É com emoção e orgulho que o mundo da literatura lusófona celebra a consagração de Ana Paula Ribeiro Tavares como vencedora do Prêmio Camões 2025, o mais emblemático prêmio literário de língua portuguesa.

Aos 72 anos, a escritora angolana vê seu legado reconhecido internacionalmente, reforçando a força das vozes africanas e femininas no panorama literário.

Um júri de respeito e justificação do prêmio

A escolha foi feita por um júri internacional composto por nomes das literaturas brasileira, portuguesa e africana. Segundo o comunicado oficial, Ana Paula Tavares foi contemplada por sua “fecunda e coerente trajetória de criação estética e, em especial, o seu resgate de dignidade da Poesia.” O júri destacou ainda que sua obra amplia sua dimensão ao transitar entre poesia, crônica e narrativa com compromisso histórico e antropológico.

O Prêmio Camões, instituído pelos governos de Portugal e Brasil em 1988, oferece ao laureado uma quantia de 100 mil euros, e destina-se a reconhecer autores que contribuam para o enriquecimento do patrimônio literário da língua portuguesa.

Vida, obra e percurso literário

Ana Paula Tavares nasceu em 30 de outubro de 1952, em Lubango, província da Huíla, no sul de Angola. Sua trajetória de formação marcou uma ponte entre Angola e Portugal: iniciou a graduação em História em Angola e depois completou seus estudos em Portugal, onde concluiu mestrado em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e, posteriormente, doutorado em Antropologia. Atualmente, leciona na Universidade Católica de Lisboa e mantém fortes vínculos com instituições culturais angolanas e lusófonas.

Sua produção literária combina poesia, narrativa e crônicas, e frequentemente dialoga com temas como memória, cultura, identidade e o papel da mulher. Entre suas obras mais conhecidas estão:

  • Ritos de Passagem (1985)

  • O Lago da Lua (1999)

  • Dizes-me Coisas Amargas como os Frutos (2001)

  • Ex-votos (2003)

  • A Cabeça de Salomé (2004)

  • Um rio preso nas mãos: crônicas (2019), publicado no Brasil pela Editora Kapulana

Além disso, algumas de suas obras foram incluídas em coletâneas brasileiras, como Verbetes para um dicionário afetivo (2021).

Ana Paula Tavares já havia recebido, entre outros reconhecimentos, o Prêmio Mário António de Poesia (pela obra Dizes-me Coisas Amargas como os Frutos) e o Prêmio Nacional de Cultura e Artes de Angola.

Repercussão e simbolismo da premiação

No Brasil, a Ministra da Cultura, Margareth Menezes, saudou a conquista como uma celebração “da força e da beleza da literatura lusófona”, destacando que a premiação reforça os laços culturais entre Brasil, Angola e os demais países da lusofonia.

A premiação de Ana Paula Tavares também ecoa simbolicamente: ela se torna mais uma mulher a ser laureada com o Camões em uma trajetória literária de longa duração. A exemplo recente de 2024, quando a vencedora foi a escritora brasileira Adélia Prado, a escolha de uma autora africana ressalta a diversidade da língua portuguesa.

Vale lembrar que antes desta edição, a última autora africana a receber o Camões foi a moçambicana Paulina Chiziane, em 2021.

Um legado em palavras

A consagração de Ana Paula Tavares com o Prêmio Camões 2025 evidencia não apenas sua produção literária, mas também a persistência de uma voz que articula poesia, memória cultural e engajamento crítico. Seu percurso atravessa geografias, tempos e línguas — e reafirma que a literatura em português continua viva, pulsante, plural.

Parabéns a Ana Paula Tavares: sua trajetória inspira leitores, escritoras e poetas de todas as gerações a reivindicar seu espaço na língua que compartilhamos.