AS BARBERAGENS DA EXTREMA-DIRTEITA

Pulo Martins – Editor Cultural

Semana passada a Polícia Federal concluiu o inquérito sobre a apropriação e venda por Bolsonaro das joias presenteadas ao Brasil pela Arábia Saudita e outros países árabes.

O inquérito foi encaminhado ao STF para as medidas cabíveis. Será relatado pelo Ministro Alexandre de Morais, que o enviou à Procuradoria Geral da Repúblico para preliminar despacho.

O Brasil inteiro entrou em prontidão. Espera com ansiedade o oferecimento de denúncia pela PGR. A expectativa é extraordinária. Não se fala de outra coisa no país. Um grito ensurdecedor ecoa de norte a sul: “cadeiapara o bandido”.

Não se trata apenas de manifestações nas redes sociais. Até a grande imprensa, da qual nunca se espera muita coisa, pois sempre está do lado dos poderosos e da elite, dessa vez faz coro na divulgação da denúncia contra o famigerado miliciano. Também pudera: ela não pode confrontar a imprensa internacional. Ontem, o New York Time, em vasta matéria, destrinchou os podres deste episódio macabro, nunca visto na história da Repúblicabrasileira. A revista Time já tinha premiado o fascista comseu retrato na capa de uma de suas últimas edições, com a seguinte manchete: INDICIADO. Jornais da Europa, por sua vez, ecoaram com manifestações semelhantes. E a imprensa brasileira, salvo raras exceções, se viu obrigada aseguir o rastro internacional. Bolsonaro está em apuros e não vale mais a pena protegê-lo.

Pelo andar da carruagem, não se espera outra coisa senãodenúncias, condenações e prisão do ex-presidente, que incorporou definitivamente à sua biografia a pecha de “ladrão”. Tudo, agora, deve seguir num processo tão rápido quanto o permita os trâmites legais. As provas dos crimes de Bolsonaro são tão contundentes que não escapatória à vista.

O assunto não sai da boca do povo e da imprensa falada e escrita. Parece uma verdadeira procela. A cada dia aparecem novas ramificações. Se não relacionadasdiretamente a este caso, pelo menos a outros casoscorrelatos, que só irão engrossar os anos de prisão do asqueroso ex-capitão.

Ontem, por ordem de Alexandre de Morais, a Polícia Federal prendeu 5 participantes da ABIN (Agência Brasileira de Informações) clandestina, uma ramificação criada por Bolsonaro da ABIN institucional. A clandestina foi inspirada em experiência nazista, visando monitorar e perseguir desafetos do governo. Só se livrou o ex-membro da PF e ex-Diretor das duas ABIN, Alexandre Ramagem, por ser atualmente deputado Federal e possuir imunidade parlamentar No âmbito desse inquérito, descobriu-se um vídeo altamente comprometedor, em que a ABIN paralelatraça planos para investigar os passos de autoridades da República, como o Ministro do STF Alexandre de Morais(o qual deveria ser morto com um tiro na cabeça), o ex-presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, os senadoresRenan Calheiros, Omar Aziz, Randolfe Rodrigues e vários outros políticos, além do atual presidente da Câmara, Artur Lira que, por incrível que pareça, é aliado do ex-presidente. Num segundo vídeo, bem mais grave e descoberto mais recentemente, a quadrilha discute como incriminar funcionários da Receita Federal que fizeram relatório prejudicial ao senador Flávio Bolsonaro, no caso da investigação do mesmo pela prática de “rachadinha” na Câmara Municipal do Rio, isto é, pelaapropriação indébita de parte do salário dos funcionários de seu gabinete. A mudança do relatório da Receita acabou inocentando-o e os funcionários federais sofreram penalidades. O objetivo dessa reunião era blindar o filho do ex-presidente.

