A guerra na Ucrânia transformou-se num ponto central da geopolítica mundial, mobilizando não apenas os membros da União Europeia (UE) e da NATO, mas também outros atores fundamentais, como o Canadá e a Turquia.

Estas nações, que não fazem parte da UE, têm desempenhado papéis fundamentais na defesa, diplomacia e reestruturação da segurança europeia, tornando-se indispensáveis na estratégia ocidental para conter a expansão russa e fortalecer a posição ucraniana.

O Papel do Canadá: A Ponte Transatlântica

A posição do Canadá no xadrez geopolítico é notável. Sendo um dos membros fundadores da NATO, o país tem funcionado como um elo estratégico entre a Europa e a América do Norte. Recentemente, a preocupação de que os EUA possam reduzir o seu apoio à Ucrânia levou os aliados europeus a reforçar os laços com o Canadá, que é visto como uma "apólice de seguro transatlântica".

Militarmente, o Canadá forneceu munição, veículos blindados e programas de treino para soldados ucranianos, mantendo a sua presença ativa na região. No campo diplomático, o país tem-se posicionado como um mediador mais alinhado com os valores da UE do que os EUA, reforçando a ideia de que a defesa europeia não pode depender exclusivamente de Washington.

Outro ponto-chave é a rivalidade histórica do Canadá com a Rússia na região do Ártico. O receio de que uma Ucrânia derrotada fortaleça a posição russa nessa disputa territorial tem sido um fator decisivo para a posição assertiva de Ottawa.

A Turquia: Um Equilíbrio Geopolítico Essencial

A Turquia é um dos atores mais peculiares no conflito. Como membro da NATO, mas também parceiro da Rússia em vários setores, Ancara tem equilibrado a sua posição com pragmatismo. Desde o início da guerra, tem servido como mediador diplomático entre Moscovo e Kiev, tendo desempenhado um papel crucial nos acordos de exportação de cereais pelo Mar Negro e em trocas de prisioneiros.

No âmbito militar, a Turquia tornou-se um dos maiores fornecedores de drones para a Ucrânia, incluindo os famosos Bayraktar TB2, que provaram ser uma ferramenta essencial no campo de batalha. A cooperação entre a Ucrânia e a Turquia no setor de defesa é vista como estratégica, com projetos conjuntos em produção de drones e sistemas de defesa aérea.

A presença da Turquia também é fundamental na segurança do Mar Negro. Com o controlo dos Estreitos de Bósforo e Dardanelos, sob a Convenção de Montreux, Ancara regula o trânsito marítimo na região, garantindo que as rotas comerciais ucranianas permaneçam abertas.

Embora existam tensões entre Ancara e algumas nações europeias devido às políticas na Síria e no Mediterrâneo Oriental, a importância da Turquia como fator de equilíbrio contra a Rússia é inegável. O governo turco aproveita esta posição para fortalecer os seus laços com a UE e aumentar a sua influência internacional.

Um Novo Paradigma de Defesa Europeia

A cooperação entre a UE, o Canadá e a Turquia está a reconfigurar o panorama da defesa europeia. Um dos grandes debates em Bruxelas é se aliados como o Canadá e a Turquia devem ter acesso aos fundos de defesa da UE. Enquanto o Canadá poderia contribuir financeiramente e logisticamente, a Turquia poderia oferecer produção e capacidades operacionais na região.

Além disso, ambos os países possuem influência diplomática crucial. O Canadá, como membro do G7 e da Commonwealth, tem uma vasta rede de relações internacionais que pode ser usada para pressionar a Rússia. A Turquia, por sua vez, mantém canais de diálogo com Moscovo e tem uma forte presença no Oriente Médio, no Cáucaso e nos Balcãs.

O Que Esperar no Futuro?

Se a UE e os seus aliados conseguirem conduzir um processo de paz e reconstrução na Ucrânia, é provável que o papel do Canadá e da Turquia se expanda ainda mais. Ottawa pode fornecer investimentos e garantias de segurança, enquanto Ancara se posiciona como um mediador estratégico e parceiro militar.

Contudo, permanece a questão de como a Rússia reagirá a esta nova configuração. O envolvimento do Canadá e da Turquia poderá intensificar as tensões, especialmente na disputa pelo Ártico e no equilíbrio de forças no Mar Negro.

Independentemente do desfecho, o que é certo é que a guerra na Ucrânia não se limita a um conflito entre Kiev e Moscovo. O seu impacto estende-se por todo o mundo, com o Canadá e a Turquia a emergirem como peças-chave neste tabuleiro de xadrez geopolítico. 

Fontes e Referências:

  • Summit da União Europeia sobre defesa e segurança na Ucrânia

  • Declarações de líderes europeus, turcos e canadenses em conferências recentes

  • Análises sobre a estratégia da NATO no Mar Negro e no Ártico

  • Relatórios sobre o apoio militar do Canadá e da Turquia à Ucrânia

  • Dados de cooperação entre a UE e países parceiros na indústria de defesa