monoteístas centradas no Velho Testamento judaísmo, cristianismo e islamismo possuem raízes semitas.

Por entre as diversas migrações, não ha hoje um grupo étnico homogéneo e por isso muitas línguas compõem a família semítica, incluindo as seguintes: acadiano, ugarítico, fenício, hebraico, aramaico, árabe, etíope, gala, afar-saho, amorita e caldeu.

No meio desta conflitualidade sócio histórica nasce o antissemitismo termo que carateriza o preconceito xenofóbico contra povos de origem semita, em especial os judeus.

É neste contexto que temos de analisar esta atual guerra Islamo-judaica onde se vê surgirem brutalidades de ambas as partes todas a merecerem forte penalização internacional, agora acentuada com o assassinato terrorista de um terrorista Ismail Haniyeh, um dos lideres do Hamas!

Vejamos quem é Ismail Haniyeh ou Haniya,

Nasceu no campo de refugiados de Al-Shati (Shati), perto da cidade de Gaza filho de pais refugiados no contexto da guerra de 1948 entre Israel e os seus vizinhos árabes.

Licenciado em Literatura Árabe na Universidade Islâmica de Gaza em 1987 militou no "Bloco de Estudantes Islâmicos", precursor do Hamas.

Então nasce a Intifada, um levantamento da cidadania árabe residente nos Territórios Ocupados, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, por Israel desde 1967.

Aos 43 anos Haniya foi um dos fundadores do Hamas e foi detido pelas autoridades israelitas por participar nos protestos e mais tarde libertado.

Em 1988 voltou a ser novamente detido pelas autoridades de Israel e condenado a três anos de cadeia, mas foi libertado em 1992 e deportado para o Libano

Em 1993 regressa a Gaza, onde foi nomeado reitor da Universidade Islâmica.

Haniya e outros membros do Hamas seriam mais tarde detidos pela Autoridade Palestiniana, que considerava a ideologia e actividades do grupo (responsável pelo assassinato de civis israelitas) uma ameaça aos Acordo de Paz de Oslo.

No fim dos anos 90 tornou-se próximo do xeque Ahmed Yassin, líder espiritual do Hamas e chefiou o escritório de Yassin quando o xeque saiu da prisão em 1997.

Com o assassinato de Abdal-Aziz al-Rantisi em 2003 e do xeque Yassin em 2004 por Israel, Haniya consolidou a sua posição como líder do Hamas.

Dentro do Hamas - movimento considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e União Europeia - Ismail Haniya era apresentado como um moderado da ala política do grupo, aberto ao diálogo com Israel.

A 20 de fevereiro de 2006, Abbas aprovou a nomeação de Haniya como primeiro-ministro.

A 11 de abril de 2024, Haniya anunciou que três dos seus filhos e dois netos foram mortos em ataque das Forças de Defesa de Israel durante a guerra Israel-Hamas em Gaza.

Eis pois o exemplo de uma personalidade fortemente marcada pela conflitualidade religiosa regional desde que nasceu!

No dia 31 de julho de 2024, Haniya foi assassinado num ataque terrorista à sua residência onde estava em Teerã no Irão, onde tinha ido participar na cerimónia de posse do presidente Masoud Pezeshkian.

Olhemos pois para este conflito religioso!

Na realidade conflito entre árabes e judeus é recente, e até ao final do século XIX, judeus e diferentes povos árabes viviam como "primos" com esta convivência a estender-se até à Península Ibérica boa parte dela ocupada pelos árabes até o fim do século XV .

Na crise dos grandes impérios, ao término do século XIX, surgiram inúmeros movimentos nacionalistas tanto no Império Russo como no Império Turco-Otomano ou no Império Austro-Húngaro e entre estes novos movimentos nacionalistas estavam o nacionalismo árabe, que defendia a criação de um grande Estado árabe independente dos turcos e o movimento sionista, defensor da volta dos judeus à Palestina dispersos que viviam por todo o mundo desde a destruição de seu Estado independente, no início da era cristã em consequência da sua revolta contra o Império romano.

Um dos resultados da 1ª Guerra Mundial foi o fim dos grandes impérios e o redesenho do mapa do Médio Oriente, antes era dominado pelos turcos.

Neste contexto os ingleses receberam um mandato da Liga das Nações para ocupar por 30 anos os atuais Iraque, Jordânia e Palestina enquanto que a França ficou com o que hoje são a Síria e o Líbano.

