Num mundo onde a conveniência muitas vezes dita as escolhas alimentares, uma investigação recente acende um alerta vermelho sobre os riscos inerentes ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Publicado no prestigiado British Medical Journal (BMJ), o estudo revela uma associação direta entre estes produtos e uma série de efeitos adversos para a saúde, abrangendo desde doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer, até diabetes tipo 2. A investigação, envolvendo uma equipa internacional de cientistas da Austrália, EUA, França e Irlanda, analisou 45 estudos que juntos compreendem uma população de quase 10 milhões de pessoas, trazendo à luz uma realidade preocupante que não pode mais ser ignorada.

Alimentos ultraprocessados, que incluem itens como gelados, batatas fritas, cereais de pequeno-almoço, iogurtes aromatizados e bolachas, são definidos por conterem normalmente cinco ou mais ingredientes, incluindo vários aditivos. A sua crescente presença nas dietas ao redor do mundo, onde representam mais de metade da ingestão calórica diária em países como os EUA e o Reino Unido, sinaliza uma tendência alarmante com graves repercussões para a saúde pública.

Os resultados da pesquisa não deixam margem para dúvidas. Segundo Amelia Lake, professora de nutrição em saúde pública na Universidade de Teesside, "esta é uma revisão importante que fornece dados recentes de alto nível, apelando a uma discussão política clara e, em última análise, a ações para esclarecer à população quais os alimentos que são ultraprocessados e prejudiciais para a saúde". Além disso, Carlos Monteiro, professor da Universidade de São Paulo, no Brasil, destaca em um editorial associado que "as dietas ricas em alimentos ultraprocessados podem ser prejudiciais para a maioria dos sistemas do corpo – talvez todos".

O estudo sublinha que estes produtos são não apenas "modificados", mas frequentemente compostos por "ingredientes baratos manipulados quimicamente", como amidos, açúcares e gorduras modificadas, com uma escassa presença de alimentos integrais. Monteiro adverte: "Não existe qualquer razão para acreditar que o ser humano possa se adaptar totalmente a estes produtos", salientando o potencial desses alimentos em comprometer ou danificar os sistemas do corpo, dependendo da vulnerabilidade individual e da quantidade consumida.

Entre os efeitos adversos mais fortemente ligados ao consumo de alimentos ultraprocessados, destacam-se um maior risco de mortalidade geral, mortalidade relacionada com doenças cardiovasculares, problemas de saúde mental, obesidade e diabetes tipo 2. Os autores do estudo enfatizam a necessidade de mais ensaios clínicos aleatórios para determinar a causalidade e superar as limitações inerentes a este tipo de revisão global.

Este corpo de evidências representa um chamado urgente para o desenvolvimento e avaliação de políticas governamentais e estratégias de saúde pública focadas em reduzir a exposição alimentar a alimentos ultraprocessados. À medida que as consequências do consumo destes produtos se tornam cada vez mais evidentes, é imperativo que sociedade e governos unam forças na promoção de hábitos alimentares saudáveis, garantindo um futuro mais saudável para as próximas gerações.

Morgado Jr.

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Foto de destaque: IA; Esta imagem ilustra vividamente a escolha entre alimentos naturais e ultraprocessados, ressaltando os perigos associados a estes últimos para a saúde. A representação visual enfatiza a importância das decisões alimentares no bem-estar geral, servindo como um poderoso lembrete dos impactos que as nossas escolhas dietéticas podem ter.