Nos últimos anos, o termo "Ideologia de Género" tem sido utilizado por setores da extrema-direita e da direita conservadora como uma bandeira de combate contra as conquistas sociais no que toca à igualdade de género e aos direitos LGBTQ+.

Este termo, no entanto, não tem fundamento científico. Não existe, em qualquer campo académico reconhecido, algo que se possa chamar "ideologia de género".

Este é, na verdade, um conceito vazio, criado e promovido por certos movimentos políticos para mobilizar o medo e a desinformação em torno das questões de identidade de género.

O Que Diz a Ciência?

Na verdade, o estudo das questões de género é uma área consolidada nas ciências sociais, biológicas e médicas, com base em dados empíricos e análise rigorosa. As pessoas nascem com uma identidade de género que pode ou não corresponder ao seu sexo biológico. Este fenómeno tem sido estudado e confirmado por múltiplas disciplinas, desde a psicologia até à biologia, sem qualquer associação com uma suposta "ideologia".

No entanto, a ideia de uma "Ideologia de Género" tem sido usada como arma retórica para atacar políticas de inclusão e igualdade, distorcendo o debate público. Em Portugal, figuras políticas, como Luís Montenegro, têm recentemente começado a incorporar esta narrativa nos seus discursos, numa tentativa clara de angariar votos, replicando os temas e o vocabulário do partido Chega. Esta aproximação ideológica é perigosa e desonesta, pois ignora os dados científicos e cria divisões artificiais na sociedade.

As Aulas de Cidadania: Um Exemplo a Seguir

Um dos alvos preferidos destes movimentos tem sido o ensino de Cidadania e Desenvolvimento nas escolas. As Aulas de Cidadania em Portugal são um exemplo positivo de como preparar as gerações futuras para um mundo diverso, inclusivo e respeitador dos direitos humanos. Estas aulas abordam temas como a igualdade de género, o respeito pela diversidade, a inclusão, a sustentabilidade e os direitos humanos. São fundamentais para formar cidadãos mais conscientes e responsáveis, e têm sido amplamente elogiadas em fóruns internacionais de educação.

A educação em cidadania tem sido vital para promover a coesão social e combater a discriminação. No entanto, Luís Montenegro, na sua busca por votos junto das franjas mais conservadoras do eleitorado, tem agora colocado estas aulas em questão. Esta retórica, importada da agenda do Chega, visa deslegitimar um dos pilares de uma educação moderna e orientada para os valores da democracia.

O Perigo da Polarização

O que estamos a assistir é uma tentativa de polarizar o debate público, transformando questões de direitos humanos em ferramentas de campanha política. A inclusão e a igualdade de género não são "ideologias" a ser combatidas, mas sim direitos humanos fundamentais que devem ser promovidos e protegidos. A manipulação de termos como "Ideologia de Género" serve apenas para alimentar preconceitos e perpetuar a desinformação.

Portugal tem sido um exemplo de progresso no que toca a estas matérias, mas este caminho está agora sob ameaça. Cabe à sociedade civil, aos académicos, e às vozes responsáveis na política assegurar que as conquistas sociais não sejam sacrificadas em nome de jogos eleitorais e manipulações ideológicas.

À Caça das Bruxas: O Novo Hobby do PSD

E eis que chegamos à última novidade do PSD: a caça às bruxas de género! Sob a liderança de Luís Montenegro, o partido que outrora se apresentava como um bastião da moderação e da democracia está agora, convenientemente, a reboque do trumpismo mais vil e execrável. Afinal, por que defender uma sociedade mais justa e inclusiva quando se pode sempre recorrer ao manual do "medo e ódio para ganhar eleições"? Uma estratégia clássica, não é verdade?

Com Montenegro no comando, parece que o PSD encontrou nova inspiração nas velhas práticas de divisão, copiando os truques de populistas que prosperam ao alimentar teorias da conspiração e desinformação. Que original! Talvez o próximo passo seja propor que as Aulas de Cidadania sejam substituídas por lições de caça ao "fantasma" da Ideologia de Género, com direito a tochas e forquilhas.

A História, essa ingrata, já viu este filme antes, mas ao que parece, o PSD decidiu seguir em frente com um remake, desta vez em parceria com o Chega.

Luís Montenegro, sempre atento às novas tendências, parece agora disposto a arriscar o futuro da educação e da inclusão em Portugal por meia dúzia de votos que ecoam os chavões do ódio. Sim, porque quando o objetivo é "caçar" votos, por que não ir buscar uns quantos ao charco da extrema-direita?

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