Os verdadeiros motivos de Clemente II para decretar a condenação dos maçons eram de natureza político-administrativa, e não religiosa. Por essa razão, em muitos Estados, as Lojas Maçónicas foram proscritas e exiladas, sendo vistas como uma ameaça à segurança e estabilidade dos poderes dos reinos. Para justificar essa posição, recorreu-se a argumentos como o segredo inviolável praticado pelos maçons ou a união de homens de diferentes religiões, o que causava inquietação entre as autoridades.

Eis porque Clemente XII condenou a maçonaria, destacando o caráter secreto que a envolve e referindo ainda "outras causas justas conhecidas por Nós", sem, contudo, especificar quais seriam essas razões.

Há quem sugira que o verdadeiro motivo estaria relacionado à proibição do apoio católico à causa dos Stuart na tentativa de recuperar o trono perdido de Inglaterra, que havia passado para as mãos da dinastia protestante dos Hanôver — uma teoria que, no entanto, permanece sem comprovação.

No entanto, havia razões de Estado para condenar a maçonaria, e Clemente XII seguiu o exemplo de outros governos que se mostravam inquietos perante o ambiente de segredo e os juramentos que envolviam a maçonaria.

Nesse contexto, é interessante notar, como assinala o *Dicionário da Fé Católica*, que medidas repressivas contra a maçonaria foram adotadas até mesmo por magistrados protestantes, incluindo os da Holanda (em 1735), de Hamburgo, Suécia e Genebra (em 1738), de Zurique (em 1740) e de Berna (em 1743).

 

Para as autoridades dos governos da Europa Continental, tanto católicos como protestantes, a clandestinidade da maçonaria era motivo de inquietação, uma vez que os governos perdiam o controlo sobre as ideias e ações que emergiam nesse ambiente sigiloso. Assim, o verdadeiro cerne do confronto entre Roma e a maçonaria residia na preservação da segurança dos Estados absolutistas, enquanto o argumento teológico servia como uma justificação de aparência religiosa para tornar a maçonaria condenável aos olhos da sociedade.

Na realidade, a maçonaria não formulava nem defendia qualquer heresia, nem negava qualquer dogma, sendo que até mesmo as *Constituições de Anderson* não foram incluídas no *Index* pelo Santo Ofício.

 

O mais curioso e paradoxal na bula é que Clemente XII condenou a maçonaria por admitir indistintamente católicos e protestantes, quando, precisamente na Inglaterra antipapista e anticatólica, entre 1723 e 1738, a Franco-Maçonaria, longe de demonstrar hostilidade, era uma das poucas organizações que acolhia católicos. A prova disso é que, em 1729, Thomas, duque de Norfolk, um católico, foi nomeado Grão-Mestre da Inglaterra. O mesmo se verificava na Irlanda, onde os católicos, frequentemente perseguidos, encontraram nas lojas maçónicas um refúgio pacífico para se reunirem e, ao mesmo tempo, estabelecerem um contacto mais harmonioso com protestantes tolerantes.

Quando a  24 de Abril de 1738, o Papa Clemente XII publicou a Constituição Apostólica “In eminenti” e, pela primeira vez, a sociedade dos franco-maçons, foi rudemente atacada.

Eis alguns fragmentos desta Encíclica, em que o espírito retrógrado da Igreja Católica e o espírito progressivo da Maçonaria são claramente definidos.

“Os rumores públicos fizeram chegar até nós a extensão, o contágio e os progressos cada vez mais rápidos de certas sociedades, assembleias ou conventículos denominados de “Liberi Muratores” ou de “Franco-Maçons”, ou outro nome, de acordo com a variedade das línguas. Nestas sociedades, homens de todas as religiões e seitas, sob uma aparência de natural honestidade, entre si ligados por um pacto tão rigoroso como impenetrável, seguem leis e estatutos para seu uso, e comprometem-se por um juramento terrível, feito sobre a Bíblia, e sujeito a medonhos castigos, a guardar por um silêncio inviolável as práticas secretas da sua sociedade.
Portanto, considerando os grandes males que são normalmente o resultado deste tipo de sociedades ou conventículos, não apenas para a tranquilidade dos Estados como para a salvação das almas, considerando como estas sociedades estão em desacordo com as leis canónicas, resolvemos condenar estas ditas sociedades ou reuniões de franco-maçons: em consequência, e em virtude da santa obediência, ordenamos a todos e a cada um dos fiéis de Jesus Cristo que nenhum deles, seja sob que pretexto for, tenha a audácia de entrar nas sobreditas sociedades, de as favorecer, de as propagar, de as receber ou esconder em sua casa, de nelas tomar algum grau e de assistir às suas reuniões.
E mais, ordenamos que todos os bispos e prelados e os inquisidores procedam contra os transgressores, qualquer que seja o seu estado, condição ou dignidade, os reprimam e, se necessário, os punam com castigos merecidos, visto que eles são gravemente suspeitos de heresia”.

