Nos anos 90, a CEE e depois a UE com a participação das famílias políticas socialistas, liberais e conservadoras e Cª empreenderam uma guinada no sentido neoliberal.
As consequências estão à vista: austeridade, empobrecimento, de um lado, e brutal acumulação de riqueza do outro num número restritíssimo de oligarcas.
Tudo isto ocorreu em paralelo com a implosão da URSS, o que fez crer aos dirigentes norte-americanos que tinha chegado a hora de “Todo o poder aos EUA”. As invasões do Iraque e do Afeganistão e os bombardeamentos da Jugoslávia e da Líbia assentam nesta conceção, assim como o alargamento da NATO para o os países que pertenciam ao Pacto de Varsóvia.
Os governos ocidentais, embora saídos de diferentes partidos passaram a governar do mesmo modo, de acordo com os mercados, ou seja, aumentar os lucros de um lado o empobrecimento do outro.
As elites governantes saem em geral de dentro dos partidos. Reproduzem-se burocraticamente em cada capital dos 27 e com todo o lustro em Bruxelas. Os governantes entregaram a alma aos mercados. O niilismo campeia. O soberano (o povo) não quer a soberania – as eleições confirmam que muito pouco muda. Ataques pessoais, gritaria à falta de ideais. A própria justiça entra pela política adentro face à incapacidade do sistema.
De certo modo a democracia foi expropriada do povo que lhe dava sustento e seiva. Agora é uma repetição de atos eleitorais em que todos atacam todos e tudo. Os que ganham vão para o governo desfazer o que estava a ser feito e que, no essencial, é mudar as chefias para que quem vence possa abocanhar os cargos que justificam a existência do partido único – o partido dos mercados – constituído por várias secções de interesses, os partidos dos governos.
O neoliberalismo transformou as sociedades em indivíduos isolados, descrentes, sem horizontes, num vazio. Só há indivíduos, não há comunidades que ligam uns aos outros. Os verdadeiros indivíduos são os ricos, os famosos, os da vida boa. Os outros são verbos de encher. Servem para votar no tal partido único com as várias secções de interesses.
Os povos assistem a este desvario sem aparentemente saber o que fazer. Olham de lado. O soberano não quer o dom da soberania porque entende que o jogo está viciado. Já está tudo decidido. O soberano sente que o seu poder se encontra num beco sem saída.
Bizarramente os dirigentes da UE pretendem com a loucura do belicismo insuflar alguma crença ao Ocidente. As trombetas da morte batem à porta das casas da Europa. Quem lhes vai dar as chaves?
Nos anos 80 não se imaginava este caminho de desgraça. Não lemos bem os sinais. Pode ser que a cruel realidade desperte e varra a anestesia dominante. Vale a pena recordar o Acordai de José Gomes Ferreira orquestrado por Lopes Graça. …Acordai, acendei de almas e de sóis, este mar sem cais…