A moção refletiu a capacidade da maioria em impor uma visão de Lisboa como uma cidade inclusiva e defensora dos direitos dos migrantes.
A polémica teve origem numa operação policial realizada a 8 de novembro no Martim Moniz, em Lisboa. Esta ação, que envolveu várias entidades públicas, como a PSP, ASAE e Segurança Social, tinha como objetivo reforçar o combate à imigração ilegal e ao tráfico de pessoas.
No entanto, dos cerca de 100 imigrantes fiscalizados, apenas um se encontrava em situação irregular, facto que levantou questões sobre a eficácia e o propósito real da operação.
Para Beatriz Gomes Dias, esta iniciativa visava "alimentar um falso discurso de segurança", fomentando perceções de insegurança que não se refletem na realidade dos dados disponíveis. Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna, não há aumento significativo de crimes cometidos por pessoas migrantes; pelo contrário, verifica-se um aumento da violência direcionada a esta população.
O debate em torno da campanha "Portugal Sempre Seguro" vai além das operações policiais. A vereadora do BE criticou também a falta de soluções eficazes para a regularização de migrantes, sublinhando os atrasos burocráticos e a revogação de artigos legais que facilitavam a integração laboral.
Esta postura, defende, reforça discursos de ódio e xenofobia, criando uma narrativa desumanizadora que compromete a coesão social.
A Câmara de Lisboa, com o apoio da maioria composta por PS, BE, PCP, Livre e Cidadãos por Lisboa, decidiu contrariar a narrativa governamental. Em oposição, o PSD e CDS-PP mantiveram o seu alinhamento com o Governo, defendendo a continuidade da campanha.
Esta divisão política reflete diferentes visões sobre o papel de Lisboa como uma cidade inclusiva e sobre como abordar os desafios relacionados à migração.
Esta posição adotada pela Câmara de Lisboa é emblemática de um esforço mais amplo para lidar com os desafios da migração de forma humana e baseada em evidências. A capital portuguesa procura afirmar-se como uma cidade aberta, onde a diversidade é vista como uma força e não como uma ameaça.
Ao rejeitar a associação simplista entre migração e criminalidade, Lisboa envia uma mensagem clara: é necessário desconstruir preconceitos e promover políticas que reflitam os valores de justiça, inclusão e igualdade.
Esta moção, ainda que simbólica, representa um passo importante para alinhar as práticas locais com os princípios fundamentais dos direitos humanos.
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Este episódio relembra-nos das palavras de Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.” Que esta reflexão inspire políticas públicas mais humanas e solidárias.