Antero de Quental nasceu em 18 de abril de 1842, na ilha portuguesa de São Miguel. Fez a faculdade de Direito na Universidade de Coimbra, sendo figura central na Academia Coimbrã, tornou-se socialista e foi o principal porta-voz do realismo no debate literário conhecido como a questão coimbrã. Publicou seu primeiro livro — Sonetos de Antero — em 1861.
Na cidade francesa, exerceu a profissão de tipógrafo, em 1867 e no retorno a Portugal, passou a frequentar as reuniões do Cenáculo, uma turma de intelectuais que discutia arte, política, ciência e costumes e foi um dos principais nomes desse grupo, que contava também com a presença de Eça de Queirós (1845-1900).
Antero Quental, em 1870, com Oliveira Martins (1845-1894), criou A República, o “jornal da democracia portuguesa”.
Cinco anos depois, foi um dos fundadores do Partido Socialista Português e da Revista Ocidental, a qual buscava fomentar a troca de ideias entre intelectuais portugueses e espanhóis.
Com problemas de saúde, passou um tempo em tratamento na França, entre 1878 e 1879. De volta a Lisboa, candidatou-se a deputado pelo Partido Socialista. Adotou nessa altura as meninas Albertina e Beatriz, filhas de um amigo falecido. Nos seguinres 10 anos, morou, com elas, em Vila do Conde e dedicou-se à sua produção poética.
Em 1890, associou-se ao movimento Liga Patriótica do Norte, de curta duração. No ano seguinte, voltou a viver na terra natal, onde decidiu dar fim na própria vida, em 11 de setembro de 1891.
O ambiente de exaltação revolucionária e patriótica no Porto foi exemplarmente traduzido pela Liga Patriótica do Norte, fundada a 26 de janeiro de 1890, logo a seguir ao ultimato. A Liga foi liderada, por convite do monárquico Luís de Magalhães por Antero de Quental, então radicado em Vila do Conde, e LPN reunia monárquicos e republicanos, irmanados no repúdio ao Ultimato inglês e no desejo de recuperação de um país l em grave crise política, económica e social.
Portugal - proclama então Antero - expia a humilhação e ansiedade de “quarenta anos de egoísmo, de imprevidência e de relaxamento dos costumes políticos, quarenta anos de paz profunda que uma sorte raríssima nos concedeu e que só soubemos malbaratar na intriga, na vaidade, no gozo material, em vez de os aproveitar no trabalho, na reforma das instituições e no progresso das ideias".
Para o grande poeta - que após o fracasso do 31 de Janeiro regressa aos Açores, suicidando-se em Setembro de 1891 - o maior inimigo não era o inglês: " “Somos nós mesmo, e só um falso patriotismo, falso e criminosamente vaidoso, pode afirmar o contrário. Declamar contra a Inglaterra é fácil: emendar os defeitos da nossa vida nacional será mais difícil (...) Portugal, ou se reformará, política, intelectual e moralmente, ou deixará de existir. Mas a reforma, para ser efectiva e fecunda, deve partir de dentro, do mais fundo do nosso ser colectivo: deve ser antes de tudo uma reforma dos sentimentos e dos costumes. enganam-se os que julgam garantir o futuro e assegurar a nacionalidade com meios exteriores e materiais, com armamentos e alarde de força militar ".
O poeta, deve pois ter-se magoado com o resultado triste da revolução portuense de 31.01.1891, fez parte da geração de 70, que introduziu o realismo em Portugal.
Apesar disso, as obras do autor também apresentam traços românticos, como a melancolia e o misticismo.
No entanto, chama atenção o racionalismo verificado no rigor formal de seus sonetos. Em 1861, publica em edição limitada os Sonetos de Antero, obra dedicada ao poeta João de Deus, e, dois anos depois, os poemas Beatrice e Fiat Lux. Em 1865, publica as Odes Modernas, poesias de romantismo social, acompanhadas de uma "Nota sobre a Missão Revolucionária da Poesia".
“Foi essencialmente para quebrar o nosso isolamento e lutar contra o atraso que foram promovidas, pela chamada geração de 70, as Conferências Democráticas do Casino.
No manifesto de 16 de Maio de 1871, Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queirós, Germano Meireles, Guilherme de Azevedo, Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Sáragga e Teófilo Braga proclamaram ([65], pp. 195-196):
"Não pode viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo; (...).
Abrir uma tribuna, onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este momento do século, preocupando-nos sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos; ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a humanidade civilizada; (...)"
eram alguns dos objectivos das Conferências Democráticas, constantes do manifesto.
As primeiras seis conferências previstas eram as seguintes:
1) Causas da decadência dos Povos Peninsulares, por Antero de Quental;
2) A Literatura Portuguesa contemporânea, por Augusto Soromenho;
3) O realismo como expressão da arte, por Eça de Queirós;
4) A questão do ensino, por Adolfo Coelho;
5) Os historiadores críticos de Jesus, por Salomão Sáragga;
6) O Socialismo, por Batalha Reis.
Só as primeiras quatro foram realizadas, pois, quando, em 26 de Junho de 1871, se ia realizar a 5(a) conferência, as portas do Casino estavam fechadas e nelas afixada uma portaria do Presidente do Conselho de Ministros, Marquês d'Avila e Bolama, datada desse mesmo dia, proibindo essa conferência e todas as seguintes ([65], pp. 197-198).
E porquê?! Segundo a circular afixada,
"por nelas se expor e procurar "sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do Estado" e por tais factos "além de constituirem um abuso do direito de reunião, ofenderem directa e claramente as leis do Reino.""
Como se vê, os reaccionários que então detinham o poder também não queriam, de modo algum, acabar com o isolamento, que há tanto tempo vinha sendo imposto ao povo português”.
Ao revisitarmos a vida e obra de Antero de Quental, é impossível não refletir sobre a sua incansável busca pela verdade e pela transformação social. Assim como Antero se dedicou a provocar mudanças profundas na sociedade portuguesa, o jornal Estrategizando empenha-se em trilhar o caminho do jornalismo fraterno e solidário, onde a verdade é o nosso norte.
Convidamos os leitores a revisitar o Estrategizando e a unir-se a nós nesta missão de fomentar o pensamento crítico, a justiça social e a integridade nas nossas análises.
Tal como Antero, acreditamos que só através da reflexão profunda e do compromisso com o bem coletivo é possível construir um futuro melhor para todos.
https://www.mat.uc.pt/~jaimecs/hspm/X0028_capIV03.html
Joffre Justino
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