No Antigo Testamento, a terra prometida por Deus aos judeus, frequentemente chamada de Terra de Canaã ou Terra Prometida, tem seus limites descritos em várias passagens, especialmente no Livro de Gênesis e no Livro de Números. Os limites variam conforme as passagens, mas alguns trechos fundamentais são:
Gênesis 15:18-21: Deus faz uma aliança com Abraão e diz: "Naquele mesmo dia o Senhor fez uma aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates."
Aqui, os limites são descritos do rio do Egito, geralmente entendido como o Wadi El-Arish ou o Nilo, até o rio Eufrates, englobando vastos territórios .
Números 34:1-12: Nesta passagem, os limites da Terra Prometida são mais específicos e práticos para a divisão entre as tribos de Israel, que ocuparam a terra após a saída do Egito. Alguns dos pontos principais incluem: a fronteira sul, a partir do deserto de Zim até o limite de Edom; a fronteira oeste sendo o Mar Grande (Mediterrâneo); a
fronteira norte próxima ao Monte Hor; e a fronteira oriental seguindo o rio Jordão até o Mar Morto.
Essa descrição sugere uma terra que inclui a área de Canaã, abrangendo parte do atual território de Israel, Cisjordânia, Gaza, e partes do Líbano, Síria e Jordânia. No entanto, essa terra nunca foi completamente ocupada em sua totalidade máxima, conforme descrita em algumas dessas promessas, sendo mais uma visão ideal da utopia
sionista.
Mas muitos judeus ortodoxos acreditam que a promessa da Terra de Israel, feita por Deus no Antigo Testamento, continua válida. No entanto, a interpretação dessa promessa e sua aplicação prática variam dentro da comunidade judaica ortodoxa. Temos, porém, diferentes perspectivas sobre tais promessas.
Para muitos judeus ortodoxos, a aliança que Deus fez com os patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó), de dar a Terra de Israel ao povo judeu, é uma promessa eterna e imutável. Veem a posse e o controle da Terra de Israel como uma parte fundamental da identidade judaica e da relação entre o povo judeu e Deus. Acreditam que, independentemente das dificuldades históricas, a Terra Prometida pertence ao povo judeu por direito divino.
No entanto, há grupos dentro da ortodoxia que defendem que o pleno cumprimento da promessa da Terra Prometida só ocorrerá após a vinda do Messias. Para estes,
embora a promessa continue válida, ela será concretizada de forma plena e ideal no futuro messiânico, quando todas
as tribos de Israel retornarão à terra e o Reino de Deus será estabelecido.
Alguns judeus ortodoxos, particularmente os que seguem o sionismo religioso, acreditam que o estabelecimento moderno do Estado de Israel
em 1948 é parte do cumprimento dessa promessa divina. Para esses grupos, o retorno à Terra de Israel e a fundação do Estado são sinais do início do processo de redenção, mesmo antes da chegada do Messias.
No entanto, há também correntes ortodoxas, como o grupo Neturei Karta, que rejeitam a ideia de um estado judeu antes da vinda do Messias.
Eles acreditam que a redenção e o retorno à Terra de Israel devem ser realizados exclusivamente pela ação divina, e que qualquer tentativa
humana de estabelecer um estado judaico na Terra Prometida antes da chegada do Messias é contrária à vontade de Deus.
Portanto, a crença na validade da promessa da Terra de Israel é amplamente aceita entre os judeus ortodoxos, mas há diferentes abordagens sobre o que isso significa na prática e sobre o papel da ação humana nesse processo. Para muitos, a promessa é válida e eterna,mas sua realização total depende de fatores religiosos e messiânicos.
A guerra-sem-fim
Hoje, é interessante analisar a posição política de Benjamin Netanyahu em relação às promessas da Torah de uma Terra de Israel. Sua posturapolítica, e mesmo religiosa, é complexa e, em muitos aspectos, reflete uma combinação de pragmatismo político e um forte compromisso ideológico com a segurança e a soberania do Estado de Israel sobre áreas que ele e muitos outros consideram parte da herança histórica e bíblica do povo judeu.
Netanyahu, como muitos políticos da direita israelense, tem repetidamente expressado seu compromisso com a ideia de que a Terra de
Israel (Eretz Yisrael) é a pátria histórica e bíblica do povo judeu.
