A Frente Sindical Nacional Universitária, a Federação Universitária Argentina (FUA) e o Conselho Interuniversitário Nacional (CIN), em declaração conjunta, apelaram à sociedade e ao Congresso para que defendam a educação e a ciência públicas. Segundo estas entidades, o cenário é alarmante: há uma perda orçamental real de mais de 30%, uma crise salarial sem precedentes para professores e funcionários (com rendimentos abaixo da linha da pobreza) e a paralisação de mais de 90 projetos de infraestrutura.
A crise não se limita às universidades. O sistema científico argentino enfrenta uma situação semelhante. A Agência Nacional de Promoção de Investigação, Desenvolvimento e Inovação suspendeu as suas atividades, enquanto o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONICET) sofreu cortes drásticos de financiamento.
Sem perspetiva de estabilidade ou oportunidades, jovens investigadores veem-se obrigados a abandonar carreiras científicas ou a procurar futuro no estrangeiro, gerando o que as entidades chamam de uma perigosa “fuga de cérebros”.
O veto do presidente Javier Milei à lei de financiamento universitário agravou os protestos em todo o país. Milhares de estudantes, professores e investigadores saíram às ruas para exigir que o Congresso reverta a decisão e garanta os recursos mínimos para a sobrevivência das universidades.
As organizações denunciam que, sem financiamento estável, se compromete não apenas o presente, mas também o futuro: “Não há possibilidade de garantir o desenvolvimento normal das nossas atividades sem lei de financiamento, do mesmo modo que não há futuro para a Universidade pública num país sem orçamento razoável e aprovado pelo Congresso para 2026”.
As dificuldades afetam diretamente os estudantes. Muitos não recebem atualização das bolsas universitárias e enfrentam restrições cada vez maiores nos programas de apoio, sendo obrigados a abandonar os estudos por falta de recursos. Professores e funcionários não docentes, por sua vez, recebem salários que perderam mais de 110% do seu poder de compra devido à inflação, mergulhando na pobreza.
As entidades recordam que a universidade pública argentina é um instrumento essencial de mobilidade social ascendente, responsável por abrir oportunidades e dar prestígio internacional ao país. É também o espaço onde se formam médicos, engenheiros, investigadores, docentes e profissionais que sustentam a economia e o sistema científico.
“Filhos e filhas de uma pátria que soube construir aquilo que não se pode em nenhuma outra parte do mundo: uma educação pública que iguala e nos faz livres”, lê-se no documento divulgado.
Apesar da gravidade da situação, as universidades reafirmam que não deixarão de resistir. Dirigem-se à sociedade argentina, agradecendo o apoio já manifestado nas ruas e nas redes, e pedem ao Congresso que garanta os recursos para o funcionamento das instituições.
📌Nota do Editor
No final, a mensagem unificadora das organizações é clara: a defesa da universidade pública é, acima de tudo, a defesa da soberania nacional, da justiça social e da possibilidade de construir um futuro melhor para as próximas gerações.
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