Este regime fascista, responsável por milhares de vítimas, mortos em confrontos, prisões ou em situações de tortura, prisões em campos de concentração no continente, ilhas e colónias, perseguições, expulsões do país, degredos e deportações para as ilhas e colónias, espalhando  um ambiente  de terror entre várias gerações de portugueses.

O sindicalismo corporativo obedecia assim aos seguintes objetivos totalitários:

- Unicidade sindical corporativa, sendo apenas permitidos os sindicatos nacionais, resultantes da prévia aprovação pelo Governo dos seus estatutos. Os que não se submetessem e/ou não correspondessem ao modelo pretendido pelo Estado Novo seriam encerrados e dissolvidos;
- Colaboração das classes sociais com vista à harmonia do capital e do trabalho, sob a bandeira do “interesse nacional”, implicando, entre outros, a proibição da greve o do lock-out e todos os contactos com as filiações internacionais dos sindicatos; 
- Controlo dos sindicatos pelo Governo, a quem cabia aprovar as direções eleitas, podendo demiti-las, dissolver administrativamente os sindicatos ou as secções “que se desviassem dos seus fins” ou nomear comissões administrativas para dirigir os sindicatos. O Governo tinha ainda poderes de fiscalização, intervenção e orientação de toda a atividade sindical e da contratação coletiva do trabalho, através do também recém-criado Instituto Nacional do Trabalho e Previdência.

O clima repressivo de Salazar impediu que o acontecimento revolucionário que teve lugar na vila vidreira fosse mais um factor de incentivo.

Claro que as ações ocorridas como as greves de Almada, Barreiro, Silves, Sines, ou os atentados da Póvoa de Santa Iria, Chelas, Coimbra ou Barreiro,  foram igualmente importantes, mas bem menos.

Salazar foi brutal contra todos,

anarco-sindicalistas, comunistas, socialistas, carbonarios, ou sem partido.

Por isso foram parar ao campo de concentração do Tarrafal os envolvidos no 18 de Janeiro.

A importância dos acontecimentos da Marinha Grande resultam  do  levantamento insurrecional ser um movimento armado operário contra o regime ditatorial.

Os principais dirigentes sindicalistas eram afetos ao PCP e à Comissão Inter-Sindical, não obstante terem participado outras correntes, caso dos anarco-sindicalistas, e socialistas como mencionou o próprio José Gregório no seu Relatório.

A direção do movimento e a influência maioritária pertenceu ao Partido Comunista, como reconheceram os libertários Mário Castelhano e José Francisco, o socialista Edmundo Pedro, entre outros, para além dos próprios comunistas e até do regime salazarista.

O “Estado Novo”, omitiu, manipulou e adulterou os acontecimentos mas reconheceu-o como a ação mais grave, acusada de criada

pelo bolchevismo enfim a III Internacional.

À  Marinha Grande chegaram um leque de  tantas forças governamentais, para a ocuparem militarmente, da PSP, à GNR, a tropas de infantaria e artilharia, de caçadores, um esquadrão de cavalaria, elementos da PVDE e até a aviação sobrevoou a vila e o pinhal.

Em nenhuma outra localidade se viu um aparato bélico de tal intensidade em homens e material de guerra, cujo objetivo era o de esmagar um grupo de operários “bolchevistas” que tiveram a ousadia de se levantar em armas contra o regime.

Havia que atuar depressa e drasticamente para não criar precedentes.

Em consequência Salazar declarou que a ideologia “bolchevista” era  a “grande heresia” do século XX.

Um outro aspeto a salientar é que o 18 de Janeiro na Marinha Grande “consubstanciou e até ofuscou toda a restante história do concelho” como ainda hoje é reconhecido, o que está muito longe de acontecer em Silves, Almada ou Barreiro, onde as recordações do acontecimento já vagueiam nas brumas do esquecimento.

Em termos históricos, têm maior significado para Silves aspetos do período islâmico, a reconquista da cidade em 1189, ou mesmo a greve de 90 dias que ali se verificou entre os operários corticeiros, em 22 de Junho de 1924, provocando um morto e vários feridos do que o 18 de Janeiro de 1934.

Mas uma boa parte dos operários e da população que aderiram à revolta defendiam outro tipo de conceções, como o anarco-sindicalismo, o socialismo, o republicanismo carbonario ou outro, ainda que os seus principais protagonistas se identificavam com o PCP como José Gregório, Amarante Mendes, António Guerra, Manuel Baridó, Manuel Esteves de Carvalho, Augusto da Costa, Manuel Jubiléu, entre outros.

Bastava que estes homens, no fulgor e na alegria da vitória, vitoriassem, ou dessem vivas ao Partido Comunista, à União Soviética, à Internacional Comunista, ou mesmo ao alegado “soviete”, como mencionou “Alberto”, para que toda aquela gente correspondesse entusiasticamente.

É um facto que os elementos do PCP/CIS atuaram debaixo de conceções de “revolução social” dos anarquistas, mas também atuaram impregnados pela política de “classe contra classe” defendida pela Internacional Comunista.

Bento Gonçalves, atuando dentro dos parâmetros leninistas e analisando a conjuntura política em 1933/34, foi no entanto impotente para conduzir o partido no caminho das “greves e manifestações de massas”, como ele próprio afirmou, o qual se orientou em grande parte, na direção da “greve geral revolucionária”, pugnada pela CGT e pela CIS de José de Sousa. Todavia, o secretário-geral do PCP encontrava-se “refém” da política de “classe contra classe” aprovada pelo Komintern em 1928.

No âmbito da nova tática delineada pelo VII Congresso da Internacional Comunista ela foi “implacável” nas críticas à sua Secção Portuguesa, nomeadamente no que respeita à atuação no 18 de Janeiro.

Foi severamente criticada a cedência do Partido às conceções ideológicas do anarquismo por ter embarcado na chamada greve geral revolucionária, inclusive por se ter lançado na ação insurrecional da Marinha Grande, apresentando-a como um modelo de boa tática leninista, quando as condições no país se encontravam muito longe de uma situação revolucionária.

O Próprio Bento Gonçalves não foi poupado às críticas e ele, como homem da Internacional, atuou em conformidade fazendo a sua autocrítica em Duas Palavras.

Assim se explica, em parte, os “silêncios” a que o partido relegou os acontecimentos da vila vidreira.

No entanto, a revolta da Marinha Grande continuou a funcionar no consciente de uma parte do movimento operário português como um acontecimento mítico, em que, pela primeira vez na sua história, foi instituído um poder proletário de cariz socialista.

A Marinha Grande passou a funcionar como um poderoso mito, mais como um símbolo do que um facto em si próprio, como um modelo de poder proletário.