Assim, não foi por causa desta obra prima que só apreendi lá pelos meus 30’as anos que me recusei português, europeu, imperialista, mas sim mais pelas clandestinas conversas entre amigos contra a guerra, pela leitura do Luuanda de Luandino Vieira e sobretudo pela idiotice inerente à guerra colonial e à estupida ditadura que no liceu Salvador Correia nos obrigava por regulamentação a ter a camisa dentro das calças e a andar de cabelo bem cortadinho!

Mais, aí pelo primeiro ano do liceu o único comandante de castelo da Mocidade portuguesa negro apareceu morto e tudo porque namorava com a filha de um luso juiz!

Tal foi o fim das atividades obrigatórias dessa Mocidade ( felizmente, que seca eram!) e um primeiro passo para a divisão- nao se mata alguem que ama seja Negro, Mestiço ou Branco seja lá o que tal significa!

O MPLA era o partido mais falado entre nós mas tive um amigo mestiço, o Quim que me quis convencer a aderir à UPA e depois aos meus 15/16 anos veio a UNITA num tempo em que contraditoriamente andei à boleia Angola fora sem nos lembrarmos sequer da existência de guerrilheiros e pensando mais em namoradas nas velhas Nova Lisboa, e Sá da Bandeira, ( lamentávelmente nao cheguei a Moçamedes por ordem paterna!)

Era Angolano enfim, e ir a Portugal era uma perda de tempo atrasado que o país era!

Era Angolano e queria tanto a Independência de Angola que no grupo onde convivia quando viemos para Portugal estudar fizémos o pacto de encontrarmos quem do MPLA nos levasse para as Matas

Foi um fracasso porque era branco e os brancos nao podiam ir para as matas disseram-nos e eu afastei-me

Mas nem assim virei portugues, europeu, atlantista e por isso dei-me muito bem numa maoista organização com um jornal Anti Colonial o Guerra Popular que nos permitia me permitiu reencontrarmo-nos com os Africanos da CONCP a Conferência das Organizações Nacionalistas da Colonias Portuguesas, a visao bem imperial e nada imperialista de Amilcar Cabral e do seu MAC, Movimento AntiColonialista!

Mais tarde estudando Norton de Matos descobri mais um Nao Europeu, Nao Português, mais um Filho do Imperio reflexão que reforcei com as leituras do espantoso Brasileiro Darcy Ribeiro e a sua caraterizacao do Imperio Teocratico Salvacionista portugues que me levou por exemplo a perceber que o fim do colonialismo nao deveria ter dado direito obrigatoriamente às desordenadas Independencias vividas em 1975 depois de a 01.07.70 o papa Paulo VI ao reunir com três dos movimentos de libertação pôs fim à benção papal a Portugal!

Foi entao que Portugal pôde de novo escolher - ser pequenino de 90 mil km2 ou ser parte de uma Confederação de Estados sendo que a parelha Tomás / Caetano seguindo o salazarento optou pela continuidade da guerra colonial!

Perderam a 25.04.74 e em 1975 faz 50 anos, 51 para a Guiné Bissau de Amilcar Cabral, acabou sem honra nem gloria o Imperio português o ultimo da Europa!

A esperança renasceu-me com a Declaração Constitutiva a 17 de julho de 1996, saída da Conferência de Chefes de Estado e de Governo de Lisboa com a presença de Angola, do Brasil, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Moçambique, de Portugal e de São Tomé e Príncipe. 

( Faltava ainda Timor Leste!)

Talvez a CPLP reequilibrasse este de inferioridade complexo europeu nascido via a derrota militar na guerra colonial!

Tal tambem nao aconteceu e hoje os Bagulhos todos europeus nem sabem que fazer com um estadunidense que seguindo Kissinguer quer o fim de uma UE que duvidosamente existe!

Basta ver que quem lá manda nao é a presidenta da Comissão Europeia, nem esta, nem o Parlamento Europeu, quem manda, transitoriamente ou nao sao os srs Starmer ( britanico e nem da UE). e Macron, pois a Alemanha anda perdida em negociações internas, mostrando quao pouco vale esta UE !

Enfim, antes Filho do Imperio, dos Mares Nunca Dantes Navegados, dos que buscaram os Encontros inter Comunidades Humanas, cheios de vicios e erros, e a acreditar que um dia será possivel uma Confederação de Estados de Lingua Portuguesa que andar embrulhado com os vendilhões de armas que amam a guerra!

 

  1. O complemento de hoje 10.06.2025

 

II Centenário da morte de Camões (1880)

 

A  10 de Junho de 1880 os Republicanos lançaram a entao revolucionaria iniciativa de comemorar o tricentenário da morte de Camões, sob a liderança de Teófilo Braga.

A Comissão executiva desta iniciativa foi eleita pelos

jornalistas e organizada por Latino Coelho e era composta por nove membros, todos eles homens de

esquerda e republicanos, com excepção de Pinheiro Chagas.

