O escritor brasileiro Décio Torres Cruz é conhecido por transitar com facilidade por universos aparentemente distintos. Recentemente em Lisboa para o lançamento do seu livro "A Poesia da Matemática", Décio seguiu de imediato para Madrid, onde foi surpreendido com uma homenagem especial no âmbito de um evento literário internacional.

O autor explicou, em entrevista exclusiva ao Estrategizando, o conceito intrigante que deu origem ao seu mais recente livro. "Nunca fui um excelente aluno de matemática, mas percebi que havia uma beleza única nas palavras matemáticas, como 'teorema' ou 'elipse'. Essa sonoridade poética levou-me a escrever um poema que, inesperadamente, transformou-se num livro inteiro", afirmou Décio durante a conversa que decorreu à distância, entre Lisboa e Madrid.

Ao mergulhar nesse projeto, Torres reencontrou a matemática, estudando a sua história e descobrindo a sua filosofia. Segundo ele, "a matemática, como todas as ciências, nasceu da filosofia e não existe uma separação real entre ciências humanas e exatas, pois ambas são faces da mesma busca pelo conhecimento". Além disso, o autor destacou o papel das mulheres na matemática e a sua contribuição fundamental ao desenvolvimento de áreas como a ciência da computação e a inteligência artificial.

Mas Décio Torres é também conhecido por outra faceta interessante: a sua "imortalidade". Integrante da Academia de Letras da Bahia, ocupa atualmente a cadeira 19, sucedendo ao historiador Cid Teixeira. Ao esclarecer este conceito, Décio explicou que a "imortalidade" dos académicos é simbólica e representa a continuidade das suas ideias, eternizadas através da escrita. "Como dizia Shakespeare, a verdadeira imortalidade está no que deixamos escrito e nos filhos que geramos. Escritores e intelectuais têm múltiplas imortalidades", concluiu.

Outro momento curioso foi a revelação da história por trás do seu livro anterior, "Histórias Roubadas". Originalmente intitulado "O Ladrão de Histórias", a obra mudou de nome graças à intervenção da premiada escritora portuguesa Teolinda Gersão, de quem Décio "roubou" a sugestão de título. O livro explora o conceito de escritores que "roubam" narrativas da vida real para criar as suas histórias, uma prática que, segundo Décio, já era feita por ninguém menos que Shakespeare.

Esta capacidade singular de entrelaçar diferentes disciplinas e perspetivas coloca Décio Torres como uma referência singular na literatura contemporânea, capaz de encantar tanto matemáticos quanto amantes da poesia.

Nota do Editor

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