Madrid foi palco de um debate decisivo sobre o futuro da cooperação económica ibérica no âmbito da conferência “Inspira Portugal, 50 anos depois”, organizada pela Embaixada de Portugal em Espanha.

No encerramento do evento, Pedro Reis, representante do governo português, lançou uma questão que ressoou em todo o auditório: “A Ibéria — já para não dizer a Europa — terá capacidade de construir uma nova política de reindustrialização sustentável, posicionando-se internacionalmente como um só bloco?”.

Esta interrogação colocou em evidência as expectativas e os desafios que ambos os países enfrentam numa altura em que a transformação económica e industrial se torna imperativa.

Pedro Reis, cuja intervenção foi marcante, destacou a importância de consolidar a parceria estratégica entre Portugal e Espanha. “Espanha é o nosso maior parceiro a nível económico e comercial”, sublinhou, realçando que as duas nações têm agora uma oportunidade única de ir mais longe nesta relação e dar um passo decisivo rumo a uma integração económica mais profunda. Segundo o ministro, a chamada “agenda ibérica” não se deve limitar a um mero alinhamento de políticas, mas sim a uma estratégia integrada que possa posicionar a região como um polo atrativo para grandes projetos europeus.

A Nova Visão para a Cooperação Ibérica: Muito Além dos Fundos Next Generation

No seu discurso, Pedro Reis abordou a necessidade de preparar o cenário económico para além dos fundos europeus Next Generation, que têm sido um dos pilares do desenvolvimento e recuperação pós-pandemia. “Precisamos de uma visão de longo prazo que atraia investimento estrutural e estratégico, capaz de promover uma reindustrialização sustentável e de responder aos desafios globais de competitividade e inovação”, afirmou.

O ministro destacou a importância de uma abordagem concertada para atrair agências europeias e mundiais, sediar grandes eventos internacionais e desenvolver infraestruturas estratégicas conjuntas. Defendeu ainda uma “diplomacia económica ativa em mercados terceiros” e sublinhou que o acesso a recursos críticos, como a água e a segurança energética, deve ser uma prioridade máxima para ambos os países. “A cooperação ibérica é mais do que uma aliança comercial; é uma visão estratégica para o futuro da região no contexto europeu”, frisou.

Os Desafios e as Divergências: Um Caminho a Ser Construído

Apesar do tom otimista de Pedro Reis, nem todos partilham desta visão de uma Ibéria unida e integrada. Luís Montenegro, em recente entrevista à SIC, levantou dúvidas sobre a capacidade de concretização desta agenda, alertando para as divergências políticas e económicas que ainda persistem entre os dois países. Para Montenegro, o sucesso de uma “agenda ibérica” passa por uma maior harmonização de políticas fiscais, laborais e ambientais, algo que considera difícil de alcançar a curto prazo.

Montenegro não é o único a expressar ceticismo.
Em Madrid, a resposta dos representantes espanhóis também foi marcada por cautela, sugerindo que, apesar de reconhecerem a importância da parceria, há ainda um longo caminho a percorrer. Os desafios são significativos, sobretudo no que respeita a ultrapassar velhas rivalidades e promover uma confiança mútua que suporte uma colaboração estratégica de longo prazo.

O Papel da Ibéria no Contexto Europeu: Uma Chave para o Futuro?

Pedro Reis, contudo, manteve-se firme na sua convicção de que uma estratégia ibérica integrada pode ser a chave para um futuro mais resiliente e sustentável, não apenas para a Península Ibérica, mas para a Europa como um todo. “Se conseguirmos articular os nossos esforços e criar uma agenda comum, podemos atrair investimentos que hoje vão para outras regiões do mundo”, defendeu.

Numa altura em que a União Europeia enfrenta a pressão de redefinir o seu papel no cenário global, o conceito de uma “agenda ibérica” poderá representar um modelo a seguir. A iniciativa de uma cooperação mais profunda entre os dois países poderá servir de exemplo para outros blocos regionais dentro da Europa, demonstrando que, através de sinergias estratégicas, é possível construir uma economia mais competitiva, sustentável e alinhada com os desafios ambientais e sociais do século XXI.

A conferência encerrou com a promessa de continuar a explorar novas formas de cooperação entre Portugal e Espanha, com representantes de ambos os lados a reconhecer que o verdadeiro desafio será transformar palavras em ações concretas. Como referiu Pedro Reis, “a estratégia ibérica a ser construída pode ser uma chave desse futuro”, mas, para isso, será necessária uma liderança visionária e uma vontade política que ultrapasse as barreiras do passado.

Esta visão, embora ambiciosa, poderá ser o primeiro passo para uma nova era de desenvolvimento sustentável, em que a Península Ibérica se posicione como um bloco estratégico dentro da Europa, capaz de influenciar as políticas e o rumo de todo o continente.