Entretanto no seio dos judeus, a maioria vivendo na Europa Oriental e na América do Norte, o sionismo era bastante minoritário e as correntes políticas que os enformavam eram sobretudo as compostas pelos socialistas - defensores da integração dos judeus na luta dos trabalhadores contra o capital -, pelos liberais - defensores da integração da população judaica em cada país.

Para conquistar o apoio dos árabes contra os turcos na 1ªGuerra, assim como o respaldo dos judeus nos impérios Russo e Austro-Húngaro, e também nos Estados Unidos, a Grã-Bretanha prometeu a mesma coisa aos dois lados - aos árabes, um grande Estado independente, o que suporia a inclusão da Palestina e aos judeus, um "lar nacional" na Palestina.

Aí as duas comunidades começaram a disputar o espaço na Palestina sob mandato britânico com os sionistas a trazerem jovens pioneiros da Europa Oriental para cultivar terras compradas aos árabes por milionários judeus e os nacionalistas árabes a lançarem ataques armados contra as novas comunidades judaicas.

Envolvidos nesta conflitualidade os britânicos lavavam as mãos à Pilatos e ora limitavam a imigração judaica, ora reprimiam os ataques dos militantes árabes.

Nasce então a 2ª Guerra Mundial e mais de seis milhões de judeus foram massacrados pelos nazifascistas na Europa, ao lado de milhões de russos, poloneses, homossexuais, dissidentes políticos e deficientes físicos e mentais.

Assim no final da II grande guerra, com a Europa arrasada, o sionismo tornou-se rapidamente maioritário entre os judeus sobreviventes.

Com a retirada das tropas britânicas da Palestina marcada para 1947, os sionistas - que contavam com a simpatia da opinião pública mundial, devido ao massacre dos judeus na guerra - conseguiram o apoio dos dois grandes vencedores do conflito, União Soviética e Estados Unidos, à divisão do território paledtiniano.

A Assembleia Geral da ONU, então presidida pelo ex-embaixador brasileiro Oswaldo Aranha, votou pela partilha da Palestina em dois estados - um árabe e outro judeu.

Em maio de 1948, o futuro primeiro-ministro David Ben Gurionanunciou a criação do Estado de Israel.

Ora o mundo árabe não aceitou a partilha e sete estados árabes declararam guerra a Israel, que foi invadido por cinco exércitos com os israelitas a vencerem a guerra e a expulsarem milhares palestinos do que deveria ser seu Estado.

E pior sucessivos governos israelitas incentivaram a criação de colónias judaicas nos territórios ocupados, principalmente a Cisjordânia.

Perante tal a resistência palestina optou pela luta armada, rapidamente caindo na ação terrorista, com ataques a alvos civis dentro e fora de Israel.

O terrorismo acabou por reforçar a posição de Israel, que tem nos Estados Unidos seu principal aliado.

Em 1987, explodiu uma revolta popular contra os israelitas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, inicialmente fora do controle da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) e de seu principal líder, Yasser Arafat.

A rebelião ficou conhecida como intifada, sobressalto, em árabe e a reação brutalmente violenta do exército israelita, que matou centenas de pessoas em poucos dias, desgastou a posição do país.

Em seguida, Arafat prometeu desistir da luta armada em favor de negociações políticas que conduzissem à criação de um Estado palestino.

Em 1991, sob pressão dos EUA, que enfrentavam a ira das massas árabes por conta da invasão do Iraque, naquele mesmo ano, o então primeiro-ministro ultraconservador de Israel, Itzhak Shamir, aceitou iniciar tímidas negociações de paz com os palestinos, na Conferência de Madrid.

O sucessor de Shamir, Itzhak Rabin, levou as negociações à frente e, em 1993, assinou com Yasser Arafat os acordos de Oslo, com apoio da Casa Branca.

O acordo previa a criação da Autoridade Palestina, embrião de um futuro governo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

Entretanto os limites territoriais e a muito difícil questão de Jerusalém - que é reivindicada como capital por israelitas e palestinos - deveriam ser resolvidos nos anos seguintes.

As negociações com os palestinos evoluíram com extrema dificuldade, mas, no fim dos anos 90, parecia que a paz estava próxima, em torno de uma proposta israelita que incluía uma complexa equação para permitir a soberania compartilhada sobre Jerusalém.

Também parecia próximo um acordo sobre a troca de territórios entre Israel e palestinos para resolver o problema dos quase 200 mil colonos judeus que vivem na Cisjordânia.

