Morreu a cantora Ana Faria

Ana Faria morreu este sábado, 17 de agosto, aos 74 anos como informou o marido, Heduíno Gomes, nas redes sociais.

“Ana faria. Nova Lisboa, 18 de Outubro de 1949 – Lisboa, 17 de Agosto de 2024”, escreve o companheiro de vida da artista, Heduino Gomes.

Ana Faria foi uma referência da música infanto-juvenil dos anos 1980, tendo sido a criadora de projetos como os Queijinhos Frescos, os Ministars e os Onda Choc.

Ana Faria tornou-se conhecida nas décadas de 1980 e 1990 em vários projetos musicais dedicados ao público infanto-juvenil mas iniciou a sua atividade a participar no programa "Zip-Zip", em 1969 (onde cantou "Canção de Embalar", de José Afonso, e "Avé Maria do Povo", popularizado por Simone de Oliveira).

Formados em 1977, na altura com o nome "Terra Sem Amos", e ligados ao PCPml, os Terra a Terra pertencem à galeria dos diferentes grupos que se dedicaram ou dedicam à estilização heterodoxa da música portuguesa de tradição oral.

A formação inicial grava o LPDançando e Pulirando, o qual inclui temas de diversas origens geográficas (Alentejo, Beira Baixa, Trás-os-Montes, etc.), sendo as recolhas feitas pelo grupo e por diversas pessoas, entre as quais será de destacar as feitas no Baixo Alentejo por Heduíno Gomes, marido da cantora Ana Faria, conhecido por ter sido o secretário-geral do PCP(m-l) nos anos de brasa da Revolução e ser hoje militante do PSD. Este disco contém temas como "Pingacho", "Não Se Me Dá Que Vindimem" ou "Diabos Levem Os Ratos". Embora seja um disco importante não deixa de ter algumas deficiências, se comparado com trabalhos de outros grupos como a Brigada Victor Jaraou os Vai de Roda.
O segundo trabalho do grupo, editado em 1981 é já mais maduro. O grupo estava a evoluir e a deixar para trás algumas das limitações que se notavam no seu primeiro trabalho. A formação sofre alterações com a entrada de novos elementos (são, agora, 17 elementos), entre os quais Artur Pereira que é natural do Distrito da Guarda, mais propriamente de Soito (Sabugal). Como convidado, tocando guitarra, participa Silvestre Fonseca, natural de Famalicão de Serra. Intitulado Pelo Toque da Viola, o trabalho apresenta canções de quase todo o país, recriadas pelo grupo. Nele figuram temas como "Pelo Toque da Viola", "Chula Rabela", "Tirana Atira" ou "O Rapaz do Casaquito".

Entretanto Ana Faria só editou
o primeiro álbum a solo, "Violeta Flor", em 1982, com originais seus, de Heduíno Gomes e de Mário Piçarra.

Ana Faria também integrou o Grupo Decibel e Terra a Terra, dedicados à música tradicional portuguesa, e nos projetos "Brincando aos Clássicos" (centrado em adaptações de música clássica) e Queijinhos Frescos, com os filhos João, Nuno e Pedro Faria Gomes, nos anos 1980.

Foi nessa década que com Heduino Gomes esteve assim na origem dos Onda Choc, banda pop composta por crianças e adolescentes que fez versões em português de êxitos internacionais com sucessos que vão até aos anos 1990.

Ana Faria também formou os grupos Jovens Cantores de Lisboa e Popeline.

Editou ainda livros infantis e dedicou-se à pintura e retratos.

O grupo parte de recolhas de César Neves e Gualdino Campos, para além de Fernando Lopes-Graça, Michel Giacometti e Margot Dias e lança o LP Estilhaços, em 1983.

Neste disco, com a formação reduzida para 10 elementos, podem encontrar-se verdadeiras pérolas da música tradicional, como "Fui-te ver, estavas lavando", "Festas de Campo Maior", "Corridinho" ou um tema da autoria de Mário Piçarra denominado "Vitral".

Desde a capa, até ao conteúdo, os Terra a Terra começavam a pertencer à vanguarda dos grupos que se dedicavam à recriação, com qualidade, da música de tradição oral.

Um último trabalho do grupo, com o título Lá Vai Jeremias, seria ainda editado, mas o grupo já não teria continuidade e com o seu fim perdeu-se bastante na música portuguesa.

A formação inicial do grupo Terra a Terra incluía:
* Mário Piçarra (1965-2019), filho do famoso cantor Luís Piçarra
* Ana Faria, que ficou celebrizada pela interpretação de música para crianças
* Jaime Ferreira
* Rosário Pires
* Jorge Vieira
* Eduardo Torres
* Mário Luís Pontes
* Luísa Vasconcelos
O instrumental do grupo era constituído por viola, viola braguesa, cavaquinho, castanholas, ferrinhos, harmónica, caixa, gaita de foles, adufe e flauta.

Neste momento de despedida, em que recordamos a vida e o legado de Ana Faria, convidamo-lo a continuar a acompanhar histórias que marcam a nossa cultura e sociedade. No Estrategizando, comprometemo-nos a trazer-lhe conteúdos profundos e inspiradores, para que se mantenha sempre informado e ligado às raízes e às transformações que moldam o nosso país.

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Joffre Justino