Nos últimos meses, médicos e investigadores têm vindo a alertar para o crescimento alarmante de casos de uma doença rara, mas devastadora, conhecida como “Pulmão de Pipoca” — o nome popular da bronquiolite obliterante, uma patologia que destrói progressivamente os bronquíolos, tornando cada respiração uma luta.

O termo surgiu no ano 2000, quando vários trabalhadores de uma fábrica de pipocas de micro-ondas nos Estados Unidos desenvolveram graves problemas respiratórios. O culpado? Uma substância química chamada diacetil, usada para dar sabor amanteigado aos produtos. Hoje, esse mesmo composto é encontrado em vaporizadores e cigarros eletrónicos com aromas, transformando-se num verdadeiro “inimigo invisível” quando inalado em forma de aerossol.

Segundo o professor Donal O’Shea, químico da RCSI University of Medicine and Health Sciences, “o diacetil provoca inflamação e cicatrizes nos bronquíolos, os ramos mais finos dos pulmões, dificultando a passagem do ar e reduzindo a capacidade respiratória”. E a advertência é clara: “Não há cura para o Pulmão de Pipoca. Quando o dano ocorre, o tratamento limita-se a aliviar os sintomas”.

Entre as terapias possíveis estão o uso de broncodilatadores, corticóides e, em casos extremos, transplantes pulmonares. Por isso, afirmam os especialistas, a prevenção é a única defesa eficaz.

Apesar de o diacetil estar proibido na União Europeia e no Reino Unido, continua a ser detetado em produtos ilegais e em dispositivos comercializados noutros países, incluindo os Estados Unidos. Segundo a Cancer Research UK, a exposição a gases tóxicos ou infeções graves também pode desencadear a doença, mas a associação ao vaping é hoje motivo de grande preocupação.

Dados do Office for National Statistics (Reino Unido) revelam que o uso de vapes e cigarros eletrónicos já supera o de cigarros tradicionais entre adultos com mais de 16 anos, sendo os jovens entre os 25 e os 49 anos os maiores utilizadores diários. Nos EUA, o CDC confirma que os cigarros eletrónicos são o produto de tabaco mais popular entre adolescentes do ensino básico e secundário, com 43,6% dos estudantes a afirmar que continuam a utilizá-los regularmente.

Os sintomas do “Pulmão de Pipoca” podem surgir entre duas semanas e dois meses após a exposição a gases tóxicos. Entre os sinais mais comuns estão tosse seca persistente, falta de ar, pieira, fadiga inexplicável, febre, suores noturnos e erupções cutâneas. Muitos pacientes, contudo, não apresentam sintomas nos estágios iniciais, o que torna o diagnóstico mais difícil e o tratamento menos eficaz.

A American Lung Association já classificou a doença como “um risco grave associado aos cigarros eletrónicos com sabores”. A mensagem é simples, mas urgente: o prazer momentâneo de uma tragada aromatizada pode custar uma vida inteira de respiração difícil.

“A liberdade de escolher o que inalamos termina onde começa a incapacidade de respirar”, lembra O’Shea.

 

Fontes:

  • The Conversation (Donal O’Shea, RCSI University of Medicine and Health Sciences)

  • Cancer Research UK

  • Office for National Statistics (UK)

  • Centers for Disease Control and Prevention (CDC, EUA)

  • American Lung Association

  • WebMD

  • Cleveland Clinic