Isto da Economia Solidária…
O antigo secretário de Estado da Justiça João Tiago Silveira, que é um dos arguidos da Operação Influencer, coordenou para o Governo o grupo de trabalho responsável pelo simplex administrativo, na área ambiental e industrial, de forma “integralmente gratuita”.

Parece que agora o pessoal não está habituado a que além da caridade não pode haver atividade solidária …

Pois bem toda uma inteira equipa de uma das empresas que fundei, de consultoria, esteve, gratuitamente, um fim de semana inteiro em no meio duas noitadas completas a auxiliar um importantíssimo ( e riquíssimo) instituto público a solucionar gaffes das estupidas burocracias do Fundo Social Europeu!

No caso não ganhámos nem antes nem depois um tostão com o referido instituto …

É situação que hoje dá direito a notícia segundo o media PÚBLICO via gabinete do secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo.

Chama-se a tal viver em contexto de economia solidária !

Ah os liberais não entendem tal nos dias de hoje mas vale recordar, e relevo lem mix de economia esmoler/caritativista e economia solidária privatista as vivendas operárias que merecem artigo diverso deste bem focado na tese da promoção de uma visão da economia centrada na solidariedade!

Divulguemos aqui dois exemplos de economia solidária que se desenvolveram no âmbito da Educação o meio de fazer crescer o sentido crítico no seio dos trabalhadores das classes desfavorecidas libertando-a da escravatura cultural vinda da igreja católica vaticanista dinamizados pelos movimentos anarquistas e republicano carbonários - a Voz do Operário e os Centros Escolares Republicanos!

A resiliência da Voz do Operario merece um apontamento especial pela sua enorme capacidade de sobrevivência às mutaçoes sócio políticas desde a monarquia, mais ou menos liberal ás instabilidades da I República ao Fascismo salazarento e ao pós 25 de abril demasiado centrado na escola pública e muito pouco vocacionado para vivências solidárias inter cidadãs e cidadãos também no Ensino !
A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário

