Apenas no ano passado, 295 milhões de pessoas, em 53 países e territórios, enfrentaram fome aguda, quase 14 milhões a mais em comparação com 2023.

Já o número de pessoas que enfrentam níveis catastróficos de fome, considerado o grau mais alto dentro da Classificação Integrada de Segurança Alimentar, atingiu um novo recorde, chegando a 1,9 milhões.

A desnutrição, particularmente entre as crianças, atingiu níveis extremamente altos na Faixa de Gaza, Mali, no Sudão e no Iêmen. Quase 38 milhões de menores de cinco anos ficaram gravemente desnutridas em 26 crises nutricionais espalhadas pelo globo.

O relatório mostra que conflitos, choques economicos, eventos climáticos extremos e deslocamento forçado reforçam a insegurança alimentar aguda, que atinge 22,6% da população avaliada.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que crises antigas estão a ser  agravadas pela recente “redução dramática no financiamento humanitário”, que inviabiliza a resposta a essas necessidades alimentares.

Para ele, isso é um sintoma inegável de que o mundo está “perigosamente fora dos trilhos”, num cenário que revela “falta de humanidade”.

O levantamento mostra que a fome persistirá em 2025, considerando o que provavelmente será a redução mais significativa no financiamento humanitário para crises alimentares e nutricionais na história do relatório, criado em 2016.

Entretanto, os conflitos continuam a ser  o principal fator de insegurança alimentar aguda, afetando cerca de 140 milhões de pessoas em 20 países e territórios.

A fome foi confirmada no Sudão e outros locais onde níveis catastróficos de insegurança alimentar foram registrados incluem a Faixa de Gaza, Sudão do Sul, Haiti e Mali.

O documento destaca um aumento acentuado da fome impulsionado pela crise de deslocamento.

Quase 95 milhões de pessoas que foram forçadas a fugir de suas casas estão a viver em países que enfrentam crises alimentares como a República Democrática do Congo, Colômbia, Sudão e Síria.

Os choques economicos, incluindo a inflação e a desvalorização da moeda, causaram a fome em 15 países, afetando 59,4 milhões de pessoas, quase o dobro dos níveis pré-covid-19.

Países como Afeganistão, Sudão do Sul, Síria e Iêmen abrigam algumas das maiores e mais prolongadas crises alimentares impulsionadas por fatores econômicos.

Já os eventos climáticos extremos, particularmente secas e inundações induzidas pelo El Niño, empurraram 18 países para crises alimentares que afetam mais de 96 milhões de pessoas, com impactos significativos na África Austral, Sul da Ásia e Chifre da África.

As recomendações para quebrar o ciclo de aumento da fome incluem redefinição da ajuda emergencial, com foco no protagonismo das comunidades afetadas, e investimento em sistemas alimentares locais e serviços de nutrição.

O relatório foi preparado com participação do Programa Mundial de Alimentos, WFP na sigla em inglês, A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, o Fundo da ONU para Infância, Unicef, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura, Ifad, o Banco Mundial e a Agência da ONU para Refugiados, Acnur.