A iminente tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos da América, agendada para 20 de janeiro de 2025, trouxe à tona preocupações significativas entre as comunidades emigrantes portuguesas, especialmente nos Açores.

As promessas eleitorais de Trump, centradas em políticas de imigração mais restritivas, levantaram a possibilidade de deportações em massa de indivíduos em situação irregular.

Em resposta a este cenário, o Governo Regional dos Açores está a desenvolver um plano de contingência destinado a acolher os emigrantes açorianos que possam ser deportados dos EUA. Paulo Estêvão, secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, afirmou em conferência de imprensa na cidade da Horta: “Não é o cenário previsível, mas estamos a preparar-nos para o pior.” Estêvão admitiu a possibilidade de “centenas” de açorianos em situação ilegal nos EUA serem afetados pelas novas políticas de imigração .

O plano de contingência regional contempla medidas abrangentes em várias áreas essenciais:

Habitação: Garantir alojamento adequado para os deportados, evitando situações de desamparo.

Apoios Sociais: Fornecer suporte financeiro e logístico para facilitar a reintegração dos indivíduos na sociedade açoriana.

Emprego: Implementar programas de inserção laboral que promovam oportunidades de trabalho para os retornados.

Saúde e Educação: Assegurar acesso aos serviços de saúde e educação, fundamentais para o bem-estar e desenvolvimento dos deportados e suas famílias.

Paulo Estêvão destacou ainda que, durante o primeiro mandato de Donald Trump, registou-se um número relativamente baixo de deportações de açorianos: 20 em 2017, 25 em 2018, 18 em 2019, 11 em 2020 e cinco em 2021. Em contraste, entre 1997 e 2013, sob as administrações de George Bush e Barack Obama, mais de 800 açorianos foram deportados .

No panorama nacional, o Governo Português, através do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, reconheceu a possibilidade de um “ligeiro crescimento” nas deportações, mas rejeitou alarmismos. Cesário afirmou: “Evidentemente, nós não estamos à espera, neste momento, que haja qualquer tipo de processo de deportações maciças. Poderá haver casos pontuais, como já acontece atualmente. Mas, com muita tranquilidade e calma, vamos fazer uma avaliação dessa situação à medida que as coisas forem acontecendo” .

A Associação de Emigrantes Açorianos também está a preparar medidas para acolher eventuais deportados, colaborando com o governo regional para encontrar soluções nas áreas de habitação, saúde, educação, apoios sociais e emprego. Andrea Moniz, representante da associação, sublinhou que, embora seja “inevitável que os açorianos sejam afetados”, não acredita que os números de deportações venham a ser tão altos como em outras nacionalidades .

Esta situação reflete a complexidade das políticas de imigração e os seus impactos diretos nas comunidades portuguesas no estrangeiro. Enquanto o Governo Regional dos Açores adota uma postura proativa, preparando-se para cenários adversos, as autoridades nacionais optam por uma abordagem mais cautelosa, monitorizando os desenvolvimentos e ajustando as suas estratégias conforme necessário.

Como afirmou o filósofo francês Voltaire, “A política é a arte de mentir a propósito.” Neste contexto, a transparência e a preparação são essenciais para mitigar os impactos de decisões políticas externas nas vidas dos cidadãos portugueses.

Fontes:

Açores preparam plano para lidar com possíveis deportações em massa dos EUA

Governo português prepara planos de apoio a eventuais deportados dos EUA

Deportações nos EUA. “É inevitável que açorianos sejam afetados”