Houve até um Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Dr. João Cravinho, que anunciou que Putin se fosse de férias ao Algarve seria preso. Stoltenberg, o então Secretário-Geral da NATO, ficou famoso por anunciar que apoiaria a Ucrânia o tempo que fosse preciso. O novo, capacho de Trump, ainda andará a agradecer ao imperador de Largo-a-Mar na Florida o apoio à Ucrânia que se está a ver nos famosos 28 pontos.
Zelenski, o Churchil ucraniano, rodeado de corruptos por todos os lados, o homem que mais armamento pediu (percebe-se melhor agora o seu papel com tantos ministros fugidos) já manifestou a sua vontade de negociar com os EUA o tal plano de Anchorage entre UEA e Rússia.
Do lado europeu anda tudo com a cabeça à roda. Os principais dirigentes da UE entraram em choque com a realidade circundante, designadamente a Leste, e entre si.
A decisão política face à invasão da Rússia da Ucrânia de apresentar ao mundo a impossibilidade da Rússia vencer, contando para tanto com o apoio dos EUA, revelou uma vez mais a total insignificância de pensamento político-estratégico. Os EUA querem “largar” a Ucrânia porque estão bem dentro do conflito, são eles que que comandam a Ucrânia e perceberam que não têm como travar militarmente a Rússia. Aqui bate o ponto. Em vez de uma humilhante derrota tentam sair por cima, se for possível.
Deve ter-se presente o plano dos EUA já mil vezes divulgado a partir da Rand Corporation, think-tank do Pentágono, de fragmentar a Rússia a partir do conflito militar da Ucrânia, assim definido pelo conselheiro de Segurança da Ucrânia Oleksei Resnikov em 06/01/2023 no TSN Canal 1+1…A OTAN dá as armas e nós o sangue…
Creio que esta afirmação de uma personalidade como Reznikov diz tudo quanto à envolvência dos EUA e à ideia da derrota militar da Rússia. O Ocidente subvalorizou o poderio militar e económico da Rússia e a sua arrogância impediu-o de ver que o mundo mudou e o Sul Global, mesmo que ainda incipiente, é uma realidade, sem falar dos BRICS.
Por outro lado, o “nosso” aliado aplicou-nos um golpe de mestre ao cortar a ligação da UE com a Rússia designadamente a nível de energia, onde assentava o crescimento industrial da Alemanha. Os europeus, se quiserem, têm de comprar a energia aos EUA, muito mais cara, ficando na dependência de alguém cuja coerência é assinalável…
Com este eventual fiasco da UE devemos ter presente o que se está a passar na frente dos nossos olhos.
Os dirigentes da UE sem qualquer mandato para tal e contra a filosofia fundadora da UE cavalgam uma corrida armamentista que gela o sangue. A Alemanha quer avançar para a guerra com a Rússia, na França um chefe militar diz que os franceses têm de assumir a coragem de ir morrer contra a Rússia…mas, há sempre um mas.
A França olha para o rearmamento da Alemanha desconfiada e a Polónia estremece, enquanto na própria UE há quem não esteja pelos ajustes.
A corrida aos armamentos pode ser a tentativa do neoliberalismo reinante na UE de justificar o empobrecimento e a limitação dos valores democráticos fundadores. Ou seja, face à impossibilidade de sair das políticas recessivas onde mergulharam os países, tentam erguer uma cortina de fumo para esconder a política de empobrecimento que vem a caminho com a famigerada ideia de garantir fundos para a guerra, cortando na política social, cultural e ambiental da UE.
Claro que uma política dessa estirpe irá não só a nível interno criar enormes tensões, como a nível dos Estados membros choques entre vários países que não querem ser atrelados ao carro da pobreza, pois esta política provocará ainda maior desigualdade entre eles. A campanha da guerra visa esconder exatamente esta perfídia.
Tenha-se presente que um fulano como Durão Barroso, que devia responder num Tribunal Internacional pelos crimes de guerra contra a Humanidade resultante da monstruosa mentira de que o Iraque tinha armas de destruição massiva, salta agora para os media proclamando que a Rússia vai invadir a Europa, bem sabendo que uma tal afirmação é uma mentira do tamanho de toda a Europa. O homem que perdeu toda a sua credibilidade como líder político, tenta agora na posição de neobanqueiro guindar-se no plano político, jogando com a perda de memória de um dos maiores crimes cometidos contra o direito internacional.
Os principais dirigentes da UE estão metidos num beco aparentemente sem saída. Estão unidos no empobrecimento dos povos, divididos quanto ao modo como fazer, dadas as contradições entre os Estados.
Como a UE é um conjunto de Estados com diferentes políticas de defesa é evidente que os grandes gostariam de unificar forças militares para serem eficazes, mas o problema real é: ao serviço de quem e de quê ?
A política neoliberal é muito previsivelmente incapaz de conseguir tal desígnio porque ela funda-se na hierarquia do país mais forte que é a Alemanha, o que não é aceite nem pela França, Polónia e até Reino Unido, de fora da UE.
Resta levar à prática uma outra política de paz, desarmamento e cooperação. É preciso desarmar e não de armar. A mais firme e eficaz política de segurança europeia é partir para o desarmamento pan-europeu com a Rússia e os EUA. A Rússia faz parte da Europa e nunca irá sair do continente; os EUA não são europeus, mas pelo seu peso no mundo e face à NATO é benéfica a sua participação numa tal política.
Não há que ter medo – o desafio é desarmar e nunca armar. É preciso diminuir o armamento na Europa conjuntamente com a Rússia, criar um clima normal entre gente normal que quer viver dignamente onde que que viva no continente cuja História exige outra responsabilidade.
A Ucrânia não poderá ser uma ferida a sangrar no continente. Após o conflito é necessário abrir canais de cooperação para reestabelecer medidas de confiança entre os povos envolvidos no conflito. Talvez, porque não, uma Conferência Europeia para a Paz e a Cooperação entre todas as nações. Este é o caminho. Se a guerra terminar é preciso que nunca mais se reacenda, como aconteceu já também acontecera na Jugoslávia.
Creio com todas as forças, que quando os figurões do armamento pedem mais dinheiro para a indústria da morte, é preciso que os povos toquem os sinos a rebate para acordarem as consciências da paz. Em pleno século XXI só a paz é a nossa humanidade e a guerra a nossa bestialidade. A Europa não precisa de mais pilhas de cadáveres, antes necessita de conhecimento, sabedoria, cooperação e sempre as pombas da paz nas mãos dos nossos filhos e netos que da Rússia à Península ibérica, da Escandinávia aos Balcãs, para que se cumpra o sonho de dar uma chance à paz, como cantava John Lennon.