As declarações foram feitas em pronunciamento à imprensa nesta segunda-feira, 24.11, durante visita oficial ao país africano.

Lula iniciou o seu discurso  destacando o reencontro político e afetivo com o país africano. “Foi com imensa satisfação que me reuni, hoje, com o meu amigo, o Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo”, afirmou  lembranfo que a viagem ocorre no marco dos 50 anos da independência moçambicana.

Lula citou o escritor Mia Couto para descrever o longo período de distanciamento entre os dois países, interrompido, segundo ele, por um momento de “despertar” há cerca de 20 anos — período em que Moçambique se tornou o maior destinatário da cooperação brasileira na África.

A seguir o Brasil “se perdeu por caminhos sombrios”, afirmou o presidente, fazendo referência ao desmonte das relações Sul-Sul nos últimos anos.

Agora, enfatizou: “É hora de recobrar a consciência.”

Lula anunciou a assinatura de nove novos acordos bilaterais, que abrangem:

  •  desenvolvimento institucional
  •  saúde
  •  educação
  •  diplomacia
  •  empreendedorismo
  •  promoção comercial
  •  aviação civil
  •  assistência jurídica
  •  serviços agroflorestais

Segundo o presidente Lula, a cooperação pode e deve ir além e realçou que Moçambique tem grandes desafios de infraestruturas — como portos, estradas, fabricas  e linhas de transmissão — e que empresas brasileiras têm capacidade e interesse em contribuir.

Para isso, Lula afirmou que é essencial recuperar instrumentos de financiamento: “Nenhum grande país consegue exportar serviços sem oferecer opções de crédito”, disse, destacando que o governo trabalha para que o BNDES volte a financiar a internacionalização de empresas brasileiras.

Lula explicou que o fortalecimento do complexo industrial da saúde no Brasil permitirá retomar a produção conjunta de fármacos e medicamentos em Moçambique.

E destacou o potencial brasileiro para cooperar na segurança alimentar. “Com tecnologia adequada, é possível ampliar a produtividade da savana africana sem comprometer o meio ambiente”, afirmou.

O presidente anunciou ainda programas de formação profissional:

  •  até 80 vagas para formação de formadores em ciências agrárias
  •  até 400 vagas para curso técnico em agropecuária

A iniciativa envolverá o Ministério da Educação, a Agência Brasileira de Cooperação e a Embrapa, que atuará também com treinamentos presenciais e à distância para técnicos moçambicanos.

O Brasil trabalha para incluir Moçambique na etapa de implementação acelerada da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e destacou que este  país é um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Por isso, propôs cooperação em duas áreas:

  1.  Proteção de biomas florestais, com troca de experiências no manejo do fogo e conservação da Floresta do Miombo.
  2.  Transição energética, com foco na produção de biocombustíveis para geração de empregos e redução da dependência de combustíveis fósseis.

Lula afirmou que o crime organizado ameaça de forma semelhante o Brasil e Moçambique e colocou a Polícia Federal à disposição para colaborar:

A Polícia Federal brasileira é reconhecida internacionalmente por sua capacidade de rastrear ativos ilícitos e combater a lavagem de dinheiro.”

O presidente reforçou que o fortalecimento dos laços culturais e educacionais é essencial para aproximar os povos.

Ele defendeu:

  •  ampliação da mobilidade estudantil
  •  parcerias diretas entre universidades
  •  cooperação na produção audiovisual e literária em língua portuguesa

A educação e a cultura são as melhores ferramentas para cultivar nossos laços”, disse Lula.

Concluiu com um recado direto ao povo moçambicano: “A minha visita a Moçambique é o recomeço de uma história que nunca deveria ter parado de acontecer.”

Lula afirmou que Brasil e Moçambique podem cooperar em todas as áreas — indústria, ciência e tecnologia, agricultura, energia, saúde e educação — e reforçou: “O Brasil está de volta e o Brasil quer colaborar com Moçambique em todas as áreas.”