A realização de eleições legislativas antecipadas criou um dilema estratégico entre os partidos com ambições nas autarquias: manter os mesmos nomes nas candidaturas ao Parlamento e às câmaras municipais, ou separar claramente os caminhos?
No PS, a resposta foi clara. A decisão, tomada no último Conselho Nacional, ditou que os 13 deputados socialistas já confirmados como candidatos às eleições autárquicas não integrarão as listas para a Assembleia da República. Uma escolha com impacto político direto, já que envolve nomes sonantes como Alexandra Leitão, Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa — todas ex-ministras e agora excluídas das legislativas.
A justificação oficial aponta para a necessidade de proteger as campanhas locais de eventuais interpretações negativas: a presença simultânea numa lista para a Assembleia da República poderia ser vista como um "plano B", sinalizando falta de confiança na vitória autárquica. Além disso, abriria espaço para críticas dos adversários políticos.
Assim, além de Alexandra Leitão, atual líder parlamentar e candidata à Câmara de Lisboa, também ficam de fora das legislativas os deputados Ana Abrunhosa (Coimbra), Ana Mendes Godinho (Sintra), Manuel Pizarro (Porto), João Paulo Correia (Vila Nova de Gaia), Isabel Ferreira (Bragança), Nélson Brito (Aljustrel), Ricardo Costa (Guimarães), João Azevedo (Viseu), Clarisse Campos (Alcácer do Sal), Fernando José (Setúbal), José Cruz (Santa Comba Dão) e Ana Sofia Antunes (Oeiras).
Importa sublinhar que alguns destes nomes, como Nélson Brito, Manuel Pizarro, João Paulo Correia e Ricardo Costa, já tinham anunciado que não pretendiam recandidatar-se à Assembleia, assumindo como prioridade o trabalho autárquico.
Por outro lado, Marcos Perestrello, que chegou a ser apontado como potencial candidato do PS à Câmara de Cascais, não chegou a ser oficialmente anunciado. Por isso, mantém-se nas listas para deputado.
A posição do PS contrasta com a estratégia seguida por PSD e Chega. Ambos os partidos decidiram manter os seus candidatos autárquicos também nas listas para o Parlamento.
No caso do PSD, trata-se apenas de Ricardo Araújo, candidato a Guimarães. Já o Chega apresenta uma verdadeira duplicação de quadros: são 14 candidatos autárquicos que também constam das listas legislativas. Entre eles destacam-se Rita Matias (Sintra), Pedro Pinto (Faro), Rui Paulo Sousa (Amadora), Rui Cristina (Albufeira), Pedro Correia (Santarém), Manuela Tender (Chaves), João Tilly (Seia), Bernardo Pessanha (Viseu), Gabriel Mithá Ribeiro (Pombal), Luís Paulo Fernandes (Leiria), Bruno Nunes (Loures), Rui Afonso (Gondomar), Filipe Melo (Cascais) e Nuno Gabriel (Sesimbra).
Esta aposta do Chega revela, segundo algumas análises críticas, uma possível carência de quadros disponíveis para ocupar os espaços político-partidários tanto a nível nacional como local.