No século XVII, Baruch Spinoza desafiou os dogmas teológicos e políticos da sua época com uma defesa ardente da liberdade de pensamento e expressão.

Nascido em Amsterdão em 1632, Spinoza veio de uma família de judeus sefarditas que enfrentaram a expulsão de Espanha e a perseguição em Portugal, antes de se estabelecerem nos Países Baixos. Este pano de fundo de luta contra a intolerância moldou profundamente o seu pensamento filosófico (Krauze, 2023).

Em 1656, Spinoza foi excomungado da comunidade judaica de Amsterdão, um episódio que marcou sua vida e destacou sua defesa inabalável da liberdade individual. Spinoza argumentava que a única maneira de superar todas as formas de intolerância era combatê-las na raiz, promovendo uma “religião filosófica” baseada na compreensão da Natureza, que ele equiparava a Deus, e na liberdade de pensamento (Krauze, 2023).

A filosofia de Spinoza é especialmente relevante hoje, numa era de crescente iliberalismo e autoritarismo. Enrique Krauze, um dos intelectuais liberais mais proeminentes da América Latina, afirma que as ideias de Spinoza são uma defesa poderosa contra os ataques à democracia e aos direitos humanos. Krauze destaca que Spinoza, nas  suas obras "Ética" e "Tratado Teológico-Político", defende a ideia de que ninguém pode abdicar da sua liberdade de julgamento e sentimento, e que forçar alguém a falar apenas segundo os ditames do poder supremo leva a resultados desastrosos (Krauze, 2023).

A atualidade de Spinoza reside na sua visão de que a verdadeira liberdade não é a ausência de restrições, mas a capacidade de viver de acordo com a razão e a compreensão da Natureza. Esta visão se contrapõe diretamente ao determinismo e ao controle autoritário, oferecendo uma via para a tolerância universal e o respeito pela diversidade de pensamentos (Krauze, 2023).

Enrique Krauze, na sua obra "Spinoza en el Parque México", explora como as ideias de Spinoza moldaram a sua própria visão como historiador e defensor da democracia. Krauze argumenta que, assim como no século XVII, hoje enfrentamos um momento crítico onde a defesa do pensamento livre e da democracia é mais necessária do que nunca (Krauze, 2023).

A luta de Spinoza contra a intolerância teológico-política do seu tempo ecoa nas batalhas contemporâneas contra regimes autoritários que buscam suprimir a liberdade de expressão e controlar a narrativa pública. A sua filosofia oferece uma base sólida para a resistência contra essas forças, promovendo um entendimento mais profundo da liberdade individual e coletiva (Krauze, 2023).

Em suma, a obra e o legado de Spinoza continuam a inspirar aqueles que, como Krauze, acreditam na necessidade de defender os princípios fundamentais da liberdade e da democracia contra as ameaças do autoritarismo e da intolerância (Krauze, 2023).

Referências

Krauze, E. (2023). *A Conversation with Enrique Krauze*. Georgetown Americas Institute. Recuperado de [https://americas.georgetown.edu/events/a-conversation-with-enrique-krauze](https://americas.georgetown.edu/events/a-conversation-with-enrique-krauze)

Krauze, E. (2023). *Spinoza, nuestro contemporáneo*. El Universo. Recuperado de [https://www.eluniverso.com/opinion/columnistas/spinoza-nuestro-contemporaneo-nota/](https://www.eluniverso.com/opinion/columnistas/spinoza-nuestro-contemporaneo-nota/)