O Estrategizando conversou com Julio Díaz, secretário-geral do Partido Comunista dos Povos de Espanha (PCPE), um dos herdeiros do histórico Partido Comunista de Espanha (PCE).

Numa entrevista franca, Díaz analisou a crise provocada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o ataque diplomático ao Brasil, as falhas do governo espanhol e o avanço da guerra na Ucrânia.

Segundo Díaz, as tarifas impostas por Donald Trump à União Europeia refletem a “irracionalidade” do capitalismo em fase imperialista:

“O capitalismo tende à globalização, mas já em crise, nem a globalização lhe serve de solução. A única saída para a humanidade é avançar para o socialismo”, afirmou.

Questionado sobre a decisão de Trump em proibir diplomatas brasileiros de participarem na Assembleia Geral da ONU, o líder comunista foi categórico:

“Não é apenas um capricho pessoal. Ele é expressão de um sistema em decadência. Se a ONU não pode ser espaço de democracia, então que se transfira, por exemplo, para Brasília.”

Críticas ao governo espanhol

Díaz também não poupou críticas ao atual governo espanhol, a que chama de “socialdemocracia que se diz progressista”:

“É um governo que aumenta o gasto militar para cumprir as exigências da NATO, que fragiliza as pensões, privatiza a saúde e a educação, e mantém a lei mordassa repressiva. Trata-se de um governo antipopular, que vive do discurso do medo: ‘cuidado, que os que vêm são piores’.”

O dirigente destacou que o papel do PCPE é organizar os trabalhadores para resistirem e defenderem direitos conquistados no passado:

“Só a luta social pode impedir que se percam direitos arrancados à burguesia.”

Herança histórica e futuro

Sobre a história do partido, Díaz explicou a cisão com o antigo PCE, que aderiu ao eurocomunismo após a ditadura franquista:

“O PCE histórico, heróico na Guerra Civil e na Resistência antifascista, acabou liquidado ao aceitar a transição para uma ditadura burguesa sob a monarquia. Em 1984, vários grupos de militantes uniram-se e fundaram o PCPE para manter o fio vermelho da luta marxista.”

Ucrânia, Rússia e risco de guerra

Em relação à guerra na Ucrânia, o secretário-geral do PCPE foi claro ao considerar que se trata de uma guerra da NATO contra a Rússia:

“Trump conseguiu o que queria: eles põem os mortos, mas quem vende as armas são os Estados Unidos. A oligarquia europeia empurra-nos para um cenário de guerra, talvez em meses ou anos. A Rússia tem direito a defender a sua soberania.”

A entrevista a Julio Díaz deixa evidente que, para os comunistas dos povos de Espanha, a luta de classes permanece no centro das suas prioridades. Num contexto de crise global, denunciam tanto o imperialismo norte-americano como a submissão da União Europeia e reafirmam: “O futuro só pode ser socialista.”