Inicialmente, notou-se uma quebra de geração de energia na região sudoeste de Espanha, da qual o sistema recuperou.
No entanto, 1,5 segundos depois, deu-se uma segunda perda de produção; e 3,5 segundos mais tarde houve uma “disrupção na conexão” entre Espanha e França, que isolou a Península Ibérica da rede elétrica europeia.
Logo depois, houve um desligamento em massa das centrais renováveis espanholas, à qual o sistema ibérico não conseguiu “sobreviver”, já que se deu uma falha abrupta de 60% da energia então consumida em Espanha.
Surgiram pois uns tantos especialistas que defendem que a instabilidade da produção solar, mais difícil de gerir tecnicamente e altamente dependente de fatores meteorológicos, pode ter sido a causa da oscilação.
No entanto, Beatriz Corredor, presidente da operadora espanhola Red Eléctrica, considera que “não é verdade, não é correto” associar o apagão à energia solar.
À rádio espanhola Cadena SER, Corredor repetiu que “o sistema elétrico espanhol é o melhor da Europa” e que a operadora ainda está a apurar o que aconteceu.
Beatriz Corredor avança ainda que a causa está “mais ou menos localizada”mas que ainda é necessário analisar “milissegundo a milissegundo” o que aconteceu garantindo ainda que um apagão deste género “não voltará a acontecer porque aprendemos“.
“Sabemos a causa e localizámo-la mais ou menos, mas enquanto não forem analisados todos os dados provenientes dos geradores não podemos saber com precisão”, sublinhou, segundo o El Mundo.
O governo espanhol garantiu total transparência na investigação, prometendo apurar responsabilidades junto dos operadores privados.
O primeiro-ministro Pedro Sánchez foi categórico: “O que sucedeu não pode voltar a repetir-se.”
Casos semelhantes, com menor impacto, já tinham sido registados, como o ocorrido a 22 de abril, quando uma refinaria da Repsol foi obrigada a suspender operações, e os comboios de alta velocidade enfrentaram falhas devido ao excesso de tensão elétrica.
O relatório anual da REE, divulgado há apenas dois meses, já apontava para o “perigo hipotético” de um apagão generalizado.
O documento aponta possíveis “desconexões de geração” de energia elétrica que arriscam ser “severas” e afetar “significativamente” o abastecimento devido à elevada penetração de fontes de energia renovável.
A Redeia, empresa-mãe da REE, também emitiu alertas devido ao encerramento de centrais a carvão, gás natural e nucleares em Espanha, que deixaram o sistema elétrico do país mais vulnerável a imprevistos…. Viva o poluente!
Sobre este relatório, Beatriz Corredor afirma que o documento pertence ao Conselho de Administração, sem competências técnicas, a quem não cabe fazer alertas de segurança.
Entretanto um antigo responsável da REN, ouvido pelo DN, acredita ainda que a duração do apagão em Portugal poderia ter sido encurtada de 11 para 3 horas caso o país tivesse mais centrais de arranque autónomo. “Sempre que desaparece potência, algo tem de entrar imediatamente para o seu lugar.
As fontes intermitentes como a eólica ou solar não o permitem, mas as centrais de ciclo combinado, a gás ou carvão, sim — desde que estejam em funcionamento, mesmo que apenas a meia carga”, explicou.
No entanto, há peritos que discordam. “A intensidade do que aconteceu em Espanha não deu qualquer capacidade de resposta a Portugal. É como um vírus: onde toca, apaga a central”, aponta outro ex-responsável operacional na área da energia.
Ouvido pelo Jornal de Negócios, Nuno Ribeiro da Silva, ex-secretário de Estado da Energia e antigo presidente da elétrica espanhola Endesa em Portugal, considera que a teoria sobre o excesso de energia solar “não faz sentido nenhum” e não descarta um possível erro humano.
“Portugal já operou vários dias seguidos só com renováveis e não aconteceu nada. Se havia solar a mais em Espanha naquele dia, a responsabilidade de acautelar a situação era do operador do sistema“, defende.