Hoje o mundo se volta para as comemorações do 51º aniversário da revolta popular que derrubou o fascismo em Portugal, em 25 de abril de 1974.

A cada ano as comemorações se repetem, sempre mobilizando uma multidão, que festeja como se estivesse vivendo o dia da libertação. Ao mesmo tempo acompanha-se oenriquecimento da literatura,d a poesia, da música, do cinema, das artes plásticas e outros tipos de manifestações artísticas em torno da icônica Revolução dos Cravos, capitaneada pelo Movimento das Forças Armadas e seus bravos capitães.

Nada melhor, portanto, que trazer à tona uma pequena mostra dessas manifestações de cultura e resistência. Hoje publicaremos um poema do escritor e poeta brasileiro residente em Portugal, Sérgio Correa Vaz e um soneto desse escriba que se dirige a vocês, carosleitores.

 

NOTÍCIA! NOTÍCIA!!

 

Eu soube! Eu vi!!

Eu soube da Revolução dos Cravos!     💐  .

Lá de longe,                                                      

lá do outro lado do Atlântico!

Lá do distante Brasil!

 

Pelas páginas dos jornais

que, relidos tantas vezes,

me marcaram de tinta

a branca camisa.

 

Portugal inteiro despertou              

de um sono chumbo.

Abriu-se em festa!

Explodiu em cores!        

 

Eu soube! Eu soube…

Da inesperada conjugação

Do povo sem armas!

Dos soldados armados e amados,

dos tanques nas ruas com flores!      

 

Eu soube dos cravos

no dia 25 de abril! 💐

Espalharam-se pregados à lapela

de cada oficial,

de cada soldado armado

com a disposição pacífica

de inaugurar o novo!

 

Vermelhos, os cravos! 💐🪷

Como vermelhas são as revoltas

desde os escravos,

desde o trácio Spartacus.

 

Eu soube! Eu soube…

Dos ternos cortados a cinza frio

dos homens da tão temida PIDE!

Sumiram nas travessas escuras.

Desfizeram-se, envergonhados,

entre frios paralelepípedos

sobre os quais ocorria a festa das ruas!

 

Diluíram-se o SAL e o AZAR que neste país

se fincaram desde os remotos anos trinta…

 

Eu vi!

Nas fotos, o espanto em tantos olhos.

De camponeses, estudantes, soldados!  

De simples funcionários e até de mendigos!

 

Eu vi!

Os olhares tornaram-se dignos.

Levantavam-se a dissolver o medo

antes incrustados em faces semirrígidas.

Dignos agora, os olhares que reverteram    

o extermínio da alegria!

 

Teu rosto em festa me conta

das notícias de outrora

como se hoje fosse!

 

Portugal inteiro se abriu!

 

Assim, meninas e meninos,

eu soube! Eu vi!

Portugal se abriu!

Vermelhos, os cravos nas lapelas!  💐

 

Os teus olhos de um azul tão cristalino…  

E o céu

  em festa

        do mais puro anil. 🎉

 

Lisboa, em abril de 2024

@sergiocorreavaz

 

 

SONETO DO 25 DE ABRIL

 

Sempre te admiramos, Portugal,

Por teu fado de história e humanidade,

Pela conquista da fraternidade

Numa luta incruenta sem igual.

 

Combateste com lágrimas de sal

Nos teus olhos vermelhos de crueldade,

Com a alma maior que a imensidade

Sem apelo à vingança a qualquer mal.

 

Com as armas do amor e da verdade,

Em consciência e clamor de liberdade,

Derrotaste os tiranos e os vilões.

 

E desmontaste o ódio dos covis

Com teus cravos na ponta dos fuzis

E uma canção na boca dos canhões.

 

Paulo Martins

Lisboa, 19 de abril de 2024