A conversa revela um olhar crítico e informado sobre a crescente aliança entre o governo de Emmanuel Macron e a extrema-direita liderada por Marine Le Pen, bem como os perigos que tal confluência representa para a democracia em França. Balavoine não apenas denuncia o atual estado de coisas, mas também apela à união das forças de esquerda e à mobilização popular para enfrentar este desafio.
Na abertura da entrevista, Charlotte Balavoine descreve a situação política em França como "dramática", afirmando que Macron abriu "uma porta muito perigosa" ao aproximar-se da extrema-direita. A nomeação de Michel Barnier como primeiro-ministro, sem ter sido eleito democraticamente, constitui, nas suas palavras, um golpe contra os princípios democráticos: "Se isto acontecesse noutro país, seria visto como um golpe de Estado."
Esta nomeação, segundo Balavoine, é um reflexo direto do pacto tácito entre Macron e o *Rassemblement National* (RN), o partido de Le Pen. A líder comunista francesa explica que, apesar do RN não ter conseguido a maioria absoluta nas últimas eleições, Macron ignora o voto popular ao escolher um primeiro-ministro que representa a mesma agenda neoliberal rejeitada pela maioria dos franceses nas urnas. A grande preocupação de Balavoine é que este pacto entre Macron e Le Pen permite que a extrema-direita ganhe força e legitimidade no sistema político francês.
"A extrema-direita tem-se posicionado como uma alternativa social, mas isto não passa de uma fachada", diz Balavoine, enfatizando que Le Pen cedeu completamente ao liberalismo económico, oferecendo um programa que favorece apenas o grande capital. "O que o patronato quer é mais liberalismo, mais austeridade e mais lucros para os mais ricos, enquanto os trabalhadores sofrem."
Balavoine não se limita a falar sobre a política francesa; ela alerta para o regresso do fascismo em toda a Europa. A dirigente comunista aponta o dedo ao facto de que, em muitos países europeus, a extrema-direita tem conseguido um espaço cada vez maior nas instituições democráticas, muitas vezes com a cumplicidade dos partidos liberais e de direita. "O fascismo está de volta à Europa e já governa em alguns países", afirma, sublinhando que o caso português, onde a extrema-direita renasceu após décadas de ausência, é um exemplo alarmante.
Este cenário é, para Balavoine, um reflexo direto do declínio social e económico que afeta vastas camadas da população europeia. A extrema-direita tem-se alimentado da frustração e da miséria das pessoas, especialmente dos trabalhadores, que se sentem abandonados pelos partidos tradicionais. "A extrema-direita prospera sobre a miséria das pessoas", adverte Balavoine, destacando a importância de uma resposta forte da esquerda para reconquistar a confiança dos trabalhadores e oferecer uma verdadeira alternativa ao neoliberalismo.
Ao longo da entrevista, Balavoine defende que a única forma de enfrentar este cenário sombrio é através da mobilização popular. "Nenhum progresso social se conquista sem a intervenção dos trabalhadores", diz, recordando que foi assim ao longo da história, desde Portugal até França. Ela faz um paralelo com a Revolução dos Cravos, onde o povo português, com o apoio dos trabalhadores e das forças progressistas, conseguiu derrubar a ditadura.
"A mobilização popular foi o que permitiu a vitória da esquerda nas últimas eleições legislativas em França", lembra Balavoine, referindo-se à união das forças progressistas que criou o *Novo Frente Popular*, uma aliança entre o PCF, a França Insubmissa, os Verdes e o Partido Socialista. Este esforço de unidade entre as diferentes facções da esquerda foi crucial para derrotar a extrema-direita nas urnas. No entanto, ela sublinha que a luta não termina nas eleições: "É necessário continuar a mobilização no dia-a-dia, através de ações sindicais e associativas, como as organizadas pela CGT e outros sindicatos."
Outro tema abordado na entrevista foi a guerra na Ucrânia. Charlotte Balavoine, em consonância com a posição do PCF, condena firmemente a invasão russa, mas critica a resposta da União Europeia ao conflito. "Desde o início da guerra, a Europa enviou armas e concedeu empréstimos à Ucrânia, o que apenas perpetua o conflito e sobrecarrega o país com uma dívida que será difícil de pagar", afirma.
Balavoine expressa frustração com a falta de iniciativas diplomáticas por parte da União Europeia, acusando os líderes europeus de aproveitarem a guerra como uma oportunidade para relançar a indústria militar. "A guerra na Ucrânia está a ser usada como um pretexto para justificar o aumento dos preços da energia, algo que já acontecia antes da guerra, e para reforçar o complexo militar-industrial europeu", argumenta Balavoine. Para a dirigente do PCF, a paz só será possível através de negociações diplomáticas e de um cessar-fogo imediato, uma posição que vai contra a atual retórica belicista da NATO e da União Europeia.
A entrevista de Charlotte Balavoine é, acima de tudo, um apelo à ação. A dirigente francesa do PCF acredita que a democracia em França e na Europa está em risco, não apenas pela ascensão da extrema-direita, mas também pelo crescente autoritarismo dos governos neoliberais. Macron, nas suas palavras, é "o representante de uma burguesia europeia que já não tem um verdadeiro projeto para os povos". A escolha de Barnier como primeiro-ministro simboliza a continuação de uma política que favorece as grandes corporações e as elites económicas, em detrimento dos trabalhadores.
No entanto, Balavoine também oferece uma mensagem de esperança: "Se nos unirmos, se mobilizarmos os trabalhadores e as forças progressistas, podemos impedir o avanço do fascismo e construir uma sociedade mais justa e democrática." A dirigente vê a mobilização popular como a chave para alcançar este objetivo, defendendo que só através da luta coletiva será possível garantir o progresso social e a paz.
A entrevista com Charlotte Balavoine revela uma análise profunda e crítica dos desafios políticos que França e a Europa enfrentam. Ao denunciar a aliança entre Macron e Le Pen, e ao destacar a necessidade urgente de mobilização popular, Balavoine apela à união das forças de esquerda para resistir à ascensão da extrema-direita e ao neoliberalismo. O vídeo da entrevista, disponível [aqui](https://www.youtube.com/watch?v=1EhvAaNIEUM), proporciona uma visão detalhada deste diálogo envolvente e crucial para o futuro político da Europa.
Ao longo de toda a conversa, Balavoine reafirma o seu compromisso com os ideais de justiça social, paz e democracia. O seu apelo não é apenas para os franceses, mas para todos os europeus que acreditam num futuro de igualdade e solidariedade. Como ela própria conclui: "A história mostrou-nos que quando o povo se une, não há regime opressor que consiga resistir."
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