A Habitação que "muitos agregados não conseguirão pagar"

Na realidade finalmente se abrem os olhos para a realidade e se constata que a medida que atribui uma garantia pública ao crédito à habitação dos jovens é positiva mas não resolve o essencial havendo que defender mais atuação do lado da oferta de casas.

Via a Lusa se sabe que o analista da corretora XTB, Henrique Tomé, considera que a medida "alivia (muito) o esforço financeiro dos jovens" ao comprarem a habitação própria mas que para muitos o valor das prestações será ainda elevado, tendo em conta o alto preço das casas e o financiamento de que necessitam.

Desta forma existirão "muitos agregados que não conseguirão pagar o valor das prestações sem se colocarem numa situação financeira apertada mesmo com esta ajuda por parte do Estado".

Para Henrique Tomé esta medida incorre ainda em outros riscos, "como a dependência de apoios do Estado das famílias" e considerou ainda que, se não for bem ajustada, "pode beneficiar desproporcionalmente os jovens com rendimentos mais altos que têm maior capacidade de se comprometer com um crédito", em vez de apoiar quem realmente necessita.

Também o economista sénior do Banco Carregosa Paulo Monteiro Rosa a garantia pública no crédito à habitação permite "a muitos jovens sem poupança superarem a atual exigência dos bancos de 10% de entrada na compra de casa" e beneficiarem de um financiamento a 100%, ficando o Estado fiador de 15% (sendo acionado pelo banco em caso de incumprimento).

Mas claro que "sem uma atuação também do lado da oferta", desde logo incentivando as construturas civis a aumentarem significativamente o parque habitacional (que considera o principal problema da subida dos preços), a medida "pode perder eficácia".

Assim, a falta de casas é referida por todos os analistas contactados pela Lusa.

O economista da Deco Nuno Rico considerou que, no atual momento de crise da habitação, qualquer medida é positiva e que a garantia pública (e isenção de IMT e Imposto do Selo) vem ajudar jovens que têm mais dificuldade por não conseguirem poupança acumulada para a entrada e custos iniciais.

Para uma casa de 200 mil euros, exemplificou, o comprador precisa de 20 a 25 mil euros iniciais.

Ainda assim, a medida não chega a todos os que querem beneficiar, dados os altos preços das casas e os baixos salários (três em cada quatro pessoas até 35 anos ganham menos de 1.000 euros líquidos).

Por isso. o comprador pode não ter capacidade de cumprir os critérios de taxas de esforço (em geral, não deve despender mais de 50% do rendimento mensal com a prestação da casa ao banco).

Para uma casa de 200 mil euros estimou que a prestação supere os 900 euros mensais.

Nuno Rico alertou ainda para o risco de sobreendividamento e haver jovens que avancem para a compra quando prefeririam arrendar o que para pessoas jovens que ainda estão a entrar no mercado de trabalho, com instabilidade laboral, estar já a comprar casa pode ser passo muito precoce e que deveria ser estimulado o mercado de arrendamento para essa poder ser a opção.

Joffre Justino