O documento previa que Kiev renunciasse a territórios sob seu controle, reduzisse o tamanho de suas Forças Armadas e desistisse, de forma permanente, de integrar a Otan.
“Este plano foi elaborado imediatamente após discussões com um dos membros mais graduados da administração do presidente Zelensky, Rustem Umerov, que concordou com a maior parte do plano, depois de fazer várias modificações, e o apresentou ao presidente Zelensky”, afirmou uma autoridade senior americana na quinta-feira, 20.11
Ora esta declaração foi contestada diretamente por Umerov, que afirmou não ter discutido, avaliado ou aprovado qualquer ponto do documento.
“Durante minha visita aos Estados Unidos, meu papel foi técnico — organizar reuniões e preparar o diálogo. Não fiz nenhuma avaliação ou, muito menos, aprovação de nenhum ponto. Isso não está dentro de minha autoridade e não corresponde ao procedimento”, escreveu no Telegram.
Zelensky reconheceu ter recebido o plano, mas recusou comentar seu conteúdo.
No entanto, indicou que a proposta será analisada conjuntamente:
“Nossas equipes — Ucrânia e EUA — trabalharão nos pontos do plano para acabar com a guerra. Estamos prontos para um trabalho construtivo, honesto e rápido.”
Um plano que Kiev já havia rejeitado antes
O documento examinado pela Reuters inclui condições que a Ucrânia tem descartado desde o início da guerra, classificando-as como equivalentes à rendição. Além de recuar das regiões que ainda controla no leste — áreas que Moscou afirma ter anexado — Kiev teria as suas Forças Armadas limitadas a 600 mil soldados e ficaria impedida de ingressar na Otan.
A Rússia devolveria tambem pequenas porções de território tomadas em outras frentes.
O plano prevê ainda a suspensão gradual de sanções, o retorno da Rússia ao G8 e o uso de ativos russos congelados num fundo de investimento administrado pelos EUA.
Em relação às necessidades centrais da Ucrânia, como garantias de segurança robustas que impeçam novas ofensivas russas, o texto dedica apenas uma linha, sem detalhamento: “A Ucrânia receberá garantias robustas de segurança”.
A proposta foi trabalhada sem ouvir os países europeus, que hoje sustentam grande parte do esforço de defesa ucraniano depois dos cortes de Trump.
“Quanto ao plano de paz que entendemos ter sido apresentado ao presidente Zelensky, sempre dissemos que, para que qualquer plano funcione, ele precisa ter a Ucrânia e os europeus a bordo”, declarou a chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, em Bruxelas.
O Kremlin afirmou não ter sido comunicado sobre qualquer disposição de Kiev para negociar com base no esboço elaborado pelo governo americano.
A Rússia tem mantido uma postura cautelosa em público, mas costuma reiterar que considera indispensáveis concessões territoriais que a Ucrânia afirma não estar disposta a fazer.