ADÉLIA PRADO VENCE O PRÊMIO CAMÕES 2024

Paulo Martins – Editor Cultural

A escritora mineira Adélia Prado, de 88 anos, residente em Divinópolis, MG, é a grande vencedora do Prêmio Camões 2024. A decisão do júri foi anunciada nesta quarta-feira (26), causando, de alguma forma, muita alegria para uns e grande surpresa para outros.

Os apoiadores de Adélia Prado justificam sua alegria, na medida em que a consideram não só merecedora do prêmio como, até certo ponto, uma injustiçada, pela pouca valorização que teria sido dada à sua obra, apesar dos muitos prêmios que recebeu. Para os críticos, de um modo geral, a surpresa advém do fato de que Adélia Prado tinha caído num certo ostracismo; vivia um tanto afastada das lides literárias, lá em seu pequeno paraíso de Divinópolis, não publicando nenhum livro nos últimos 10 anos. De repente, é agraciada com o maior prêmio da literatura brasileira, o Machado de Assis, da ABL e, logo a seguir, com o maior prêmio da própria lusofonia, o Prêmio Camões. Mas não foi vitoriosa impulsionada por nenhum livro recente, e sim, pelo conjunto da obra, escopo que já lhe tinha valido o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais de 2017.

Estes foram os jurados do Prêmio Camões: o escritor e professor Deonisio da Silva (Brasil), o professor e pesquisador Ranieri Ribas (Brasil), o filósofo e crítico de arte poética Dionisio Bahule (Moçambique), o professor Francisco Noa (Moçambique), a professora Clara Crabbé Rocha (Portugal) e a professora Isabel Cristina Mateus (Portugal).

Vale conjeturar que os dois brasileiros muito devem ter pesado na decisão, vez que, esperava-se que o prêmio fosse concedido a um escritor africano, já que os dois últimos premiados foram de Portugal (João Barrento) e do Brasil (Silviano Santiago). Com isso, foi quebrada a tradição do revezamento Brasil, Portugal, África, configurando-se a segunda grande surpresa da rodada. No entanto, havia um elemento de convencimento para os jurados: a idade avançada da grande poeta e escritora brasileira, O prêmio Camões só pode ser concedido a um escritor vivo. E Adélia Prado é considerada para muitos a maior poeta viva do Brasil.

Segundo o júri, “Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética.” É “herdeira de Carlos Drummond de Andrade, o autor que a deu a conhecer”.  E ainda: “Adélia Prado é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”.

O valor da premiação é de 100 mil euros, ou 590 mil reais ao câmbio de hoje, um dos maiores valores do mundo entre os prêmios literários. A premiação é concedida por meio de subsídio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) e do Governo de Portugal.

Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 1935 e foi professora durante 24 anos. Sempre escreveu, mas só estreou aos 40. Seu reconhecimento se deu logo após a publicação de seu primeiro livro de poemas “Bagagem” (1976). Ela ganhou um fervoroso adepto: Carlos Drummond de Andrade. Numa crônica publicada no Jornal do Brasil na época, o poeta asseverou: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo”. Em 1978, ela escreveu “O coração disparado”, com o qual conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro, consagrando o seu reconhecimento. Já famosa, chegou a concorrer a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2001, mas, na ocasião, perdeu para a viúva de Jorge Amado, Zélia Gattai. Depois disso, desistiu de concorrer, apesar de muitos escritores amigos a incentivarem.

UMA OBRA VASTA E ORIGINAL

A obra de Adélia Prado é vasta e original, tanto em poesia como em ficção. Começou em 1976, aos 40 anos, com a publicação de “Bagagem”. Em 1978 publicou “O coração disparado”, agraciado com o Prêmio Jabuti. “Solte os cachorros” foi sua estreia na prosa, que prosseguiu com “Cacos para um Vitral”. A seguir veio “Terra de Santa Cruz”, em 1981 e, em 1984, “Os componentes da banda”. Sua “Poesia reunida” saiu em 1991.

Depois deste primeiro ciclo literário, ingressou num período de silêncio poético, só vindo a publicar novo livro em 1994: “O homem da mão seca”.  A seguir, publicou “Manuscritos de Felipa” e “Oráculos de Maio”, além de sua “Prosa reunida”, em 1999.

Adélia está a mais de dez anos sem publicar — sua última coletânea de poesia foi “Miserere”, de 2013. Mas já anunciou que lançará uma nova coletânea poética. Trata-se de "Jardim das Oliveiras", inspirado em seus poemas da juventude, não publicados antes. A obra dialoga com a dor e a angústia destes 10 anos de silêncio, que passou sem escrever. “É um livro difícil de escrever porque as experiências que produziram os poemas também foram difíceis”, contou Adélia, nas redes sociais. “Mas tem alegria, também. Se for poesia verdadeira, não tem um que não tem alegria, pelo menos uma sombra de alegria, uma pisada na areia, uma pegada. A arte é assim, o pintor pinta um assassinato e você quer colocar na parede”.

A expectativa é grande para este lançamento, que sairá no segundo semestre deste ano.

PRÊMIOS DE ADÉLIA PRADO

  • Jabuti de Literatura (1978)
  • ABL de Literatura Infantojuvenil (2007)
  • Literário da Fundação Biblioteca Nacional (2010)
  • Associação Paulista dos Críticos de Arte (2010)
  • Clarice Lispector (2016)
  • Literatura do Governo de Minas Gerais (2017)
  • Associação de Artistas e Designers de Artes Aplicadas da Sérvia (2018)
  • Prêmio Machado de Assis 2024
  • Prêmio Camões 2024