A RPChina deu mais um passo em sua disputa economica com os EUA ao anunciar medidas que reforçam sua posição no cenário global e ampliam sua influência nos países menos desenvolvidos. Assim desde o 1º de dezembro, que a RPChina adota uma política de tarifa zero para todos os produtos originados de países classificados como os menos desenvolvidos do mundo, conforme um critério da ONU.
A medida visa estimular o intercâmbio comercial com essas nações e consolidar a China como o parceiro estratégico dominante do Sul Global.
A isenção vale para países que tenham relação diplomática com a China e um rendimento per capita bruto inferior a US$ 1.018 dólares.
Esta política aplica-se a cerca de 30 países africanos, tais como Angola, São Tomé e Príncipe e Ilhas Salomão.
A RPChina é o primeiro país de grande porte a oferecer essa alternativa a países com pouca inserção no comércio internacional.
O cientista político Augusto Leal Rinaldi analisa a nova estratégia chinesa como um movimento de duplo impacto.
“As imposições tarifárias dos Estados Unidos não serão recebidas impunemente pela China. Os chineses têm condições de retaliar – e é o que estão fazendo ao reduzir a exportação de minérios necessários para a fabricação de componentes tecnológicos – e isso mostra, sobretudo à nova administração Trump, que a guerra comercial também afetará negativamente os Estados Unidos”, destacou Rinaldi.
A decisão de isentar países menos desenvolvidos de tarifas de importação também carrega uma mensagem geopolítica. Segundo Rinaldi, a RPChina mostra assim que privilegia a estabilidade e o desenvolvimento, particularmente da África, contrastando com a postura isolacionista dos EUA.
“Isso demonstra a disposição da China de se apresentar como um país comprometido com uma agenda de globalização e facilitação de intercâmbio comercial. Os chineses aparecem como um país preocupado com a estabilidade global e sensível aos interesses dos países de menor desenvolvimento relativo. Parece-me ser uma estratégia de maior alinhamento aos países do chamado Sul Global e, ao mesmo tempo, um posicionamento de grande potência ao lidar de maneira assertiva à postura iliberal por parte de Washington”, analisa ele.
Assim, cerca de 30 países africanos poderão exportar seus produtos à China sem tarifas, desde que mantenham relações diplomáticas com o gigante asiático.
Essa política se soma a décadas de investimentos chineses na África e conforme a Iniciativa de Pesquisa China-África (CARI), os investimentos diretos da China na região saltaram de US$ 74,8 milhões em 2003 para US$ 4,23 biliões em 2020.
Em setembro, o presidente Xi Jinping anunciou um financiamento adicional de US$ 50 biliões para os próximos dez anos.
O porta-voz do Ministério do Comércio chinês, He Yongquian, informou que a política tarifária busca integrar os países menos desenvolvidos ao “vasto mercado chinês”, promovendo oportunidades economicas mútuas.
A cooperação China-África está alinhada com os objetivos da UNCTAD de promover o desenvolvimento sustentável com investimentos em infraestrutura que aprimoram as capacidades de fabricação da África, aumentando as oportunidades comerciais, fomentando a diversificação economica e integrando os países africanos à cadeia de valor global.
Enquanto a China avança com medidas de integração economica, os EUA endurecem as restrições à exportação de tecnologias avançadas para o gigante asiático.
O Bureau of Industry and Security (BIS), órgão ligado ao Departamento de Comércio norte-americano, anunciou controles adicionais sobre semicondutores, uma resposta à crescente competitividade tecnológica chinesa e a RPChina contratacou restringindo a exportação de materiais críticos como germânio e gálio, essenciais para a produção de chips, afetando diretamente a cadeia produtiva dos EUA.
A relação entre a RPChina e EUA também se aquece no âmbito do BRICS com Trump, a ameaçar impor tarifas de 100% sobre os produtos de países membros caso avancem propostas como a criação de uma moeda comum, discutida na cúpula do grupo em outubro, em Kazan, Rússia.
A disputa na verdade vai além da economia sendo respostas ao crescente protagonismo chinês e à tentativa de balanceamento de poder global.
A RPChina , pelo seu lado, tenta consolidar-se como um líder de uma ordem multipolar que desafia a hegemonia dos EUA e assim a guerra comercial com os EUA não é apenas uma disputa economica, mas uma batalha pela definição da nova ordem mundial.
Enquanto os Estados Unidos apostam no protecionismo e na competição tecnológica, a RPChina investe em alianças comerciais estratégicas e apresenta-se como defensora da globalização inclusiva.
O cenário para 2025 será decisivo, com a reconfiguração das políticas externas de ambas as potências e o impacto disso sobre o BRICS e o comércio global e moldará não apenas as relações bilaterais, mas também o equilíbrio de poder no século XXI.