Arafat, porém, acreditou que o momento era favorável para aumentar as demandas e apresentou a exigência de realocação, no atual Israel, de milhões de palestinos que haviam perdido suas terras e casas após 1948.

O governo israelita não aceitou e as conversações de paz esvairam-se e uma passeata de outro primeiro-ministro ultraconservador, Ariel Sharon, pela Esplanada das Mesquitas, local sagrado para os muçulmanos em Jerusalém, detonou a segunda intifada, em 2000.

A paz entre judeus e palestinos está cada vez mais distante com a OLP, que defendia um acordo com Israel, a perder espaço nos territórios ocupados para o movimento fundamentalista islâmico Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria e rejeita a paz com o Estado judeu.

O terror regressa com grupos palestinos radicalizados a utilizarem homens (e mulheres) /bombas contra alvos civis em Israel.

Os israelitas reagiram e construiram um imenso “muro de berlim” a isolar as suas cidades e estradas dos núcleos residenciais palestinos.

Em 2006, Israel lançou um violento ataque contra o Líbano, para estancar os disparos de foguetes do Hezbolah, facção xiita que tem o apoio da Síria e do Irã e dois anos depois, também para pôr fim a ataques de foguetes contra seu território, Israel invadiu a Faixa de Gaza, deixando para trás centenas de mortos.


Não contentes com a instabilidade no Medio Oriente nos EUA e para calar as vozes fanáticas de parte da comunidade judaica a campanha presidencial de 1992 de Bill Clinton expressou sua intenção em "apoiar Jerusalém como capital do Estado de Israel" e criticou George H. W. Bush por ter "desafiado constantemente a soberania de Israel sobre uma Jerusalém unificada" mas face aos Acordos de Oslo em 1993, Clinton teve o bom senso de não voltar a levantar a questão bem quente pois Jerusalém é sim a capital das 3 religiões do Livro Único!

Em 1995, o Congresso dos Estados Unidos insistiu e aprovou um ato sobre a situação da embaixada em Israel, segundo o qual "Jerusalém deveria ser reconhecida como capital do Estado de Israel” com a lei a estipular que a embaixada estadunidense deveria ser transferida para Jerusalém em até cinco anos após sua aprovação com Clinton com bom senso a rejeitar a mesma e a decretar adiamentos a cada seis meses para evitar a medida.

Durante a campanha presidencial de 2000, o filho George W. Bush criticou Clinton por não efetivar a mudança da embaixada como havia prometido em sua eleição e afirmou iniciar o processo como uma das primeiras medidas de seu governo caso fosse eleito mas ao assumir o cargo, Bush passou a evitar a questão.

Barack Obama também reconheceu Jerusalém como capital de Israel, mas nunca transferiu a embaixada para a cidade.

Chega a vez do terrorista evangélico Trump e a 6 de dezembro de 2017, este Presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou formalmente o reconhecer a cidade de Jerusalém como capital do Estado de Israel,

Após o anúncio e sem o mencionar publicamente, Trump também assinou a lei permitindo a realocação da embaixada estadunidense de Telavive para Jerusalém em até seis meses.

A decisão causou divisões em todo o cenário diplomático mundial, tendo sido elogiada pelo Primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

A medida foi recebida com críticas pela grande maioria dos líderes estrangeiros, incluindo o chefe do departamento diplomático da União Europeia.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas propôs uma moção a condenar a decisão, que foi vetada pelos Estados Unidos mesmo após receber 14 votos e posteriormente, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma moção com 128 votos condenando "o tom do anúncio de Trump".

Claro que na Faixa de Gaza, o anúncio foi recebido com violentos protestos e s 25 de dezembro de 2017, salafistas dispararam cerca de 30 foguetes contra Israel, sendo que alguns atingiram a cidade de Gaza, causando estragos em propriedades nas proximidades de Ashkelon e Sderot.

Sempre assumimos que o brutal genocídio de 07.10.23 em Telavive nasceu desta incongruente decisão que como vimos não é só de Trump !

Jerusalém a cidade maior do Livro das 3 religiões da Região e fundamentais no Mundo terá obrigatoriamente que ser autónoma face a Israel e à Palestina em lógica de cidade Estado se queremos Paz na Região!

Algo que está em risco de não mais acontecer com estes atos de terrorismo ora de uns ora de outros como se vivessemos ainda ao tempo do Velho Testamento!

Joff4e Justino

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Foto de destaque: IA