Teófilo Braga entretanto

conseguiu que um deputado monarquico e apoiante do governo, Simões Dias, apresentasse ao parlamento um projecto para

que o dia 10 de Junho fosse considerado de festa nacional. Ramalho Ortigão outro Republicano  redigiu o programa de um cortejo simbólico, que representava o povo e as suas sucessivas conquistas de liberdade e tudo decorreu perante uma evidente má vontade dos poderes monarquistas face  ao Centenário.

Este  Camões do 3.o Centenario, surge envolvido  numa mitologia romântica e  com uma carga

ideológica muito forte, reforçando o lado épico da história pátria e assim pôr a nu  o contraste com a decadência do presente monarquista, o que o Ultimatum e a questão colonial (the scramble for Africa) vieram reforçar.

Para Teófilo Braga, o Camoes surge  “symbolisando todas as aspirações da nacionalidade portugueza, as suas glorias e os seus desastres.", mostrando-se como se fosse um ativista  causa republicana.

Na História das Ideias Republicanas em Portugal, Teófilo Braga considera o 10

de Junho de 1880 "o começo de uma era nova" da "democracia portuguesa" e nas circulares da

comissão executiva para a  imprensa sobre  as comemorações, Teófilo definia estas comemorações

camonianas como um "começo para uma éra nova" e afirma que "todos unanimemente sentem que se entra na aurora de uma época nova de revivificação" (1891: 275), que "para Portugal inteiro é o começo de uma éra nova, o da revivescencia da nacionalidade." (id.: 277-8).

Sao pois os Republicanos, Democratas, Revolucionários, que fazem de Camões, um mito nacional  incentivando os portugueses à regeneração.

Num discurso no Congresso das Associações Portuguesas, p Camões proposto por Teófilo Braga é  uma arma ideológica dos republicanos contra o regime monarquista.

Além do cortejo cívico promovido pela comissão de imprensa que organizou os festejos do Tricentenário, merece

destaque a entronização de Camões no Panteão dos Jerónimos e a estátua erigida em 1867 em Lisboa transforma-se rapidamente num local de peregrinação, tanto nas Comemorações como no Ultimatum  momento em que é coberta  de panos negros simbolando o luto da patria

O ambiente da consagração nacional de 1880, contribuíram para a "democratização" de um Camões que na verdade tem muito de “fora da caixa”!

Teófilo considera Os Lusíadas um bastião da liberdade e da soberania nacionais, desde a Restauração à Revolução liberal, e clsro  com a visao republicana: "Na eloquencia dos factos, em as trez Revoluções de 1640, 1820 e 1910, em que Portugal reconquistou a

sua autonomia e reassumiu a soberania nacional, os Lusiadas actuaram como o livro que conserva a tradição de uma raça; bem merecem o titulo de Biblia Lusitana, que synthetisa a sua potencia moral." (id.: 742-3). Camões "teve o poder de provocar a sympathia social." (1891: VI), concluindo Teófilo, que "a sympathia social pela obra de Camões augmentou de intensidade, chegando ao ponto de identificar-se com o sentimento nacional." (id.: 266); "E o momento sublime e claramente comprehendido d' essa identificação, foi a festa triumphal do terceiro Centenario de Camões." (1914: 545).

Deve-se relacionar estas  festas cívicas com as comemorativas da Revolução Francesa, da concepção de grande homem de Oitocentos e "de um mitigado culto da humanidade", herdado de Comte centrados em representações simbólicas dos Estados-Nação  para "consensualizarem o seu poder",

substituindo as formas e funções do ritualismo religioso gerando uma nova memória nacional, com e um calendário de festas cívicas.

O grande homem tem uma exemplaridade típica e uma capacidade profética havendo  uma extração dos mortos uma mais-valia simbólica.

Para os positivistas e para Teófilo, estas celebrações exaltaram a solidariedade nacional, enquanto  lições de história, religando os indivíduos a uma totalidade que os podia motivar para a acção. Em Os Centenários (1884), Teófilo Braga sublinha que as nações se movem mais por sentimentos do que por ideias e que a sua força se mede pela sua solidariedade com o passado e a aspiração para o futuro.

No essencial havia que  despertar um sentimento nacional da sua tradição, pela veneração dos grandes homens, o que se devia manifestar nas festas nacionais e na celebração dos centenários de grandes homens, em que se afirmariam os sentimentos altruísta e de solidariedade.

Desta forma, o culto dos heróis promoveria a regeneração e Teófilo considera que a síntese afectiva, "correspondendo às novas noções moraes da solidariedade humana, manifesta-se pelos Centenarios dos Grandes Homens, ou dos grandes sucessos" (id.: vi).

Ao fazer um balanço do Tricentenário de Camões, considera que houve uma convergência do sentimento nacional e a expressão moral dada pela filosofia, numa aplicação da doutrina positiva, "que pelo seu valor synthetico produziu um saudavel abalo na consciencia do povo portuguez." (1892, II: 416).

