"Vejo com tristeza e lamento muito o ponto a que chegámos. O tribunal desenvolveu tamanha hostilidade à minha defesa e ao meu advogado que ele achou que tinha chegado que isso ofendia a sua dignidade profissional e também a capacidade para exercer convenientemente a minha defesa. Essa foi a reflexão a que ele chegou e que me comunicou ontem em definitivo", começou por dizer, em declarações aos jornalistas, na Ericeira.
"Aquilo que a senhora juíza fez ao destratar o meu advogado e considerando que o meu advogado estava a encenar uma qualquer espécie de brincadeira, a propósito do depoimento da minha mãe. Isso, pura e simplesmente, não é verdadeiro", afirmou.
Explicou ainda que foi perguntado ao médico da sua mãe, de 94 anos, se ela poderia ir depor em tribunal, tendo o médico recomendado que "não o fizesse", acrescentando que "a vontade da mãe" era "no sentido de fazer esse depoimento". "Mas, achei que era suficiente comunicar isso ao tribunal".
"As razões pelas quais não presta [declarações] é porque tem 94 anos e não tem condições de saúde para se deslocar ao tribunal e para enfrentar toda a carga que envolve uma testemunha como a minha mãe. Para isso, para defender a minha mãe, achei que era só necessário entregar, como o meu advogado fez, um atestado médico no tribunal".
Para o antigo primeiro-ministro, a juíza achou que "havia uma qualquer espécie de conspiração entre o meu advogado, o advogado que o substituía para interromper as atividades do tribunal".
"Equivocou-se e maltratou as pessoas sem nenhuma razão. O meu advogado achou que isso ia para lá do limite aceitável porque isso pôs em causa a sua dignidade pessoal e as condições para o exercício da sua função", salientou.
José Sócrates sublinhou ainda que Pedro Delille "é um grande advogado, uma grande companheiro e foi um grande amigo nestes últimos 11 anos". No entanto, acredita que o tribunal tem agora o que quer.
"As juízas foram tão hostis. A senhora juíza presidente é que achou que devia construir um título para os jornais ou para os tablóides com o 'acabou a brincadeira' e ofendeu, com isso, as pessoas. Não tratou com aquilo que são os deveres da urbanidade um membro do tribunal", continuou.
O ex-governante referiu ainda que este episódio "foi a gota de água, ainda por cima a propósito da minha mãe".
"E o que eu vi, eu não estava sequer no país nessa altura, mas, quando cheguei, pude ver nas televisões e nos jornais tudo falsidades que a minha mãe tinha faltado - não, não faltou -, que o meu advogado tinha faltado - não, não faltou. O meu advogado, e daí vem a base de todo o equívoco, tinha subestabelecido num outro advogado que, por acaso, teve por razões imponderáveis, chegou atrasado ao tribunal, ele explicou tudo isso ao tribunal", disse.
E acrescentou: "O meu advogado é completamente inocente nisso. A senhora juíza achou que devia aproveitar a oportunidade para o desconsiderar à frente de toda a gente. Isso, aliás, não me surpreende porque tem sido esse o comportamento com a minha defesa".
Questionado sobre se já encontrou um substituto para Pedro Delille, Sócrates adiantou que "não". "Esta situação tem, para mim, em definitivo porque acompanhei a reflexão que o Pedro fez durante o fim de semana. Mas tem, para mim, cerca de 24 horas".
"Há muito tempo que vivemos esta situação. Para a justiça portuguesa, eu perdi todos os direitos há mais de 11 anos. Mas, enfim, vamos também discutir isso noutros sítios".
De recordar que, esta terça-feira, Pedro Delille, renunciou ao mandato de defensor do antigo primeiro-ministro no julgamento da Operação Marquês, tendo o tribunal ordenado a nomeação de um advogado oficioso para assegurar a defesa do ex-governante.
No requerimento remetido ao tribunal, a que a Lusa teve acesso, Pedro Delille denuncia um "simulacro de julgamento" e justifica a renúncia com "razões deontológicas", depois de, na semanada passada, o coletivo de juízes ter decidido reportar à Ordem dos Advogados a conduta profissional do causídico, por este ter presumido que a sessão iria começar mais tarde e ter chegado atrasado.
"Fiquei definitiva e absolutamente convencido, após o episódio da passada quinta-feira, que soma a tudo o resto oportunamente denunciado, de que continuar neste julgamento violenta em termos insuportáveis a minha consciência como advogado e a ética que me imponho, a minha independência, integridade e dignidade profissional e pessoal", sustenta.
"Repudio e recuso participar e validar, um minuto mais que seja, neste simulacro de julgamento, neste 'julgamento a brincar'", conclui.
Pedro Delille, note-se, representava José Sócrates sensivelmente desde que o antigo primeiro-ministro (2005-2011) foi detido no aeroporto de Lisboa, em novembro de 2014.
Como é evidente este tribunal ddvdria ser inspecionado sem falta para que possamos continuar a acreditar as pessoas sao inocentes até prova em contrario, sem ser aqui importante a justeza das posições de Socrates