O seu mais recente livro, Haiku de Judas, publicado pelas Publicações Nabo, é um exemplo dessa ousadia: 29 haikus apresentados como “tercetos anarcósmicos”, acompanhados por uma dupla exposição fotográfica de Miguel Palhinha e design de Luís Gregório. A proposta é um mergulho poético nas margens do sagrado e do profano, onde cada verso é um sismo na consciência coletiva. O livro soma-se a uma obra já vasta, com títulos como O Fim da Noite (2016), Sol Invicto, Sutra do Deserto e A Boca Cheia de Cadáveres (pela Traça Edições), e o infantil Atlas do Coração, publicado pela Toth.
Cobramor tem sido reconhecido desde cedo: venceu o prémio Lisboa à Letra em 2004 e obteve menção honrosa da Casa da Imprensa em 2006. Como colunista e comentador cultural, marcou presença em publicações tão diversas quanto Público, Bandcamp, DIF, Palavrar, MAPA, Umbigo, Gerador, A Batalha, Vice, Barlavento e Postal do Algarve.
Na tradução, deu voz em português a nomes maiores da literatura e música internacional: Patti Smith, Ernest Hemingway, Gary Snyder, Kae Tempest e William Carlos Williams foram alguns dos autores que transportou para a nossa língua. Enquanto editor, destacou-se com projetos como Se Eu Tiver de Morrer – Poesia de Resistência Palestiniana ou Escuta Quântica, de Pauline Oliveros.
A sua intervenção cultural vai além do papel. É programador na associação CAL e na associação ERMO, ligadas ao ativismo cultural. Criou o Oxímoro – Festival de Literatura Independente do Algarve e o irreverente Clube dos Poetas Tortos. Participou em eventos de grande visibilidade como a Feira do Livro de Lisboa ou o Lisboa Film Fest, e a sua presença performativa materializa-se num projeto de spoken drone punk, onde funde spoken word com música exploratória improvisada.
Formado em Sociologia, Cobramor atua também como copywriter publicitário criativo desde 2010, numa ponte entre o universo comercial e a sua pulsante atividade literária.
Num tempo de ruído e conformismo, Cobramor mantém-se um farol dissonante e necessário, desconstruindo códigos e criando novas linguagens de resistência estética. O seu percurso mostra que a cultura não precisa ser domesticada – pode ser insubmissa, poética e ferozmente viva.