Esta interrogação colocou em evidência as expectativas e os desafios que ambos os países enfrentam numa altura em que a transformação económica e industrial se torna imperativa.
Pedro Reis, cuja intervenção foi marcante, destacou a importância de consolidar a parceria estratégica entre Portugal e Espanha. “Espanha é o nosso maior parceiro a nível económico e comercial”, sublinhou, realçando que as duas nações têm agora uma oportunidade única de ir mais longe nesta relação e dar um passo decisivo rumo a uma integração económica mais profunda. Segundo o ministro, a chamada “agenda ibérica” não se deve limitar a um mero alinhamento de políticas, mas sim a uma estratégia integrada que possa posicionar a região como um polo atrativo para grandes projetos europeus.
No seu discurso, Pedro Reis abordou a necessidade de preparar o cenário económico para além dos fundos europeus Next Generation, que têm sido um dos pilares do desenvolvimento e recuperação pós-pandemia. “Precisamos de uma visão de longo prazo que atraia investimento estrutural e estratégico, capaz de promover uma reindustrialização sustentável e de responder aos desafios globais de competitividade e inovação”, afirmou.
O ministro destacou a importância de uma abordagem concertada para atrair agências europeias e mundiais, sediar grandes eventos internacionais e desenvolver infraestruturas estratégicas conjuntas. Defendeu ainda uma “diplomacia económica ativa em mercados terceiros” e sublinhou que o acesso a recursos críticos, como a água e a segurança energética, deve ser uma prioridade máxima para ambos os países. “A cooperação ibérica é mais do que uma aliança comercial; é uma visão estratégica para o futuro da região no contexto europeu”, frisou.
Apesar do tom otimista de Pedro Reis, nem todos partilham desta visão de uma Ibéria unida e integrada. Luís Montenegro, em recente entrevista à SIC, levantou dúvidas sobre a capacidade de concretização desta agenda, alertando para as divergências políticas e económicas que ainda persistem entre os dois países. Para Montenegro, o sucesso de uma “agenda ibérica” passa por uma maior harmonização de políticas fiscais, laborais e ambientais, algo que considera difícil de alcançar a curto prazo.
Montenegro não é o único a expressar ceticismo.
Em Madrid, a resposta dos representantes espanhóis também foi marcada por cautela, sugerindo que, apesar de reconhecerem a importância da parceria, há ainda um longo caminho a percorrer. Os desafios são significativos, sobretudo no que respeita a ultrapassar velhas rivalidades e promover uma confiança mútua que suporte uma colaboração estratégica de longo prazo.
Pedro Reis, contudo, manteve-se firme na sua convicção de que uma estratégia ibérica integrada pode ser a chave para um futuro mais resiliente e sustentável, não apenas para a Península Ibérica, mas para a Europa como um todo. “Se conseguirmos articular os nossos esforços e criar uma agenda comum, podemos atrair investimentos que hoje vão para outras regiões do mundo”, defendeu.
Numa altura em que a União Europeia enfrenta a pressão de redefinir o seu papel no cenário global, o conceito de uma “agenda ibérica” poderá representar um modelo a seguir. A iniciativa de uma cooperação mais profunda entre os dois países poderá servir de exemplo para outros blocos regionais dentro da Europa, demonstrando que, através de sinergias estratégicas, é possível construir uma economia mais competitiva, sustentável e alinhada com os desafios ambientais e sociais do século XXI.
Esta visão, embora ambiciosa, poderá ser o primeiro passo para uma nova era de desenvolvimento sustentável, em que a Península Ibérica se posicione como um bloco estratégico dentro da Europa, capaz de influenciar as políticas e o rumo de todo o continente.