Em pleno coração de Lisboa, um novo capítulo é escrito na história da Fundação Calouste Gulbenkian com a reinauguração do Centro de Arte Moderna (CAM), uma obra assinada pelo conceituado arquiteto japonês Kengo Kuma.

O projeto, que abre ao público no dia 21 de setembro, reflete uma fusão entre a tradição arquitetónica e o design contemporâneo, promovendo uma nova forma de interação com a arte. Com uma abordagem que privilegia a sustentabilidade, a simplicidade e a integração com a natureza, este novo CAM promete não ser apenas um local de exibição artística, mas uma experiência sensorial para os visitantes.

Um Encontro com a Natureza: O Conceito de "Engawa"

Kengo Kuma, conhecido pelo seu respeito pela natureza e pela capacidade de criar edifícios que coexistem harmoniosamente com o ambiente, aplicou no CAM o conceito de "engawa", uma palavra japonesa que designa a transição suave entre o interior e o exterior. Este conceito tem raízes na arquitetura tradicional do Japão e é um convite para que os visitantes experimentem um fluxo contínuo entre os espaços fechados e os jardins exteriores. A "engawa" é visível na forma como o edifício parece estender-se para o jardim, criando um corredor fluido onde a linha que separa o natural do construído se esbate.

O novo CAM tem uma estrutura marcada por um teto ondulado, sustentado por pilares de madeira que evocam a ligação ao mundo natural. O uso de materiais portugueses – desde as madeiras às cerâmicas – reforça a intenção de Kuma de criar uma obra de caráter local, enraizada no contexto e na cultura de Portugal. As formas orgânicas e a paleta de materiais naturais convidam à contemplação, enquanto a luz natural é suavemente filtrada pelos espaços, criando jogos de sombras que acentuam a serenidade do ambiente.

Um Jardim Que Convida à Meditação

Parte do renovado CAM é também o novo jardim, concebido pelo paisagista libanês Vladimir Djurovic. Este espaço exterior, que se estende por vários níveis, foi desenhado com o objetivo de integrar as artes e a natureza numa experiência holística. As curvas suaves dos lagos e os espaços verdes são uma extensão da arquitetura, permitindo aos visitantes uma pausa na contemplação das obras de arte, para se reconectarem com a tranquilidade do ambiente natural. Djurovic, que trabalhou em estreita colaboração com Kengo Kuma, imaginou este jardim como um espaço que não só dialoga com a arte mas também convida à introspeção, um verdadeiro oásis em pleno centro de Lisboa.

A presença de árvores portuguesas, como pinheiros e oliveiras, e de elementos de água, como pequenos lagos, reforçam o apelo à sustentabilidade e à reconexão com a natureza. Esta intervenção paisagística é uma homenagem ao passado natural do espaço, que durante muitos anos foi um jardim privativo da Fundação, agora acessível ao público em geral.

Uma Arquitetura de Luz e Sombra

A forma como a luz interage com o edifício é um dos elementos mais destacados do design de Kuma. Inspirado pela arquitetura tradicional japonesa, o arquiteto desenhou o CAM de forma a maximizar a entrada de luz natural, criando um jogo dinâmico entre luz e sombra que muda ao longo do dia. Este "elogio da sombra", como é chamado, traz uma sensação de acolhimento e calma aos visitantes, enquanto estes percorrem os espaços de exposição e o jardim.

O edifício em si é uma obra de arte, com linhas suaves e elegantes que transportam os visitantes numa viagem visual e emocional. A fachada, revestida com madeira local e aço, cria uma simbiose perfeita entre a robustez da arquitetura contemporânea e a delicadeza da natureza. As enormes superfícies envidraçadas permitem que o interior se conecte com o exterior, enquanto os corredores cobertos oferecem vistas para os jardins circundantes, incentivando uma interação constante entre o edifício e o ambiente natural.

