Não ao justicialismo, sim a uma negociação sem complexos 

Segundo o que o filósofo Daniel Innerarity disse à Lusa o entregar aos tribunais um problema político só resultar mal como se vê na Catalunha, e assim a solução do conflito passará por um dos lados abdicar de parte das exigências.

A propósito do lançamento em Portugal do livro ""Política para Perplexos"" (Porto Editora), o professor catedrático da Universidade do País Basco, que chegou a ser uma possibilidade de intermediário entre o Governo de Madrid e a liderança catalã, disse que a condenação pelo Supremo Tribunal dos principais dirigentes políticos envolvidos na tentativa de independência da Catalunha foi uma ""má sentença, desde o ponto de vista jurídico"", mas acima de tudo revelou que, ""quando há um problema político, mesmo num Estado de Direito onde há que respeitar as normas, confiar aos tribunais a resolução do problema só pode sair mal"", o que temos sempre realçado em Portugal quer nos casos mediaticos à Socrates ou à BPN.

""Há uma grande tentação de reduzir este problema a um problema de respeito pela legalidade e ordem pública. Vamos ver, nestes dias, como se vai transformar num problema de ordem pública. Nem antes da sentença nem depois da sentença se deu um tratamento político a isto"", denunciou Innerarity e nas próximas semanas ou meses, vai ser atravessado ""um túnel sem luz, muito desagradável, no qual a única coisa que se pode fazer é 'desescalar', arrefecer a resposta, os discursos"".

""Mas depois de passar este período, haveria que abordar isto com um princípio de que daqui só se sai se alguém renunciar a parte das suas aspirações e o fizer num esquema de reciprocidade. Ou seja, só se uma pessoa renunciar a parte das suas aspirações pode exigir semelhante do outro"", considerou o diretor do Instituto de Governação Democrática, em San Sebastián.

Na opinião de Innerarity, tal renúncia passa ""por um sacrifício que consiste em dizer às tuas próprias pessoas coisas que as tuas próprias pessoas não estão habituadas a ouvir"", o que é dificultado por um momento em que as lideranças existentes foram desenvolvidas ""sobre a base da confrontação"".

""Efetuar essa mudança não é fácil e em momentos de aquecimento global da política é especialmente difícil"", afirmou o filósofo.

Joffre Justino 

Imagem destaque: Lusa