Dulce nasceu a 26 de setembro de 1927, em N'Dala, Angola, um local cuja paisagem e cultura lhe imprimiram uma sensibilidade estética particular. Desde cedo, a sua vida foi pautada pela capacidade de adaptação e superação. Envolveu-se em várias atividades ao longo da sua vida, desde a liderança na Juventude Independente Católica até à gestão de negócios de beleza em Angola e em Portugal.
Mesmo após a devastação do incêndio no Chiado em 1988, que destruiu o seu instituto de estética, Dulce não se deixou abater, e continuou a abrir novas portas para si mesma.
Aos 83 anos, decidiu reformar-se da vida empresarial e dedicar-se a uma nova paixão: a arte têxtil. E foi nessa fase que o seu espírito inovador e a sua determinação se manifestaram de forma mais evidente. Participando em vários cursos internacionais, contactou com mestres de renome nos Estados Unidos, Austrália, Inglaterra e Japão, onde absorveu técnicas que a levaram a desenvolver o seu estilo único.
Dulce Roselló não cria apenas com tecidos e linhas. Ela tece histórias, emoções e memórias em cada peça. A sua arte reflete não apenas a sua experiência de vida, mas também as diversas culturas e influências com as quais teve contacto ao longo dos anos. Desde o uso de materiais tradicionais, como sedas e algodões, até à experimentação com novas técnicas e materiais, como os "nonwovens" e tintas acrílicas, Dulce transforma cada obra numa experiência sensorial única.
Uma das suas peças mais emblemáticas, "Esplendor Cósmico" (2019), é um exemplo perfeito desta fusão de técnicas. Utilizando a técnica centenária de "paper foundation", ela revisita o passado e o reinterpreta através de uma lente moderna e inovadora. Outro exemplo é "Liquens II" (2019), onde Dulce explora texturas e materiais como feltro "Cunin" e rendas sintéticas, criando uma obra de arte têxtil que quase parece viva, com as suas formas orgânicas e palpáveis.
Além de ser uma criadora prolífica, Dulce tem também partilhado os seus conhecimentos com as gerações mais jovens, inspirando e formando outros no mundo da arte têxtil. O seu espírito generoso e o desejo de continuar a aprender e ensinar faz dela não apenas uma artista, mas também uma mentora.
Na sua exposição, "Ágora", inaugurada em 2019 no espaço atmosfera m, em Lisboac, Dulce apresentou obras que captam a essência de lugares de encontro e troca, não apenas de ideias, mas também de sentimentos e emoções. Obras como "Grandes Lagos Africanos" e "Paisagem Abissal" são uma representação visceral do seu estilo único e da sua capacidade de traduzir a natureza e as paisagens interiores em arte têxtil.
Como diz Dulce, citando as palavras que lhe foram ditas numa entrevista à RTP2, no programa Elogio da Paixão: “A paixão pela vida é aquilo que me move.” E é essa paixão que continua a alimentar a sua criatividade, mantendo-a ativa e inovadora, mesmo quando a maioria já teria optado pelo descanso.
Dulce Roselló é um exemplo vivo de que a idade é apenas um número e que o verdadeiro espírito criativo não conhece limites. Seja na estética ou na arte têxtil, Dulce continua a reinventar-se, mostrando que, para quem vive apaixonado pelo que faz, não existem barreiras, apenas novas oportunidades.
Nota do editor
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Morgado Jr.
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