As contas não ficam por aí. Prosseguem o inquérito das fake news, dos atos antidemocráticos e das milícias digitais. E o inquérito da falsificação dos certificados devacinação da família Bolsonaro e sua equipe, para lograrem entrar nos Estados Unidos no final do seumandato, em 2022, já está na fase de conclusão. Por último, a joia mais brilhante do tesouro bolsonaristalogo virá à tona: sua participação na tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro de 2023, um caso talvez demorado, pela sua extensão, porém muito mais grave, pelas suasconsequências. Na verdade, todos os inquéritos contra Bolsonaro estão relacionados com este último, uma vez que os seus roubos, falsificações e conspirações visavam aimpedir a posse do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, o que culminaria com o golpe de Estado.

Se for condenado em todos os processos, Bolsonaropoderá pegar dezenas de anos de prisão. Como já está inelegível, isto significará o fim de sua carreira política.Mas é imprescindível que o povo continue se manifestando em apoio aos inquéritos e processos e exija um rápido julgamento, porque o delinquente continua a conspirar, com o objetivo de reverter este quadro. Sua rede de apoio, o chamado “gado”, ainda é poderosa e está em plena atividade. Não se pode dar trégua na luta.

Mas o que há de novo nesses processos criminosos envolvendo Bolsonaro e seus assessores?

A novidade é que as provas de seus crimes se revelam a cada dia mais abertas e contundentes, por repetição de um detalhe viciante: todas foram produzidas pelos próprios criminosos, que não tiveram a sensatez de destruí-las, como no caso dos vídeos acima citados. Daí que jornais on line, blogs e prodcasts produzidos boje no país são unânimes em qualificar a quadrilha de maior “exército criminoso de burros”. O que demonstra, ato continuum, algo comum à extrema-direita: a certeza da impunidadefutura, daí nem ligar para os vestígios deixados à margem dos caminhos do crime.

Todos os inquéritos envolvendo Bolsonaro estão carregados de auto provas. No caso das joias foi a maislegítima trapalhada de que se tem notícia. O ladrão rouba as joias, envolvendo órgãos e funcionários públicosvisíveis e depois manda vendê-las nos Estados Unidos (principalmente via Mauro Cid, ajudante de ordens de Bozo, e seu pai, general Mauro Lourena Cid, da APEX).Quando a justiça descobre o furto dessas joias, o ladrão manda recomprá-las, sorrateiramente, no intuito de devolvê-las, usando intermediários suspeitos. Tudo dá errado e os fatos vêm logo à tona. Além disso, nem todasas joias são encontradas.

Repetidamente o grupo mordia o próprio rabo. Mauro Cid assinou um termo de delação premiada e abriu o bico. JáRamagem, Diretor Geral da ABIN, espionou e gravou seu chefe Bolsonaro: o vídeo sobre o complô contra a Receita Federal não deveria ter sido gravado. E por que foi? Por desconfiança de Ramagem. Bolsonaro não confiava nele e ele não confiava em Bolsonaro. Por via das dúvidas era bom dispor de uma arma contra o adversário. No caso dos falsos certificados de vacinação, os vestígios deixados nem precisaram de investigação para serem descobertos.Apareceram funcionalmente, quase que por acaso. Os bolsominions estão em polvorosa: não conseguem explicar o que está acontecendo com tanta imperícia.Lamentavelmente, a grande maioria ainda mantém a fé: se Bolsonaro fez, está tudo certo, não há o que discutir.Mas os menos burros já pularam fora. 

Todo este desfecho só foi possível com a recuperação e apreservação das prerrogativas democráticas no Brasil. Sem elas, nada seria descoberto. Eis porque o totalitarismo só avança em território antidemocrático. O mundo verá os podres da extrema-direita regurgitarem lentamente em cada país, se a democracia tiver sustentabilidade e apoio suficientes. O que está acontecendo no Brasil fatalmente acontecerá em outros países da América Latina e da Europa, pois a extrema-direita é relativamente igual em toda parte. Seus métodos jamais nos enganarão. Enquanto isso, aumentemos o coro:

“Bozo ladrão na cadeia!”