Isso inclui áreas atualmente disputadas, como a Cisjordânia, chamada por muitos de Judeia e Samaria, que são vistas como parte da Terra Prometida. Para Netanyahu, há uma conexão histórica e religiosa que justifica a presença judaica nessas áreas.
Embora Netanyahu reconheça o valor bíblico e histórico dessas terras, sua abordagem política é fortemente guiada por considerações de segurança nacional. Ele frequentemente enfatiza que o controle de partes da Cisjordânia é vital para a segurança de Israel,
especialmente em relação à defesa contra ameaças externas, como as do Hamas e de outros grupos militantes palestinos.
Ao longo de sua carreira, Netanyahu tem mantido uma posição ambígua em relação à solução de dois Estados, Israel e um Estado palestino lado a lado. Embora tenha declarado, em alguns momentos, que apoia a ideia de um Estado palestino desmilitarizado como parte de um acordo de paz,
suas ações e políticas traduzem ceticismo em relação à viabilidade de tal solução.
Ele tem favorecido a expansão de assentamentos judeus na Cisjordânia, o que é um obstáculo à criação de um Estado palestino viável. Ao mesmo tempo, Netanyahu tem se mostrado hesitante em tomar medidas unilaterais que pudessem prejudicar alianças estratégicas com países como os Estados Unidos, que defendem uma solução negociada.
Em 2020, durante o governo de Donald Trump, Netanyahu apoiou a proposta do plano de paz dos EUA (conhecido como "Acordo do Século"), que previa a anexação por Israel de partes da Cisjordânia, incluindo os blocos de assentamentos e o Vale do Jordão, áreas estratégicas para a segurança de Israel e que fazem parte do território histórico da Terra de Israel. No entanto, a anexação não foi concretizada devido à oposição internacional e aos acordos de normalização com países árabes, como os Acordos de Abraão.
Embora Netanyahu compartilhe o sentimento histórico e bíblico sobre a Terra Prometida, ele não é conhecido por adotar uma postura fortemente religiosa em suas decisões políticas. Seu foco principal tem sido, de fato, mais estratégico e pragmático, lidando com a realidade geopolítica e as necessidades de Israel em termos de segurança e
diplomacia, em vez de buscar o cumprimento estrito da promessa bíblica em seus termos religiosos.
Dito isto, podemos dizer que, hoje, Benjamin Netanyahu é o homem da guerra-sem-fim. É uma das figuras políticas mais importantes e longevas de Israel, e tem desempenhado um papel central nas decisões de segurança e nas respostas militares de Israel durante os conflitos e as guerras. Ele tem sido primeiro-ministro em várias ocasiões, a mais recente começando em 2022, e durante esses mandatos, sua política em relação às guerras e aos conflitos armados sempre foi marcada por
um enfoque na segurança, na defesa do estado e na preservação da superioridade militar de Israel na região.
Netanyahu esteve no poder durante várias rodadas de conflitos entre Israel e o Hamas, o grupo militante islâmico que controlava a Faixa de
Gaza. Esses confrontos têm sido uma característica recorrente durante sua liderança, como ocorreu em 2012, 2014 e 2021. Os combates geralmente são provocados pelo lançamento de foguetes do Hamas em direção a Israel, seguido por retaliações israelenses, cada vez mais violentas e destruidoras, em Gaza.
Netanyahu justifica as operações militares em Gaza como uma resposta ao terrorismo e à defesa dos cidadãos israelenses, que viviam sob a ameaça de foguetes e ataques vindos de Gaza. Suas campanhas militares foram vistas como tentativas de degradar a capacidade militar do Hamas, destruir túneis usados pelos militantes e enfraquecer a
infraestrutura do grupo. No entanto, tais operações resultaram em grandes perdas de vidas, particularmente entre civis palestinos.
Ele tem adotado uma abordagem de "contenção militar", em vez de buscar uma solução final para o conflito, optando por operações com objetivos específicos, como o enfraquecimento do Hamas, sem procurar acabar com o grupo, por temer que algo pior, se é que isso é possível, possa tomar o controle de Gaza.
