Entre os alvos prediletos estão os treinadores dos três maiores clubes – Benfica, Porto e Sporting. Estes profissionais, encarregues de liderar equipas sob uma pressão já avassaladora, veem-se constantemente na mira de críticas desmedidas, muitas vezes sem fundamento técnico ou tático. Não estamos perante simples análises desportivas; o que se vive é, muitas vezes, um autêntico bullying mediático.
No cerne desta situação está uma dinâmica em que jornalistas, comentadores e até certos lobbies parecem ambicionar mais do que relatar ou opinar. Muitos ultrapassam os limites do seu papel, colocando-se como "treinadores de bancada" que insistem em sugerir, de forma implícita ou explícita, a destituição de treinadores.
Este cenário, como se viu recentemente, culminou com o despedimento do treinador do Sporting Joao Pereira, e atualmente o bullying recai em relação ao treinador do Benfica, Bruno Lage, sendo uma extensão de episódios semelhantes envolvendo também o FC Porto quando adeptos e imprensa exigiam a cabeça de Vitor Bruno.
Ser treinador em Portugal, especialmente de um dos "três grandes", é caminhar numa corda bamba onde os erros são ampliados e os sucessos minimizados. No entanto, o que torna esta realidade ainda mais grave é o fato de que, mesmo em contextos de vitória ou desempenho consistente, as críticas persistem. Quem está em primeiro lugar, em segundo ou em terceiro torna-se, invariavelmente, alvo de um bombardeamento vil e desproporcional.
O papel de um treinador vai muito além de escolher um onze inicial. Trata-se de liderar pessoas, construir estratégias, gerir egos e motivar equipas num ambiente competitivo e, frequentemente, hostil. Seria de esperar que, num país com uma tradição tão rica no futebol, houvesse um maior respeito e paciência pelo trabalho árduo que este cargo exige.
Mas a realidade é outra. Os treinadores de topo em Portugal enfrentam um duplo desafio: liderar as suas equipas em campo e resistir a uma guerra psicológica alimentada pelos media e por determinados setores de adeptos. Este "tiroteio verbal" constante cria um ambiente tóxico que afeta não só os profissionais, mas também a qualidade e o espírito do desporto.
A imprensa e os comentadores têm um papel crucial na formação de opinião pública. Quando este papel é desempenhado com ética e responsabilidade, pode contribuir para o crescimento e a evolução do desporto. Contudo, quando o foco é o sensacionalismo e a destruição de reputações, o impacto é devastador.
Como disse Albert Camus, "a verdade é misteriosa, escorregadia, sempre a ser conquistada." Cabe aos jornalistas buscar essa verdade, não alimentar divisões ou fomentar perseguições. É essencial que o jornalismo desportivo em Portugal se reinvente, abandonando narrativas tóxicas e adotando uma postura construtiva.
No final, todos os que amam o futebol português desejam o mesmo: ver o desporto prosperar e alcançar novos patamares de sucesso. Para que isso aconteça, é fundamental que cada ator – seja adepto, comentador ou jornalista – desempenhe o seu papel com respeito e responsabilidade.
Que os treinadores possam liderar sem serem alvos constantes de campanhas destrutivas. Que os adeptos compreendam que o sucesso requer tempo e união. E que os comentadores e jornalistas se lembrem da sua responsabilidade de informar, não de destruir.
Porque, como nos lembra Nelson Mandela, "o desporto tem o poder de mudar o mundo. Tem o poder de inspirar, de unir as pessoas de uma forma que poucas coisas conseguem." Que o futebol português seja, acima de tudo, um exemplo de união e respeito.
Está na hora de abandonarmos o bullying mediático e devolvermos ao futebol português a ética e o espírito desportivo que o tornam único.