Uma Nova Coleção, Um Novo Caminho para o CAM

Com a reabertura do CAM, a Fundação Gulbenkian prepara-se para acolher uma nova coleção de arte moderna, com um enfoque especial na sustentabilidade e nos desafios sociais do século XXI. A primeira exposição, intitulada "Da Desigualdade Constante dos Dias", da artista Leonor Antunes, representa a Portugal na Bienal de Veneza de 2019 e será exibida até fevereiro de 2025. Esta instalação monumental explora as relações entre corpo e espaço, questionando as desigualdades históricas entre homens e mulheres e criando um diálogo com o próprio espaço do CAM.

Além disso, o CAM irá acolher várias exposições temporárias que abordarão temas prementes da sociedade contemporânea, como a ecologia, a desigualdade social e a relação entre o homem e a tecnologia. O novo espaço também incentivará a criação de obras de arte site-specific, ou seja, concebidas para dialogar diretamente com o ambiente e a arquitetura envolventes. Este enfoque na inovação e na reflexão social posiciona o CAM como um local de vanguarda artística, onde o passado e o futuro da arte se encontram.

Kengo Kuma: Uma Visão para o Futuro da Arquitetura

Para Kengo Kuma, este projeto no CAM representa mais do que uma simples intervenção arquitetónica. É um sonho realizado, nas palavras do próprio arquiteto, que sempre quis trabalhar em Portugal, país cuja ligação à natureza e à história arquitetónica admira profundamente. A sua obra no CAM é um testemunho da sua filosofia de que "a arquitetura deve acolher e abraçar a natureza", um princípio que se reflete em todos os seus trabalhos, desde o Estádio Olímpico de Tóquio até ao Museu Victoria & Albert, na Escócia.

Kuma acredita que o futuro da arquitetura está intimamente ligado à sustentabilidade e ao respeito pelo ambiente. No CAM, ele aplicou esses valores de forma exemplar, criando um edifício que não só respeita o seu contexto urbano e natural, mas também promove uma nova forma de viver a arte, em harmonia com o mundo que nos rodeia. Como ele próprio afirma: "A natureza é a grande protagonista deste projeto."

Um Espaço para Todos: A Comunidade no Centro do CAM

Mais do que um centro de arte, o novo CAM pretende ser um espaço inclusivo, aberto à comunidade. As intervenções de Kengo Kuma e Vladimir Djurovic foram pensadas para proporcionar uma experiência acessível a todos, onde as barreiras entre o público e a arte são dissolvidas. O diretor do CAM, Benjamin Weil, sublinha que o novo espaço foi desenhado com o objetivo de criar uma maior aproximação entre a arte e as pessoas, permitindo uma fruição mais descontraída e envolvente das obras em exposição.

A introdução de novas áreas de descanso, como o restaurante A Mesa do CAM, oferece aos visitantes um espaço de convivência onde podem refletir sobre as obras vistas ou simplesmente desfrutar da calma do jardim envolvente. Esta integração entre arte, natureza e comunidade é um dos pilares fundamentais do novo CAM, que se apresenta como um espaço multifacetado, capaz de acolher todos os que procuram uma experiência cultural enriquecedora.

Reflexões: O CAM, um Espaço do Futuro

O renovado Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian é mais do que uma obra arquitetónica ou uma galeria de arte. Sob a orientação de Kengo Kuma, tornou-se num espaço que desafia as convenções da arquitetura moderna, fundindo-a com a natureza e criando um oásis cultural no coração de Lisboa. Este novo CAM é um exemplo brilhante de como a arte, a sustentabilidade e a inovação podem coexistir de forma harmoniosa, oferecendo aos visitantes uma experiência imersiva, tanto física como emocional.

Com exposições que exploram as questões sociais do nosso tempo e um design que respeita o ambiente e a cultura local, o CAM promete ser um ponto de referência não só para os amantes de arte, mas para todos aqueles que buscam um refúgio de inspiração e tranquilidade na agitada vida urbana.

Nota do editor

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Morgado Jr.