A procura por mundos semelhantes à Terra tem sido uma prioridade na exploração espacial moderna.

Hoje, foi alcançado um marco significativo com a revelação de um novo exoplaneta em órbita da estrela de Barnard, localizada a apenas 6 anos-luz de distância.

A descoberta, liderada por uma equipa internacional que inclui vários investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), destaca-se por ter identificado um planeta com metade da massa de Vénus, denominado Barnard b. Este resultado impressionante foi obtido através do método das velocidades radiais, uma técnica que mede pequenas variações no movimento das estrelas para identificar planetas em sua órbita.

A investigação foi publicada na prestigiada revista *Astronomy & Astrophysics* e baseia-se em mais de 150 observações realizadas ao longo de cinco anos com o ESPRESSO, um dos mais avançados espectrógrafos instalados no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO). André Silva, coautor do estudo e investigador do IA, destacou a relevância desta descoberta: “Esta investigação reforça a eficácia do método das velocidades radiais na deteção de exoplanetas de pequenas massas, permitindo-nos descobrir mundos que poderiam escapar a outras técnicas.”

A estrela de Barnard, uma anã vermelha com apenas 16% da massa do nosso Sol, sempre atraiu a atenção dos cientistas. Devido à sua menor temperatura e luminosidade, torna-se mais fácil detetar planetas rochosos a orbitar a curta distância. O exoplaneta agora descoberto completa uma órbita em apenas 3 dias e 4 horas e encontra-se 20 vezes mais próximo da sua estrela do que Mercúrio está do Sol. Contudo, com uma temperatura média de 125°C, este planeta encontra-se fora da chamada "zona habitável" – a faixa orbital em torno de uma estrela onde as condições poderiam permitir a existência de água líquida, um dos principais indicadores de habitabilidade.

A confirmação do Barnard b não foi uma tarefa fácil e exigiu o recurso a dados complementares obtidos por outros instrumentos especializados, como o HARPS, o HARPS-N e o CARMENES. Jonay González-Hernández, investigador no Instituto de Astrofísica de Canárias (IAC) e primeiro autor do estudo, afirmou: “Mesmo que tenha demorado muito tempo, estivemos sempre confiantes de que iríamos encontrar algo.” Essa persistência permitiu também a identificação de indícios de mais três candidatos planetários em torno da estrela de Barnard, cujas existências exigem, no entanto, mais dados para serem confirmadas.

Para além de assinalar um novo avanço no estudo de exoplanetas, este trabalho consolida o papel do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço na linha da frente da investigação planetária. A equipa do IA, liderada por Nuno Cardoso Santos, professor da Universidade do Porto, está a preparar o terreno para os próximos grandes projetos na área da deteção de planetas e caracterização das suas atmosferas. Entre os futuros projetos destaca-se o espectrógrafo ANDES, que será instalado no Extremely Large Telescope (ELT), atualmente em construção e que promete ser o maior telescópio ótico e infravermelho do mundo. “O ESPRESSO está a permitir-nos abrir caminho para a ciência que vai ser feita com o próximo grande projeto nesta área: o espectrógrafo ANDES. A nossa forte contribuição para este projeto garantirá que estaremos na linha da frente de novas descobertas nesta área”, explica Cardoso Santos.

O envolvimento do IA com instrumentos de ponta, como o ESPRESSO, e com missões espaciais da Agência Espacial Europeia (ESA), como o PLATO (previsto para 2026) e o ARIEL (com lançamento programado para 2029), posiciona Portugal como um dos protagonistas na nova era de exploração planetária. Com estes desenvolvimentos, a ciência astrofísica está mais próxima de responder a uma das questões mais fundamentais da humanidade: estaremos sozinhos no universo?

A equipa do IA permanece otimista em relação às novas descobertas que poderão surgir, e com cada novo planeta revelado, damos mais um passo para compreender a complexidade e a diversidade dos sistemas planetários que nos rodeiam. O desafio é grande, mas, como provado mais uma vez, a vontade de explorar o desconhecido está sempre presente. “Estamos a construir o futuro da astrobiologia e da astrofísica com cada nova deteção. Quem sabe o que o próximo ano nos poderá revelar?” conclui André Silva, demonstrando o entusiasmo que caracteriza esta nova geração de caçadores de planetas.

Nota do Editor:
O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é um dos principais centros de investigação em astrofísica na Europa, estando envolvido em projetos de ponta na deteção e caracterização de exoplanetas. Para mais informações sobre este e outros projetos, consulte [astro.up.pt]( https://www.astro.up.pt  ).

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Foto de destaque: Criada por IA