Haddad defendeu a nova política tributária, que, segundo ele, introduz um imposto mínimo de 10% para os chamados super-ricos — brasileiros que recebem mais de R$ 600 mil por ano, com alíquota progressiva. "Nós não estamos aumentando impostos. Estamos apenas trocando de mãos: cobrando de quem não paga e isentando quem hoje está pagando além da conta", afirmou.
O ministro destacou que a medida representa uma correção histórica. “É a primeira vez que se faz isso no Brasil. Eu me pergunto por que não se fez antes”, disse, apontando a omissão do governo anterior.
Segundo ele, Jair Bolsonaro prometeu uma isenção até R$ 5 mil, mas não cumpriu. “Aliás, ele sequer atualizou a tabela do Imposto de Renda por sete anos, e ninguém se manifestou contra isso.”
A proposta, já foi encaminhada para o Congresso Nacional com apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira.
Haddad demonstrou confiança na aprovação: “Mesmo a extrema direita vai ter dificuldade de justificar a cobrança de imposto de renda de quem ganha até R$ 5 mil.”
O ministro ressaltou que a medida trará alívio concreto para trabalhadores de baixa e média renda. “Uma professora, um bombeiro, uma enfermeira vai poupar quase o equivalente a um 14º salário por ano. Isso melhora muito a vida de quem ganha até R$ 5 mil. E até quem ganha R$ 7 mil vai sentir alguma redução.”
Reação do agronegócio e dos super-ricos
Questionado sobre uma possível resistência do setor produtivo, especialmente do agronegócio, Haddad não minimizou as dificuldades. “É claro que tem pessoas que ganham milhões por ano e não querem pagar imposto de renda. Mas quem ganha pouco tem o imposto abatido direto na fonte, não tem como escapar. O justo é que os mais ricos também contribuam.”
Haddad ainda lembrou que, ao contrário do que se alega, os estados e municípios não perderão arrecadação com a mudança. “Não há renúncia de receita, porque o que se deixa de arrecadar de um lado se compensa do outro. É aritmética.”
A entrevista também abordou a política monetária e os juros altos definidos pelo Banco Central e reafirmou a independência da instituição, mas apontou os desafios herdados do governo Bolsonaro. “Chegaram a tomar R$ 40 biliões dos cofres públicos para baixar artificialmente o preço da gasolina antes da eleição. Tivemos que administrar essa loucura.”
Sobre a transição energética, o ministro destacou a importância de atrair investimentos verdes e apontou o potencial brasileiro em energia limpa para sediar data centers de inteligência artificial. “O Brasil está na vanguarda da discussão ambiental no mundo. Isso pode beneficiar também o agronegócio, que sofre com o desmatamento.”
Sobre o novo crédito consignado com garantia do FGTS, lançado para trabalhadores do setor privado, Haddad afirmou que a medida visa combater o superendividamento. “Estamos criando uma modalidade de crédito com taxas mais civilizadas. O trabalhador vai poder negociar, comparar taxas e fugir dos juros abusivos.”
O ministro ainda celebrou a economia de R$ 30 biliões com contenção de gastos em 2023 e defendeu o fim de privilégios e isenções fiscais ineficazes. “Acabar com gasto tributário que não traz benefício real é tão importante quanto cortar gasto primário. Estamos fazendo as duas coisas.”
Haddad refletiu finalmente sobre o cenário político e os desafios da gestão pública. “Consertar um país é difícil. As coisas ficaram muito mal arrumadas. Desde 2013, vivemos uma crise institucional. Precisamos de entendimento entre os poderes para avançar.”
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