Dados do setor mostram que, nos primeiros três trimestres de 2024, os quatro maiores bancos privados em Portugal registaram um crescimento consolidado de 11% nos lucros face ao mesmo período do ano anterior. O BCP, por exemplo, atingiu um lucro de 714 milhões de euros, um aumento de 25%, enquanto o Santander Totta somou 778 milhões de euros. Este crescimento foi impulsionado, em grande parte, pelo aumento das margens financeiras, em função da diferença entre as taxas de juros cobradas em créditos e as pagas em depósitos.
Mesmo com a descida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu, as instituições portuguesas encontraram formas de otimizar as suas operações. A exceção foi o Novo Banco, que, apesar de apresentar um lucro de 610 milhões de euros, registou uma ligeira queda devido ao impacto de impostos adicionais e à necessidade de ajustar provisões para empréstimos.
O crescimento dos lucros é, sem dúvida, um bom indicador da saúde financeira destas instituições. No entanto, o lucro não deve ser visto apenas como um fim em si mesmo, mas sim como um meio para reforçar a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. A importância de programas de responsabilidade social corporativa (RSC) é amplamente reconhecida, especialmente em setores com grande impacto nas comunidades, como a banca.
Segundo Peter Drucker, um dos maiores pensadores da gestão, “a rentabilidade é o resultado natural de fazer as coisas bem.” Assim, a banca deve considerar como pode retribuir à sociedade parte do valor que gera. Este retorno pode assumir diversas formas, desde o apoio a projetos de inclusão financeira, à promoção de uma economia mais sustentável e à adoção de práticas éticas e transparentes.
Na atual conjuntura, em que a população portuguesa enfrenta desafios financeiros e económicos, existe uma expectativa crescente de que o setor bancário contribua de forma ativa para o bem-estar coletivo. De acordo com um estudo do World Economic Forum, 74% dos consumidores esperam que as grandes empresas façam mais do que apenas gerar lucros; querem ver um impacto positivo na sociedade.
Um exemplo de prática de RSC é a decisão de bancos como o BCP de reinvestir uma parte significativa dos lucros na comunidade e nos seus acionistas. A instituição pretende distribuir cerca de 75% dos seus lucros aos acionistas até 2028, mas, ao mesmo tempo, considera estratégias de longo prazo para apoiar a educação financeira e o empreendedorismo local.
O cenário económico global está em constante mudança e, embora a banca portuguesa tenha conseguido resultados notáveis, é crucial que continue a adaptar-se. A necessidade de uma maior regulamentação e transparência nas práticas financeiras é uma tendência global que certamente terá impacto em Portugal. Além disso, o desenvolvimento tecnológico traz novos desafios e oportunidades, sobretudo em áreas como a banca digital e a cibersegurança.
Num artigo da Harvard Business Review, Porter e Kramer, especialistas em estratégia e competitividade, sugerem que as empresas que criam valor partilhado conseguem obter uma vantagem competitiva sustentável. Esta ideia pode ser aplicada ao setor bancário, incentivando as instituições a adotarem estratégias que beneficiem não só os seus acionistas, mas também a sociedade em geral.
O desempenho positivo dos bancos portugueses é motivo de celebração, mas deve ser acompanhado de uma responsabilidade proporcional para com a sociedade. Num setor onde a confiança é essencial, a adoção de práticas de responsabilidade social não é apenas uma boa prática — é uma necessidade.
Tal como afirma Mahatma Gandhi, “A riqueza de uma sociedade é medida pela forma como trata os seus membros mais vulneráveis.” Assim, espera-se que o setor bancário português continue a prosperar financeiramente, mas que também reforce o seu compromisso com uma economia mais justa e sustentável.
A solidez financeira do setor bancário é um testemunho da confiança que a sociedade deposita nestas instituições, mas assim como a banca tem o dever de retribuir às comunidades o valor que gera, também a imprensa precisa do apoio dos seus leitores para continuar a desempenhar o seu papel crucial.
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Tal como se espera que o setor bancário invista no bem-estar coletivo, também o Estrategizando investe em cada artigo para oferecer uma perspetiva clara e fiel da realidade.
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1. World Economic Forum: Insights sobre a importância da responsabilidade social corporativa. Disponível em: https://www.weforum.org
2. Harvard Business Review: Artigo de Porter e Kramer sobre valor partilhado e competitividade. Disponível em: https://hbr.org
3. Expresso**: Artigo sobre o desempenho recente da banca portuguesa