A polémica teve início quando, em março, Trump impôs tarifas severas de 25% sobre importações canadianas e mexicanas, afectando sectores-chave como o aço, alumínio, madeira e lacticínios. A decisão foi duramente criticada pelo então primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, que a considerou um ataque direto à soberania económica do Canadá. Contudo, a reação mais drástica veio da província de Ontário, que decidiu contra-atacar.
O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, anunciou uma sobretaxa de 25% sobre as exportações de eletricidade para os Estados Unidos, uma decisão projetada para afectar diretamente os consumidores americanos. Essa medida tem um impacto significativo, especialmente nos estados de Minnesota, Michigan e Nova Iorque, que dependem fortemente da eletricidade canadiana. Além disso, a arrecadação gerada pela nova tarifa ajudaria a reduzir os custos de eletricidade para os residentes de Ontário, transferindo o peso financeiro para os consumidores americanos.
A retaliação de Ontário gerou uma resposta imediata nos EUA. As autoridades dos estados afectados alertaram sobre o aumento dos custos de eletricidade e os riscos de instabilidade na rede elétrica regional. A governadora de Nova Iorque, Kathy Hochul, abriu uma investigação sobre o impacto da taxa para os consumidores locais, enquanto o governador de Minnesota, Tim Walz, acusou Trump de imprudência ao iniciar essa guerra comercial.
Apesar das críticas, Trump não recuou e classificou a medida canadiana como um "ato hostil". O ex-presidente ameaçou retaliar com novas tarifas sobre produtos canadianos, aprofundando ainda mais o impasse comercial entre os dois países.
A crise ocorre num momento de transição no Canadá. Com a saída de Justin Trudeau, Mark Carney, ex-governador do Banco do Canadá e do Banco de Inglaterra, assumiu o cargo de primeiro-ministro. Conhecido pela sua experiência em crises económicas, Carney prometeu uma postura firme contra a política comercial agressiva dos EUA. A sua estratégia inclui:
Manter as tarifas retaliatórias até que os EUA se comprometam com um comércio mais justo.
Fortalecer o sector energético canadiano, reduzindo a dependência dos mercados americanos.
Expandir parcerias comerciais com a Europa e a Ásia.
Investir em infraestruturas e desenvolvimento energético para consolidar o Canadá como uma superpotência no sector.
Contudo, a estratégia de Carney também enfrenta oposição interna. O líder conservador Pierre Poilievre criticou a falta de transparência e alertou que essas medidas poderiam desestabilizar o sistema financeiro do Canadá. Ainda assim, com o forte apoio do Partido Liberal, Carney está determinado a reposicionar o Canadá no cenário global.
A disputa comercial entre os dois países está longe de ser resolvida. Doug Ford já sugeriu novas tarifas sobre produtos alimentares e automóveis americanos, além da possibilidade de reduzir ou mesmo cortar as exportações de energia para os EUA. Esse último ponto poderia ter graves consequências económicas para os americanos, dada a forte dependência dos EUA do petróleo e gás natural canadianos.
Enquanto isso, Mark Carney aposta numa estratégia de longo prazo para transformar o Canadá numa potência independente no sector energético. Com investimentos em energia renovável e novas infraestruturas, o país pretende reduzir a sua dependência dos EUA e fortalecer as suas relações comerciais com outros mercados.
A grande questão que permanece é: Trump continuará a escalar essa guerra comercial ou a pressão política forçá-lo-á a reconsiderar a sua abordagem? E até que ponto o Canadá estará disposto a manter a sua posição firme nesta disputa?
Os próximos meses serão decisivos para o futuro do comércio entre as duas