Na recente cimeira entre líderes europeus e representantes dos Estados Unidos, a mensagem foi clara: a Europa tem de assumir uma maior responsabilidade na sua segurança e defesa. Olaf Scholz, Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen reiteraram que qualquer solução para a guerra na Ucrânia deve contar com Kiev e que “nenhuma decisão pode ser imposta” ao país invadido. Mais do que uma demonstração de apoio, esta posição reflete uma mudança de paradigma: a UE está a reconhecer que precisa de uma política externa mais autónoma e coesa.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, reforçou essa necessidade ao afirmar que as garantias de segurança à Ucrânia devem ter “o apoio da Europa”, deixando claro que esta não pode continuar a depender apenas dos EUA e da NATO para garantir a sua estabilidade.
No entanto, essa coesão não é isenta de desafios internos. A presença de líderes como Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, tem sido um fator de desagregação dentro do bloco. Orbán tem consistentemente bloqueado decisões cruciais, desde sanções à Rússia até ao financiamento da Ucrânia, colocando em causa a unidade europeia num momento crítico.
Mas, paradoxalmente, a própria resistência de líderes como Orbán tem funcionado como um elemento galvanizador para a maioria dos países europeus. A oposição às suas posições tem levado os outros Estados-membros a reforçarem a sua determinação e a procurarem soluções alternativas para impedir que a UE fique refém de um ou dois governos divergentes. O recente acordo para desbloquear fundos europeus para a Ucrânia, contornando os vetos de Budapeste, demonstra que a Europa está disposta a superar divisões internas para manter o seu compromisso com a defesa dos valores democráticos.
A crise atual está a obrigar a UE a acelerar a sua integração em áreas sensíveis, como defesa, segurança energética e autonomia industrial. A guerra mostrou a vulnerabilidade da dependência energética da Rússia, levando a uma transição mais rápida para fontes alternativas. Da mesma forma, o reconhecimento da necessidade de uma política de defesa comum está a ganhar força, abrindo caminho para um reforço das capacidades militares do bloco.
Apesar dos desafios internos e dos obstáculos criados por alguns líderes, o sentido geral da UE aponta para uma maior coesão e autonomia estratégica. O pragmatismo e a necessidade de sobrevivência estão a sobrepor-se às divisões ideológicas, levando a uma União Europeia mais forte e resiliente.
Nos últimos anos, a União Europeia enfrentou três desafios históricos que testaram a sua capacidade de adaptação e resiliência. O primeiro foi o Brexit, que colocou em causa a integridade do bloco e abriu um precedente perigoso para futuros movimentos separatistas. O segundo foi a pandemia de COVID-19, que exigiu uma resposta coordenada sem precedentes, forçando os Estados-membros a trabalharem em conjunto em questões como saúde pública, financiamento europeu e recuperação económica. O terceiro, a guerra na Ucrânia, veio reforçar a necessidade de uma defesa comum, de uma política energética mais autónoma e de um posicionamento estratégico mais firme no cenário global.
A Europa demonstrou que, mesmo perante crises profundas, consegue adaptar-se, encontrar soluções e emergir mais forte. A necessidade de cooperação tem sido uma constante ao longo destes desafios, obrigando os Estados-membros a trabalharem cada vez mais em conjunto, a tomarem decisões coletivas e a reforçarem políticas comuns que antes pareciam impossíveis.
Se há algo que a história recente da União Europeia nos mostra, é que a sua verdadeira força reside na sua capacidade de aprender, evoluir e unir-se nos momentos mais difíceis. E este momento não será exceção.
Morgado Jr.
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