Nada melhor, portanto, que trazer à tona uma pequena mostra dessas manifestações de cultura e resistência. Hoje publicaremos um poema do escritor e poeta brasileiro residente em Portugal, Sérgio Correa Vaz e um soneto desse escriba que se dirige a vocês, carosleitores.
NOTÍCIA! NOTÍCIA!!
Eu soube! Eu vi!!
Eu soube da Revolução dos Cravos! 💐 .
Lá de longe,
lá do outro lado do Atlântico!
Lá do distante Brasil!
Pelas páginas dos jornais
que, relidos tantas vezes,
me marcaram de tinta
a branca camisa.
Portugal inteiro despertou
de um sono chumbo.
Abriu-se em festa!
Explodiu em cores!
Eu soube! Eu soube…
Da inesperada conjugação
Do povo sem armas!
Dos soldados armados e amados,
dos tanques nas ruas com flores!
Eu soube dos cravos
no dia 25 de abril! 💐
Espalharam-se pregados à lapela
de cada oficial,
de cada soldado armado
com a disposição pacífica
de inaugurar o novo!
Vermelhos, os cravos! 💐🪷
Como vermelhas são as revoltas
desde os escravos,
desde o trácio Spartacus.
Eu soube! Eu soube…
Dos ternos cortados a cinza frio
dos homens da tão temida PIDE!
Sumiram nas travessas escuras.
Desfizeram-se, envergonhados,
entre frios paralelepípedos
sobre os quais ocorria a festa das ruas!
Diluíram-se o SAL e o AZAR que neste país
se fincaram desde os remotos anos trinta…
Eu vi!
Nas fotos, o espanto em tantos olhos.
De camponeses, estudantes, soldados!
De simples funcionários e até de mendigos!
Eu vi!
Os olhares tornaram-se dignos.
Levantavam-se a dissolver o medo
antes incrustados em faces semirrígidas.
Dignos agora, os olhares que reverteram
o extermínio da alegria!
Teu rosto em festa me conta
das notícias de outrora
como se hoje fosse!
Portugal inteiro se abriu!
Assim, meninas e meninos,
eu soube! Eu vi!
Portugal se abriu!
Vermelhos, os cravos nas lapelas! 💐
Os teus olhos de um azul tão cristalino…
E o céu
em festa
do mais puro anil. 🎉
Lisboa, em abril de 2024
@sergiocorreavaz
SONETO DO 25 DE ABRIL
Sempre te admiramos, Portugal,
Por teu fado de história e humanidade,
Pela conquista da fraternidade
Numa luta incruenta sem igual.
Combateste com lágrimas de sal
Nos teus olhos vermelhos de crueldade,
Com a alma maior que a imensidade
Sem apelo à vingança a qualquer mal.
Com as armas do amor e da verdade,
Em consciência e clamor de liberdade,
Derrotaste os tiranos e os vilões.
E desmontaste o ódio dos covis
Com teus cravos na ponta dos fuzis
E uma canção na boca dos canhões.
Paulo Martins
Lisboa, 19 de abril de 2024