O cinema de João César Monteiro (1939--2003) será apresentado  no MoMA até 06 de novembro, abrangendo praticamente todos os filmes, como "Recordações da Casa Amarela" (1989), "A Comédia de Deus" (1995) , ambos premiados em Veneza, "As Bodas de Deus" (1999), "Silvestre" (1981) e "Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço" (1970).

A retrospetiva inclui ainda "Branca de Neve" (2000), "a maior provocação" de João César Monteiro, numa adaptação do "anti-conto de fadas de Robert Walser, composto principalmente por imagens em preto e branco e vozes", refere o MoMA na apresentação deste ciclo.

Os filmes vão ser exibidos em novas cópias restauradas acompanhados  pela  publicação de um livro com traduções de textos e entrevistas de João César Monteiro.

Protagonista em muitos dos filmes que fez, João César Monteiro terá sido o mais inclassificável dos realizadores do cinema português, um "verdadeiro libertino", como descreve o MoMA, que "subverteu tendências e definições numa obra que, na linha de Erich von Stroheim, se concentra nos mistérios pervertidos do prazer, da decadência e da tradução poética do sublime para a arte".

Esta  retrospetiva,  organizada por Francisco Valente, crítico de cinema, realizador e programador, assistente de curadoria do Departamento de Cinema do MoMA, pretende envolver a Cinemateca Portuguesa, o produtor Paulo Branco e a família do realizador

Aos 15 anos João César Monteiro veio viver   para Lisboa, a «capital do Império», a fim de prosseguir os estudos liceais.

Expulso do Colégio Moderno, por contrair uma doença venérea, afirma numa entrevista, em 1973

Nasci aos 2 de Fevereiro de 1939, na Figueira da Foz.

Tive infância caprichosa e bem nutrida, no seio de uma família fortemente dominada pelo espírito, chamemos-lhe assim, da 1 ª República.

Por volta dos 16 anos, fixei-me com a família em Lisboa, para poder prosseguir a minha medíocre odisseia liceal. Instalado no colégio do dr. Mário Soares, acabei por ser expulso ao contrair perigosíssima doença venérea. Pensei, então, que entre a política e as fraquezas da carne devia existir qualquer obscena incompatibilidade e nunca mais fui visto na companhia de políticos.

Trabalha para o produtor Castello Lopes, e torna-se assistente de realização de Perdigão Queiroga quando este roda o filme O Milionário (1962).

Em 1963, vai para a Grã-Bretanha estudar na London School of Film Technique e de volta a Portugal, em 1965, inicia a rodagem daquela que viria a ser a sua primeira obra: Quem espera por sapatos de defunto morre descalço.

O filme só será concluído cinco anos depois, como média-metragem.

A sua veia satírica como realizador tem sido objecto de estudo para portugueses e estrangeiros, críticos e académicos e é conhecido como um dos mais importantes realizadores portugueses.

Foi um dos realizadores que obteve mais reconhecimento internacional: por  duas vezes premiado no Festival de Veneza, a primeira vez com o Leão de Prata, por Recordações da Casa Amarela, de 1989, e a segunda vez com o Grande Prémio do Júri, por A Comédia de Deus, em 1995.

Protagonizou a maior polémica do cinema nacional, em 2000, com Branca de Neve.

O seu último filme, estreado em 2003, intitula-se Vai e Vem.

Morreu de cancro no pulmão em 2003.[2]