A mesma nasce num contexto histórico que, em grande parte, constitui a causa que preside à sua fundação. Um movimento operário em ascensão, num tempo marcado pela luta contra a monarquia, em que republicanos e socialistas obtêm o apoio significativo das classes laboriosas e cujos ideais não só encontram eco junto destas como as mobilizam para a transformação e a mudança.
Em Portugal, a indústria tabaqueira é, no terceiro quartel do século XIX e segundo o historiador Armando de Castro, aquela que gera o maior volume de negócios. Geradora de lucros volumosos, a indústria dos tabacos despertava o interesse de investidores e, em pouco mais de uma década, o crescimento industrial acelerado dá origem a quase uma vintena de fábricas que empregam perto de cinco mil operários, na sua grande maioria tarefeiros e jornaleiros. Ao aumento da produção não está porém associado o aumento do consumo e, em 1879, uma dura crise atinge a indústria tabaqueira, originando um forte desemprego e agravando as já difíceis condições de vida dos operários da manufatura do tabaco. Sucedem-se as greves e as manifestações, das quais os jornais da época vão dando conta, embora quase sempre, na perspetiva patronal.
Seria, aliás, a recusa de um título de então em publicar uma notícia sobre as condições de vida dos operários tabaqueiros que estaria na origem da criação do jornal A Voz do Operário. Custódio Gomes, operário tabaqueiro, indignado com a recusa de publicação da referida notícia, segundo a tradição, teria afirmado que “soubesse eu escrever que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos um jornal. Bem ou mal, o que lá se disser é o que é verdade. Amanhã reúne a nossa Associação, e hei-de propor que se publique um periódico, que nos defenda a todos, e mesmo aos companheiros de outras classes”.
A proposta foi feita e aceite. Com sede no Beco do Froes (hoje rua Norberto de Araújo), ao Menino de Deus, em Lisboa, nasceu, a 11 de Outubro de 1879, o jornal A Voz do Operário pela mão de um outro operário tabaqueiro, Custódio Braz Pacheco.
A exigência financeira que implicava a manutenção do jornal levou a que os operários tabaqueiros procurassem formas de sobrevivência para o projeto. É assim que, a 13 de fevereiro de 1883, nasce a Sociedade Cooperativa A Voz do Operário em cujos estatutos se escreveu ser objeto da Sociedade “sustentar a publicação do periódicoA Voz do Operário, órgão dos manipuladores de tabaco, desligado de qualquer partido ou grupo político”; “estudar o modo de resolver o grandioso problema do trabalho, procurando por todos os meios legais melhorar as condições deste, debaixo dos pontos de vista económico, moral e higiénico”; “estabelecer escolas, gabinete de leitura, caixa económica e tudo quanto, em harmonia com a índole das sociedades desta natureza, e com as circunstâncias do cofre, possa concorrer para a instrução e bem-estar da classe trabalhadora em geral e dos sócios em particular”. Para tanto, os 316 sócios da altura comprometiam-se a pagar uma quota semanal de vinte réis, quantia que retiravam dos seus humildes salários.
Por solicitação dos associados, em julho de 1883, a atividade da Sociedade foi alargada à assistência funerária, correspondendo a uma necessidade da classe que se via confrontada com o exorbitante preço dos funerais. “Um jornal e uma carreta funerária, assim começa A Voz do Operário”, escreveu Fernando Piteira Santos.
Em julho de 1887, A Voz do Operário abandonou o Beco do Froes e mudou-se para a Calçada de São Vicente. Contava então com 1.114 sócios, sendo que nem todos eram operários tabaqueiros, o que obrigou a uma revisão dos estatutos, no ano de 1889, que viriam a ser aprovados pelas autoridades no ano seguinte, convertendo-se a Sociedade Cooperativa em Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário.
Corria o ano de 1891, quando foi designada a primeira Comissão Escolar que preparou o arranque da primeira escola, em outubro desse ano, num novo edifício também na Calçada de São Vicente. Mas a Sociedade continuava a desenvolver-se e, em 1906, foi feita a proposta ao Governo de cedência de uma parcela de terreno da designada Cerca da Mónicas para a construção de um edifício de raiz onde pudessem ser instaladas as escolas e os serviços de A Voz do Operário. Foi João Franco, chefe de um Governo contestado e considerado ditatorial que, por decreto de 29 de maio de 1907, concedeu o espaço pretendido.
Em outubro de 1912, com a presença do próprio Presidente da República, Manuel de Arriaga, foi lançada a primeira pedra de construção da sede atual de A Voz do Operário (sita na Rua Voz do Operário, à Graça, em Lisboa), tendo as obras ficado concluídas em 1932. Nesta altura, a Sociedade tinha cerca de 70 mil sócios e era já o mais importante núcleo de instrução primária da cidade de Lisboa, com escolas a funcionarem também na periferia. Em 1938, as escolas de A Voz do Operário eram frequentadas por 4.200 alunos, na grande maioria filhos de operários.
Durante a Primeira República, A Voz do Operário conheceu um desenvolvimento ímpar. A vertente educacional passou a ocupar um lugar de destaque entre as suas atividades, enquanto prosseguia a publicação do jornal e a ação mutualista que se estendeu também ao apoio aos mais desfavorecidos, nomeadamente no fornecimento de refeições. Inaugurou-se na sede um balneário público para servir a população da zona e incrementaram-se os cursos de formação profissional, em particular, para as filhas dos trabalhadores, com os cursos de costura a registarem uma elevada frequência. Manteve-se a assistência funerária e inaugurou-se a biblioteca. É o período áureo da Sociedade que contava com inúmeros beneméritos entre os seus associados e viu o seu património aumentar fruto de muitos legados, quer imóveis quer móveis.
É precisamente a vertente educacional, bem como, a ligação à Instituição de eminentes figuras da cultura portuguesa que lhe permite sobreviver durante a ditadura do Estado Novo. Fundada pelos operários da indústria tabaqueira e assumindo-se desde sempre como organização de classe, A Voz do Operário viveu, no período da ditadura fascista, grandes dificuldades com a censura a amputar o jornal daquilo que o distinguia dos demais, as atividades culturais e serem cerceadas e a própria educação a ser sujeita às imposições do Estado Novo, esforçando-se mesmo assim por contribuir para a formação integral dos seus alunos.
Nem por isso, no entanto, a Instituição deixou de prosseguir os seus desígnios, embora muitas das dificuldades só tenham conseguido ser ultrapassadas com o 25 de Abril de 1974. Então, A Voz do Operário como que renasceu e o seu método pegadógico, o do Movimento da Escola Moderna, impôs-se no panorama do ensino nacional. Método que ainda hoje é seguido e que alia à aprendizagem das competências e saberes, a formação para a cidadania ativa, democrática e solidária.
Com a Revolução dos Cravos, a cultura voltou a preencher os espaços da sede, através de espetáculos musicais, cinema, teatro, exposições de artes plásticas e dança. Incrementou-se a prática desportiva e alargou-se a ação social aos idosos, com a inauguração de um centro de convívio e, mais tarde, com o apoio domiciliário a idosos e acamados. Surgiram as creches e os jardins-de-infância como forma de apoio às famílias, manteve-se a publicação regular - agora mensal - do jornal, repuseram-se os livros proibidos (e apreendidos pela polícia política) nas estantes da biblioteca, estendeu-se o ensino do 1.º ao 2.º ciclo, criou-se a Galeria João Hogan e, em 1987, a Marcha Infantil de A Voz do Operário (in site da Voz do Operário )
Centros Republicanos