Outro foco de tensão durante os mandatos de Netanyahu tem sido o Hezbollah, grupo xiita baseado no Líbano, apoiado pelo Irã. O Hezbollah é considerado uma das maiores ameaças à segurança de Israel devido ao seu arsenal de mísseis, muitos dos quais são capazes de atingir qualquer ponto em Israel. Netanyahu supervisionou várias operações israelenses contra o Hezbollah, especialmente na Síria, onde Israel realizou ataques aéreos para impedir o fornecimento de armas avançadas ao grupo, que apoia o regime de Bashar al-Assad.
Repetidamente, Netanyahu destacou que o Irã e seus representantes, como o Hezbollah, são as maiores ameaças existenciais para Israel. Ele tem conduzido uma política de confrontação direta com o Irã, não apenas em relação ao seu programa nuclear, mas também a sua expansão militar no Oriente Médio.
Dessa maneira, vê o Irã como o principal inimigo de Israel na região e tem sido uma das vozes mais contundentes contra o programa nuclear iraniano. Ele acredita que o Irã busca obter armas nucleares para destruir Israel, e, por isso, durante seu governo, Israel tomou uma série de medidas, muitas delas secretas ou através de ataques
cirúrgicos, para retardar ou impedir o avanço nuclear do Irã.
Netanyahu também se opôs ferozmente ao Acordo Nuclear de 2015 (JCPOA), que visava limitar o programa nuclear do Irã em troca do levantamento de sanções. Ele argumentou que o acordo era perigoso para Israel, pois apenas retardaria o progresso nuclear do Irã e daria ao regime iraniano uma margem para desenvolver armas nucleares no futuro.
Durante a administração de Donald Trump, Netanyahu foi um dos principais defensores do rompimento do acordo, o que acabou acontecendo em 2018.
Além disso, sob sua liderança, Israel intensificou os ataques aéreos na Síria para destruir instalações iranianas e impedir o fornecimento de armas ao Hezbollah, uma estratégia que Netanyahu justifica como vital para prevenir uma presença militar iraniana na fronteira norte de Israel.
Também buscou criar alianças regionais para debilitar a ameaça iraniana. Durante seu governo, foram assinados os Acordos de Abraão em
2020, normalizando as relações de Israel com vários países árabes, como os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, e posteriormente com outros,
como o Marrocos. Esses acordos não só fortaleceram as relações diplomáticas e comerciais, mas também representaram um novo equilíbrio de poder no Oriente Médio, alinhando Israel com vários estados sunitas contra a influência do Irã.
Embora tenha sido aplaudido por muitos israelenses por sua postura em questões de segurança, suas políticas enfrentam críticas.
Internamente, há quem o acuse de alimentar uma guerra-sem-fim e de não buscar soluções duradouras. Externamente, enfrenta críticas pela alta taxa de vítimas civis nos conflitos com Gaza e pela falta de avanços no processo de paz com os palestinos.
Além disso, o conflito com o Irã, atualmente fruto do violento bombardeio de mísseis sobre Israel, e bombardeios no Líbano e Síria criaram tensões diplomáticas com outros países, inclusive a União Europeia e, em alguns momentos, com os Estados Unidos, especialmentequando Netanyahu realiza operações sem coordenação prévia com aliados.
Em resumo, a política de Netanyahu em relação às guerras e conflitos de Israel hoje é marcada por uma abordagem fortemente militarista, a guerra-sem-fim, combinada com alianças estratégicas. Ele vê o conflito com o Irã e seus representantes, como o Hezbollah, como uma questão central de segurança nacional e considera o Hamas uma ameaça constante. Ao mesmo tempo, sua busca por alianças regionais com estados árabes representa uma tentativa de equilibrar as ameaças regionais e isolar ainda mais o Irã.
Assim, a posição política de Netanyahu sobre as promessas da Torah em relação à Terra de Israel é marcada por dois extremos, de um lado pela pressão ideológica do judaísmo radical e de outro pelo pragmatismo diante da necessidade de negociação com os Estados árabes sunitas. Ele aceita e valoriza a conexão histórica e religiosa do povo judeu com a Terra de Israel, mas sua política de guerra-sem-fim é definida por considerações de segurança e estratégia. Apoia a presença judaica em partes da Cisjordânia e vê essas áreas como parte integral de Israel, mas necessita evitar, o que nem sempre faz, medidas que possam isolar Israel diplomaticamente ou comprometer acordos de paz potenciais.