Gardel nasceu Charles Romuald Gardés, em 11 de dezembro de 1890, na cidade francesa de Toulouse. Filho de mãe solteira, Berthe Gardés, mudou-se ainda criança para Buenos Aires. Apesar de muitos argentinos o considerarem "um dos seus", há uma versão que defende que Gardel teria nascido em Tacuarembó, no Uruguai, antes de ser naturalizado argentino em 1923. O certo é que viveu grande parte da sua vida no bairro portenho do Abasto, onde ganhou o apelido "El Morocho del Abasto".
O seu percurso foi marcado por humildade e persistência. Ainda jovem, formou uma dupla de sucesso com o cantor uruguaio José Razzano, com quem começou a introduzir o tango cantado num mundo onde o género era predominantemente instrumental. Em 1917, a canção **"Mi noche triste"** tornou-se o marco inicial do tango como conhecemos hoje.
Muito antes de se tornar sinónimo de Buenos Aires, o tango nasceu em zonas pobres da cidade, como o bairro Montserrat, habitado por descendentes de escravos africanos. Originalmente uma dança sensual e marginalizada, o tango era visto como "indecente" pelos que aspiravam a um ideal europeu. Pouco a pouco, foi ganhando espaço nos cabarés e salões da capital argentina, até alcançar uma faceta mais refinada com Gardel, que o transformou num fenómeno romântico e internacional.
Poucos sabem que Alfredo Le Pera, o grande parceiro criativo de Gardel, era brasileiro. Nascido em São Paulo em 1900, filho de imigrantes italianos, Le Pera era jornalista e letrista. A dupla encontrou-se em França, em 1932, e a partir daí colaboraram em sucessos atemporais como **"El día que me quieras"** e **"Mi Buenos Aires querido"**. Le Pera também escreveu argumentos para os filmes de Gardel, consolidando a parceria artística.
O destino, porém, foi cruel. Em 24 de junho de 1935, durante uma tournée pela América Latina, Gardel e Le Pera morreram num trágico acidente aéreo em Medellín, Colômbia. O trimotor onde viajavam colidiu com outro avião na pista, ceifando precocemente duas das mentes mais brilhantes da música.
Com mais de 800 gravações em cerca de 20 anos de carreira, Gardel levou o tango aos quatro cantos do planeta. Entre os seus maiores sucessos destacam-se **"Por una cabeza"**, **"Volver"**, **"Mano a mano"** e **"Yira yira"**. Além da música, participou em 11 filmes, que ajudaram a solidificar sua imagem como símbolo do tango. Gardel foi o primeiro argentino a alcançar fama internacional, apresentando-se em palcos e rádios de renome na América Latina, Europa e Estados Unidos.
Mesmo décadas após a sua morte, Carlos Gardel permanece uma das figuras mais queridas da Argentina. Seus fãs afirmam que "canta cada dia melhor", uma homenagem ao seu talento imortal. O tango, por sua vez, segue vivo, dançado e apreciado em todo o mundo, testemunho do impacto de Gardel e do poder dessa expressão cultural única.
Gardel realizou mais de 800 gravações nos seus cerca de 20 anos de carreira.
Embora tenha composto a música de alguns de seus tangos (contando com parceiros como Alfredo Le Pera para a composição das letras), grande parte de seu repertório também se baseou na interpretação de tangos de outros compositores.
Foram muitos os sucessos que publicitou, incluindo clássicos atemporais como Por una cabeza, Volver, Mi Buenos Aires querido, El día que me quieras, Mano a mano e Yira yira.
Carlos Gardel participou em 11 filmes no total: dois gravados na Argentina, 4 nos estúdios da Paramount em Joinville, França, e 5 nos estúdios da Paramount em Nova York, EUA.
Flor de Durazno (1917, Argentina)
Encuadre de Canciones (1930, Argenti
Las Luces de Buenos Aires (1931, France)
Esperame (1932, France)
Melodía de Arrabal (1932, France)
La Casa es Seria (1932, France)
Cuesta Abajo (1934, USA)
El Tango en Broadway (1934, USA)
Cazadores de Estrellas (1935, USA)
El Día que me Quieras (1935, USA)
Tango Bar (1935, USA)
Carlos Gardel - Por una cabeza (Video oficial)
Por una Cabeza” (1935) – Carlos Gardel e Alfredo Le Pera
Por una cabeza, de un noble potrillo
Que justo en la raya, afloja al llegar
Y que al regresar, parece decir
No olvides, Hermano
Vos sabes, no hay que jugar
Por una cabeza, metejón de un día
De aquella coqueta y risueña mujer
Que al jurar sonriendo el amor que está mintiendo
Quema en una hoguera
Todo mi querer
Por una cabeza,
todas las locuras
Su boca que besa
Borra la tristeza
Calma la amargura
Por una cabeza
Si ella me olvida
Qué importa perderme
Mil veces la vida
Para qué vivir
Cuántos desengaños, por una cabeza
Yo juré mil veces no vuelvo a insistir
Pero si un mirar me hiere al passar
Su boca de fuego
Otra vez quiero besar
Basta de carreras, se acabo la timba
Un final reñido ya no vuelvo a ver
Pero si algún pingo llega a ser fija el domingo
Yo me juego entero
Qué le voy a hacer
Por una cabeza,
todas las locuras
Su boca que besa
Borra la tristeza
Calma la amargura
Por una cabeza
Si ella me olvida
Qué importa perderme
Mil veces la vida
Para qué vivir
Gardel, o "zorzal criollo", não apenas deu uma nova identidade ao tango; ele se tornou um símbolo de paixão, talento e tragédia. A sua música ecoa como um convite eterno para dançar ao ritmo de Buenos Aires e lembrar que, como ele mesmo cantou, "não há que jogar". Afinal, o tango não se joga, vive-se.
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