No passado domingo, ao final da tarde, a deputada Joana Mortágua viu-se envolvida num episódio que, à primeira vista, poderia parecer apenas mais um entre tantos casos de criminalidade urbana em Lisboa. No entanto, o contexto e os detalhes exigem um olhar mais atento: o seu carro foi assaltado em plena luz do dia, por volta das 19h00, mesmo à porta da sede nacional do Bloco de Esquerda, no Martim Moniz.
Os assaltantes terão levado uma mochila e a carteira da deputada, que se encontrava no interior do edifício partidário no momento do crime. A informação foi avançada pela TVI, que também referiu a localização exata do incidente: nas imediações da Rua do Benformoso — uma zona marcada por polémicas recentes, incluindo uma operação policial em dezembro passado que gerou duras críticas por alegadas práticas de abuso contra imigrantes.
Mais do que um simples roubo, este incidente levanta questões pertinentes e inquietantes. A segurança de uma deputada da República — eleita democraticamente e em pleno exercício de funções — foi comprometida em frente à sede do partido que representa. Como é possível que, numa área sob vigilância e intervenção frequente da PSP, este crime ocorra sem qualquer sinal de contenção ou prevenção?
As autoridades não podem tratar este caso com ligeireza. Não se trata apenas da perda de bens materiais, mas da exposição de uma figura pública num espaço que deveria oferecer alguma salvaguarda, sobretudo quando associado a um partido político ativo na vida democrática do país. Há aqui um potencial sinal de intimidação? Uma mensagem encapotada? Ou apenas um exemplo gritante de insegurança urbana? Todas estas hipóteses exigem verificação.
É fundamental que as forças de segurança investiguem de forma séria e imparcial este caso, esclarecendo se se tratou de um assalto casual ou se há outros fatores em jogo. Num Estado de Direito, não podemos permitir que episódios como este passem despercebidos ou sejam reduzidos a meras estatísticas criminais. Quando se trata de representantes eleitos e de espaços ligados à vida política, o rigor investigativo deve ser absoluto — não por privilégio, mas por respeito à democracia e ao seu funcionamento.
Este não é um caso menor. É um alerta que deve mobilizar a atenção pública e institucional. Porque não existem acasos quando o que está em causa é a liberdade e a segurança de quem nos representa.