Os textos escritos por Teófilo aquando do Tricentenário, reunidos no significativo Camões e o Sentimento Nacional (1891), apresentam Camões como patrono cívico da ressurreição da pátria integrando Camoes na Teoria dos Grandes Homens.

Na comemoração camoniana de 1880 celebrou-se pois  a antiga grandeza épica da pátria e os Descobrimentos, que a epopeia imortalizou, imbricando-se a teoria romântica e positivista dos "grandes homens". Se Os Lusíadas celebravam uma época heróica, e representavam o sentir colectivo da sua época, a épica dava expressão à grandeza da época de Quinhentos.

As comemorações do Tricentenário e a valorização dos Descobrimentos coincidem ainda com a fase do "regresso a África".

Nas palavras de Teófilo, as comemorações foram a "reivindicação do logar que nos compete na perpetuidade da historia pela acção directa que exercêmos provocando o advento da civilisação moderna." (1880: 17). Portugal tinha salvo a Europa da invasão turca e Camões cantava a Europa moderna, mercantil e cosmopolita, pacífica e científica, que começa no século XVI, com a descoberta dos portugueses do caminho marítimo para o Oriente.

Camões, enquanto génio  da Renascença é parte  da modernidade europeia

Como refere Antero de Quental acrescentando que "os Lusiadas como uma das grandes obras dos tempos modernos. A imaginação prophetica do poeta anticipa tres seculos da historia psychologica da humanidade." (id.: 30).

O próprio Teófilo Braga virá a considerar o século XVI como o período de maior actividade da língua e da literatura portuguesa. Na Recapitulação enfatiza o seu juízo ao afirmar que foi "O maior seculo da historia, o seculo XVI" (1914: 23). Concorda finalmente, sem o confessar, com o Antero que afirmava que "A época nacional portugueza, por excellencia, é o seculo XVI." (Quental, 1872:

27).

Para julgar a arte camoniana, segundo Teófilo, era necessária uma teoria da história universal que a permitisse compreender.

Camões é assim entendido como um poeta nacional e cosmopolita.

Camões faz parte do pequeno número de eleitos que deram luz propria  à  marcha da Humanidade, "os poetas da Civilisação occidental", cujas epopeias são sínteses "das ultimas tres grandes edades sociaes", "relacionadas entre si, como que os cantos cyclicos da Epopêa da Humanidade." (1911: 337-9).

Mas o 10 de Junho sofre varias vicissitudes que merecem ser relatadas até dadas as diversidades ideológicas que o envolveram

Na sequência dos trabalhos legislativos após a Proclamação da República Portuguesa de 5 de Outubro de 1910, foi publicado um  decreto a  12 de Outubro determinando os feriados nacionais havendo  feriados eliminados, como  os religiosos, para reduzir  a influência social da igreja católica incentivando a laicização do Estado.

Este  decreto de 12 de Junho dava ainda a possibilidade dos concelhos escolherem um dia do ano que representasse as suas festas tradicionais e municipais e Lisboa aceita o 10 de Junho.

A 4 de Junho de 1920 é publicada a Lei n.º 983, considerando feriado nacional o dia 10 de Junho de 1920 dia dedicado à inauguração dos monumentos em homenagem aos Portugueses mortos pela Pátria na grande guerra.

A 25 de Maio de 1925 é publicada a Lei n.º 1.783, que considera nacional a Festa de Portugal, que se celebrará no dia 10 de Junho de cada ano.

A 1 de Agosto de 1929, através do decreto n.º 17.171, são fixados os feriados gerais da República, incluindo-se o dia 10

A 1 de Agosto de 1929, através do decreto n.º 17.171, são fixados os feriados gerais da República, incluindo-se o dia 10 de Junho como comemorativo da Festa de Portugal.

A 4 de Janeiro de 1952 procede-se à revisão dos feriados nacionais através do Decreto n.º 38.596 que  institui o dia 10 de Junho como "Dia de Portugal", consagrado à Festa Nacional, comemorativo de Camões, pelo alto valor nacional e pela projecção universal da obra de Camoes  comsagrando com ele a visao imperial colonial  ldos Descobrimentos.

Até ao 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional do Jamor em 1944.

A partir de 1963, o 10 de Junho tornou-se numa homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e do poder colonial.

O regime nascido com o 25 de abril converteu-o no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1978.

Hoje, nada como lembrar como Luis de Camoes este hoje consagrado Poeta de Portugal morreu pobre vivendo na base de esmolas que lhe eram dadas por um ou escravo ou amante Jau, javanês, que corria as ruas de Lisboa pedindo para o seu dono/amante/amigo e companheiro de infortunio!

Enfim nada a condizer nem com a cheganice nem com a ideia primeiro enriquece-se a nação fazendo crescer a economia para depois distribuir a riqueza!

Nem Jau nem Camoes teriam gostado dessa visao!

( apoiado em variado texto)