A ignorância de que aqui falo não é apenas a falta de conhecimento académico ou cultural — seria, talvez, uma falha desculpável, algo que a educação poderia remediar. Falo de um tipo de ignorância mais pernicioso: a recusa obstinada de aprender, a promoção de mentiras como verdades absolutas e o desprezo pelos factos e pelas evidências. O que vemos é uma tentativa sistemática de moldar a realidade a um guião de histeria coletiva, onde a ciência é substituída por "opiniões pessoais" e o debate público por gritaria raivosa.
Quando desafiados a aprofundar os seus argumentos, a resposta é quase sempre o insulto ou a fuga para ideias ainda mais delirantes. “O que é isso do Estado de Direito?”, perguntam com arrogância. “Liberdade de expressão é só para mim”, gritam, enquanto pedem a censura de tudo o que contrarie as suas visões. A sua incapacidade de entender os princípios mais elementares de justiça, igualdade e respeito pelos direitos dos outros só é superada pela sua hipocrisia em usar esses mesmos conceitos para promover as suas agendas de ódio e divisão.
A sua visão de mundo é de tal maneira simplista que divide as pessoas entre “nós” e “eles”, ignorando a vasta teia de interdependências que define a nossa sociedade. Não reconhecem que o desenvolvimento de um país depende de ideias inovadoras, de inclusão e de um ambiente de respeito mútuo. Em vez disso, defendem muros, barreiras e a exclusão de todos aqueles que não se encaixam na sua visão monocromática do mundo.
Pior do que a sua falta de capacidade intelectual é o seu impacto nocivo na sociedade. A extrema-direita quer reverter conquistas fundamentais da civilização — direitos das mulheres, igualdade racial, liberdade religiosa — e reinstaurar um sistema baseado na discriminação, na opressão e na desigualdade. Não se trata de conservadorismo no sentido clássico; trata-se de um retrocesso civilizacional.
Em Portugal, a extrema-direita procura legitimidade utilizando palavras como “tradição”, “soberania” e “segurança”, mas a verdade é que estas palavras são apenas fachadas para o seu desprezo pela democracia e pelo Estado de Direito. As suas propostas, quando existem, são desprovidas de consistência ou valor. O que oferecem é um teatro de sombras, onde a raiva ocupa o lugar da razão e o ressentimento é elevado a política de Estado.
Os seus líderes aproveitam-se das vulnerabilidades sociais, manipulando-as para criar um inimigo imaginário: os imigrantes, as minorias, as instituições democráticas. São incapazes de oferecer soluções reais e sustentáveis para os problemas que afetam a sociedade, como a desigualdade económica ou o envelhecimento populacional. Em vez disso, escolhem demonizar e destruir, numa espécie de niilismo político que só traz mais instabilidade e sofrimento.
A única resposta possível é a educação, o respeito pelos direitos fundamentais e a promoção de uma sociedade aberta e inclusiva. A história já nos ensinou, e com um preço terrível, que o caminho da intolerância e da exclusão só conduz ao caos e à destruição.
Portugal merece mais do que os gritos furiosos e as soluções simplistas de uma franja ignorante que, de tão agarrada ao passado, se tornou incapaz de ver o futuro. Para prosperar, o nosso país precisa de ideias novas, de diálogo e de um compromisso com a verdade e o progresso. A ignorância jamais deve ser o motor do nosso destino coletivo.