Mais tarde foram nascendo argumentos como o abaixo, “A heresia maçônica é uma heresia que está fundamentalmente alinhada com a heresia ariana", pois , "foi precisamente Ario que imaginou que Jesus era um Grande Arquiteto do Universo (como a maçonaria considera o Ser Supremo) negando a divindade de Cristo. É por isso que o Concílio de Nicéia, cujo 1700º aniversário celebraremos em breve, afirma com veemência a verdade sobre Jesus, que é gerado e não criado, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro".

Deus e não o 'Grande Arquiteto do Universo'

E é precisamente a ideia do "Arquiteto do Universo" ou do grande "Relojoeiro" defendida pela maçonaria que é incompatível com a ideia católica de Deus. "Porque", continua Staglianò, "essa ideia é fruto do raciocínio humano que tenta imaginar um deus, enquanto o Deus dos católicos é fruto da própria Revelação de Deus em Cristo Jesus. Em essência, é o fruto de um evento histórico no qual Deus se fez carne, aproximou-se dos homens, falou a todos os seres humanos e os destinou à sua salvação", enfim entramos na contestação à diversidade filosofico religiosa

Dom Staglianò afirma que "nossa fraternidade é estabelecida no sacramento do amor de Deus em Jesus, é estabelecida na Eucaristia, não apenas na ideia genérica de sermos irmãos". O mesmo raciocínio, acrescenta o prelado, pode ser aplicado à caridade cristã, que "não tem nada a ver com a filantropia maçônica. A caridade cristã corresponde ao evento histórico de um Deus que morreu e ressuscitou por nós e pede a seus filhos que não sejam meramente filantrópicos, mas que sejam, eventualmente, crucificados por amor", estranha visao de amor..

E depois o ridiculo sobre a total incompatibilidade entre ser católico e aderir à maçonaria, com o presidente da Pontifícia Academia de Teologia a inventar  que "dentro da maçonaria, são desenvolvidas tramas de poder oculto que estão em contradição com a ação cristã. Em suma, quando falamos de inconciliabilidade, estamos nos referindo a profundas contradições. Não podemos nem mesmo apelar para a oposição do teólogo Romano Guardini para dizer que eles podem estar juntos".

E depois vem a divergência baseada  no esoterismo que se insere  os ensinamentos maçônicos. "Mesmo no catolicismo", especifica dom Staglianò, "falamos de Mistério. Mas os Evangelhos nos dizem que o Mistério escondido ao longo dos séculos não deixa de ser Mistério, mas deixa de ser escondido. Porque o Mistério escondido ao longo dos séculos foi revelado".

E depois a última resposta do Dicastério para a Doutrina da Fé a um bispo das Filipinas, datada de 13 de novembro de 2023 e aprovada pelo Papa Francisco, na qual reitera que a associação ativa continua proibida: "Os fiéis", conclui, "que aderem às lojas maçônicas estão em um estado de pecado grave e não podem, absolutamente, ter acesso à Comunhão".

A negação da Igreja face às associações maçónicas permanece, argumentando-se que os  princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e, portanto, a adesão a elas permanece proibida.

Os fiéis que pertencem a associações maçónicas encontram-se em estado de pecado grave e, por isso, não podem aceder à Sagrada Comunhão. A oposição da Igreja à Franco-Maçonaria tem origem no caráter revolucionário das lojas, que historicamente eram vistas como células políticas associadas a republicanos e reformistas. Assim, a Igreja posicionou-se contra estas organizações como forma de defender o antigo regime absolutista, ao qual estava institucionalmente vinculada.

Nos tempos mais recentes, contudo, a crítica à maçonaria deslocou-se para o seu alegado papel na promoção do indiferentismo religioso — a ideia de que todas as religiões, ou mesmo nenhuma, têm igual validade, sendo unidas na maçonaria por um objetivo comum: alcançar um entendimento mais elevado da virtude.

Nesse contexto, é interessante recordar as palavras do Evangelho de João (14:2-7 NTLH): *"Na casa do meu Pai há muitos quartos, e eu vou preparar um lugar para vocês. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito."* Este versículo sugere uma visão de inclusão espiritual que contrasta com a crítica formal do Vaticano, revelando que o diálogo inter-religioso pode ser, muitas vezes, percebido como uma mera formalidade com fins de marketing religioso.

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