França: muitos a esperar por um novo Maio de 68! 

Macron arrisca-se a provocar a radicalização dos sindicatos de classe, CGT, CFDT e FO, com a generalização de surtos de conflitos laborais e uma possível greve geral no Outono que será convocada pelos sindicatos e pela oposição via a Nova Frente Popular

Macron eleito presidente da República Francesa, tentou catalisar o chauvinismo dos franceses com a velha noção da Grandeza absolutista e bonapartista e uma doutrina que combinaria o culto da independência económica, política e militar da França com a consolidação da missão da Nação e da cultura francesa no mundo, enfim tudo essa UE que dizem querer!

Implementando como o Célito dos Angolanos um poder de estilo presidencial com os seus conselheiros transformados numa camarilha de poder não oficial (emulando o Partido Gaullista, um movimento que cobria um espectro muito amplo, da centro-esquerda à extrema direita e em cujos líderes eram correias de transmissão subordinadas à liderança gaullista.

Tentando e falhando na Francofonia, como Portugal na Lusofonia como entidade económica e política integrada na língua francesa, a França procedeu à substituição gradual do tradicional colonialismo gaullista paternalista pelo de um neocolonialismo sob o título de “garante dos Direitos Humanos” do que resultou o fim da Françafrique como entidade política e económica após as grosserias recebidas em vários países africanos e o que seria um paradigma das declarações do Presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, acusando a França de exercer um “neocolonialismo paternalista”.

Tratando via os sucessivos governos franceses os territórios ultramarinos como colónias em vez de territórios com representação parlamentar, viu perder terreno em toda a região francófona para a Russia.
O conflito ucraniano tornou clara a total dependência da UE aos ditames dos EUA que se traduziu na perda do poder de decisão das instituições europeias e na sua total subordinação aos ditames geopolíticos dos Estados Unidos, com a França a ser uma potência média irrelevante na nova cartografia geopolítica da Guerra a que temos chamado de Gelo!

Macron utilizou o artigo 49.3 da Constituição que permite que uma lei seja aprovada sem ser votada pelos deputados para aprovar a Reforma da idade mínima de reforma, passando dos actuais 62 anos para 64 anos no horizonte de 2030, o que virou um míssil na linha de água da idiossincrasia francesa, cuja imaginação colectiva teria internalizado o seu direito a uma reforma antecipada como recompensa pelo seu esforço de trabalho.

A derrota nas eleições europeias Macron obteve metade dos votos do União Nacional de Marine Le Pen, e Macron decidiu lançar inesperadamente a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições antecipadas.

Derrotado pelo bloco de esquerda, a Nova Frente Popular, que conquistou o maior número de assentos na Assembleia Nacional, Macron rejeitou a candidata do NFP Lucie Castets e optou por nomear o centro-direitista, 4.o lugar nas antecipadas, Michel Barnier como candidato a primeiro-ministro.

Tal desencadeou os protestos. de mais de 100 mil pessoas em toda a França contra a decisão absolutista de Macron, e deixando a nomeação de Barnier nas mãos da extrema-direita de Le Pen.

Como a França previsivelmente entrará em recessão económica em 2025, a uma perda do poder de compra dos trabalhadores devido à inflação galopante e o empobrecimento desenfreado das classes médias que poderá exacerbar a fractura social do país.

Assim, grandes sectores da população (especialmente os "sem-abrigo", os "indocumentados" e os deserdados dos subúrbios) serão obrigados a depender exclusivamente da caridade, diluindo assim os efeitos benéficos das medidas sociais clássicas (redução de impostos, aumento nos subsídios de desemprego e na discriminação positiva na colocação profissional e no direito dos imigrantes de votar nas eleições locais) devido à dura realidade económica.

Apostamos pois na radicalização dos sindicatos de classe (CGT, CFDT e FO) com os fortes surtos de conflitos laborais já referidos e a possível greve geral no Outono que será convocada pelos sindicatos e partidos de oposição.

E claro ressurgirão os grupos anti-sistema herdeiros das revoltas estudantis com o objectivo confessado de reeditar Maio de 68 e o fim da Quinta República.

Marine Le Pen poderá em novas eleições ser a vencedora das mesmas depois de absorver os destroços dos partidos de centro-direita, condenando aliás ao ostracismo um Macron que tentou implementar o Despotismo Iluminista que consiste em “Tudo para o povo mas sem o povo”.

Cá estaremos para ver.

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Antonio de Sousa