Os centros republicanos foram-se disseminando um pouco por todo o país, à medida que o trabalho de propaganda ia dando os seus frutos e que a luta contra o analfabetismo se tornava um elemento central da acção republicana. A importância que neles assumia a função educativa é bem ilustrada pelo facto de muitos terem criado escolas e de incluírem a expressão «Centro Escolar Republicano» na sua denominação. Segundo M. C. Proença (2008), existiam, no final da República, em todo o país, 160 centros, 30 deles em Lisboa. No levantamento parcelar a que procedeu, A. H. de Oliveira Marques (1986) contabiliza 33 centros republicanos com escolas, a maioria deles situados em Lisboa, com o nome de centros escolares e de forte inspiração maçónica.
Na obra comemorativa do 50o aniversário da República, é apresentada uma relação de 24 centros existentes nos quatro bairros da capital, ainda que não seja referenciado o período exacto em que isso se verificava. A lista inclui os seguintes centros: Centro Dr. Alexandre Braga, Centro João Chagas, Centro Dr. Alberto Costa, Centro Rodrigues de Freitas, Centro Fernão Boto Machado, Centro Dr. António José de Almeida, Escola 31 de Janeiro, Grémio Republicano Federal e Centro Republicano Elias Garcia, no 1.o Bairro; Centro Democrático de Lisboa, Centro Dr. Afonso Costa, Centro Tomás Cabreira e Centro Heliodoro Salgado, no 2.o Bairro, o mesmo onde se situava o Centro Democrático, sede do directório do partido, e a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, dirigida por Ana de Castro Osório; Centro José Falcão, Centro Castelo Branco Saraiva, Centro Latino Coelho, Centro Alferes Malheiro, Centro Republicano das Mercês e Centro de Santa Isabel, no 3.o Bairro; finalmente, no 4.o Bairro, Centro da Ajuda, Centro de Belém, Centro Andrade Neves, Centro de Santos e Centro Dr. Bernardino Machado, onde funcionavam também a Sociedade Promotora de Educação Popular, o Grémio Republicano de Alcântara e a Associação de Propaganda do Ensino (História da República..., 1960, pp.486-487).

Centros Escolares Republicanos

1.1 - As Origens

Os Centros Escolares Republicanos são parte essencial da luta Republicana pela Laicidade e pela defesa da Educação crítica dos trabalhadores e mais desfavorecidos iniciada na segunda metade do século XIX e no XX, anos fora desaparecendo com a dramática perda de influência das Maçonarias em Portugal

A lenta industrializacao e o lento aparecimento da classe operária e outras classes de trabalhadores fizeram de Portugal uma originalidade na estruturação do movimento operário a partir da influência anarquista em concorrência não com forças socialistas da II Internacional mas sim com os sectores radicais da pequena burguesia organizada nas Carbonárias, primeiro monárquico liberais e de seguida Republicanas!

Da imensa variedade de todos os conflitos e problemas socio economicos numa transição para uma incipiente industrialização a par das características imperiais do reino e onde o Brasil apesar de independente continuou a ser um espaço de escoamento dos excedentes populacionais não impediu a criação de estruturas de solidariedade social para responder à pobreza, ao desemprego, e às lógicas esmoleres vaticano-catolicas opressoras e ao mesmo tempo ideológicamente manipuladoras!

O conflito entre o vaticanismo católico, as forças liberais monárquicas e as republicanas e os anarquistas gerou o surgimento de organizações alternativas às religiosas católicas paróquias cada uma procurando responder aos problemas soco economicos dramáticos no contexto da sua forma de pensar e viver o
Mundo!

Nasce assim uma cultura comunitarista vinda de certos forma das lógicas tradicionais comunitárias rural urbanas que foram respondendo às necessidades dos bairros às classes profissionais, entre mútuas de raiz medieval e outras bem moderno-neourbanas e as restantes estruturas como as sindicais, as cooperativas, formais e informais e as escolares-culturais !

Incentivadas num contexto de uma cultura radical rapidamente republicanizada e em boa parte inserida no ambiente cultural anarquista, por derrota e ineficacia socialista em Portugal a dinâmica Laica e melhor dizendo anti católica vaticanista desenvolveram um ativismo cultural e educativo radical por via de estruturas como Clube Escolar José Estêvão Coelho de Magalhães, de 1883, ou o Clube Magalhães Lima, de 1891, ambos de provável influência maçónica ou as Sociedade Promotora de Escolas, herdeira da Sociedade Promotora de Asilos, Creches e Escolas (fundada em 1904) e de uma mais antiga Sociedade Promotora de Creches, criada em 1876 ou como Rómulo de Carvalho diz sobre os Centros Escolares Republicanos e as suas funções, “tema de combate insistente na propaganda republicana foi sempre o da instrução, não só em palavras proferidas e escritas mas em realizações concretas. O Partido Republicano, que possuía Centros de convívio e de acção cultural espalhados por todo o país, instituiu escolas primárias nesses Centros onde muitos beneméritos, uns, professores de facto, outros, colaboradores animosos que supriam, com o seu entusiasmo, a falta de preparação específica para o desempenho de tal missão, empregavam as suas horas livres ensinando a ler, a escrever e a contar crianças e adultos. Esta actividade simpática cativou muita gente porque foi realizada com proveito e entusiasmo. Para outras camadas sociais, mais preparadas e mais exigentes, também o partido Republicano teve um auxílio a prestar, um pensamento a oferecer, uma informação a comunicar, organizando sessões diversas, promovendo conferências e dando lições pela voz de militantes prestigiados”

In As Origens - Secretaria-Geral do Ministério da Educação | Portugal e mais )

 

Joffre Justino

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